Vírus do feijão é utilizado com sucesso em terapia contra o câncer

Um estudo feito nos Estados Unidos injetou o vírus do feijão-de-corda inativo em tumores de cães, desencadeando uma resposta imunológica que pode ser aplicada também em humanos
Renato Mota06/10/2020 21h57

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Uma das bases da alimentação do brasileiro, o feijão-de-corda (feijão-fradinho ou macáçar, dependendo da sua região) pode também ser uma ferramenta no tratamento do câncer. Isso porque um vírus comum no grão, quando injetado nos tumores, desencadeia uma resposta imunológica que se mostrou muito eficiente em cães e ratos – e possivelmente em humanos.

O vírus do feijão-de-corda (cowpea mosaic virus, ou CPMV) causa nas plantas necrose na extremidade superior do caule, morte dos brotos terminais e queda prematura das folhas, de acordo com a Embrapa. Mas não se replica em mamíferos e tem sido usado pelo especialista em radiação veterinária Jack Hoopes em uma terapia experimental em cães.

O estudo foi conduzido no Dartmouth College, em New Hampshire (EUA), em pacientes com câncer oral. De acordo com Hoopes, vários cães viram seus tumores totalmente desaparecidos e viveram uma vida longa e natural –  sem a volta do câncer – após o tratamento. “Se um tratamento funciona no câncer de cachorro, tem uma boa chance de funcionar, em algum nível, em pacientes humanos”, acredita o veterinário.

Há décadas, oncologistas do mundo todo tentam desenvolver um tratamento que ajude o sistema imunológico do corpo a reconhecer as células cancerosas – e assim combatê-las. Hoopes espera que o vírus do feijão possa ajudar nesse campo. O sistema imunológico do cão reconhece os vírus inativados como corpos estranhos e entra em modo de ataque, destruindo as partículas e levando as células cancerosas com elas.

Thamizhpparithi Maari/Wikimedia Commons

Feijão-de-corda. Imagem: Thamizhpparithi Maari/Wikimedia Commons

A pesquisa injetou 200 microgramas de partículas semelhantes ao vírus (que não são os vírus vivos), nos tumores dos caninos – em paralelo à terapia de radiação padrão. Nos testes, o CPMV provou ser mais eficaz do que qualquer outro patógeno que os pesquisadores tentaram até agora. “Funcionou melhor do que a radiação por si só, o que é um grande fator positivo para nós. O sistema imunológico é mais poderoso do que pensávamos”, conta Hoopes.

Uma pesquisa de 2015, publicada na Nature Nanotechnology, já relatava com sucesso o uso do vírus do feijão no tratamento de tumores de mama, ovário, melanoma e cólon em camundongos. Em todos os modelos testados, a terapia viral vegetal reduziu a taxa de crescimento do tumor – em alguns casos chegando entre 50% a 100% ao longo de duas semanas.

Além disso, o vírus criou uma memória imunológica na maioria dos camundongos, o que significava que, uma vez que o tumor desaparecesse, o câncer dificilmente voltaria. Dois dos pesquisadores desse estudo, o imunologista Steve Fiering e a engenheira Nicole Steinmetz se juntaram a Hoopes para começar a testar a terapia viral de plantas nos cães que estavam em tratamento.

“O cachorro é um modelo incrível, porque eles compartilham o mesmo ambiente que os humanos”, diz Hoopes. “É o melhor modelo fora dos pacientes humanos”, completa. Cães, como as pessoas, também recebem uma combinação de diferentes terapias contra o câncer.

Na pesquisa, a combinação de radiação e injeções virais foi mais eficaz do que a radiação sozinha. Para os cientistas, embora a terapia viral certamente não seja a cura para o câncer, ela tem o potencial de melhorar as taxas de sobrevivência quando usada em conjunto com outras terapias.

Via: Wired

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital