A tarefa era testar a rede do Correios Celular, uma operadora móvel virtual (Mobile Virtual Network Operator – MVNO). De cara, entrei no site para procurar mais informações. Lá, não há muita coisa. A área que mostra onde comprar o chip, por exemplo, só tem classificação por estado. Depois, é preciso procurar manualmente em uma pretensa ordem alfabética — o que não ajuda muito, já que é preciso saber ‘o nome’ da unidade em que se pretende fazer a compra.
Como não encontrei local próximo à redação do Olhar Digital para adquiri-lo, decidi enviar uma mensagem para o WhatsApp informado no site da operadora — o (11) 92000-2020 — para perguntar qual seria o local mais próximo para efetuar a compra. Isso foi em 25 de março, às 17h11. Até hoje, no momento da publicação deste texto, não recebi resposta. Confesso que foi uma experiência bastante frustrante. Como cliente, senti-me abandonada.
Escolhi, então, uma unidade conveniente para mim na grande São Paulo. O processo foi simples e rápido: como o lugar estava vazio, a compra não levou mais do que 2 minutos.
— Olá, queria um chip de celular.
— Qual pacote?
— O de R$ 60 (6GB de internet, com minutos ilimitados para telefones fixos e celulares de qualquer operadora e DDD).
… alguns segundos depois…
— São R$ 70 (R$ 10 do SIM card e R$ 60 do plano).
— Aqui está. Obrigada!
O chip vem em três tamanhos diferentes já cortados previamente. Assim, pode ser usado tanto em aparelhos um pouco mais antigos, que ainda comportam o modelo mini-SIM, quanto em smartphones mais atuais, que requerem o nano-SIM — além de servir naqueles que adotam o micro-SIM. A instalação no celular é comum, como o chip de qualquer operadora: basta inseri-lo na gaveta apropriada.
O primeiro passo é configurar a internet
Quando o SIM card é instalado no aparelho, imediatamente o cliente recebe uma mensagem. Ela informa o número do telefone (ele não vem discriminado no pacote do chip) e diz que, para configurar a internet, é necessário ligar para *288.
Esse não é um procedimento comum nas operadoras convencionais em que, normalmente, a configuração ocorre automaticamente. Talvez ele seja necessário porque o Correios Celular é uma operadora móvel virtual (Mobile Virtual Network Operator – MVNO), um modelo de operação que aluga a infraestrutura das companhias tradicionais em vez de ter sua própria rede.
Bom, quando se liga para o número indicado, descobre-se que os atendentes aparentemente não sabem que essa mensagem é enviada aos clientes. “Boa tarde, senhora. Já configurou sua internet?” é a pergunta que fazem ao atender a ligação. “Não. Recebi uma mensagem informando que devia ligar nesse número para fazer justamente isso” foi minha resposta. “Ah, tudo bem.”
Nesse contato, a ligação em si, em termos de sinal, era bem ruim. Foram necessárias cinco tentativas para conseguir obter orientação. Nas primeiras chamadas, os atendentes não me ouviam satisfatoriamente.
Quando consegui ser ouvida, infelizmente não foi possível configurar meu aparelho. Isso porque uso um Le Eco Le Max 2 — um celular chinês pouco conhecido por aqui e que não consta nos manuais do Correios Celular. Só consegui descobrir como ajustar meu dispositivo diretamente na página da operadora, em “Configure sua internet”.
Embora as instruções sejam genéricas (apresentadas em um modelo da Samsung), foi mais fácil estabelecer um paralelo entre as opções mostradas e as que deveriam ser ajustadas no meu smartphone. São oito passos, que foram percorridos em poucos segundos e finalmente me colocaram online.
Aqui, preciso ressaltar uma vantagem do Le Max 2: ele é um modelo dual chip e permite que se escolha qual rede vai ser usada para cada atividade. Então, optei por usar a internet do Correios Celular, prosseguir com minha rede pessoal para o envio de mensagens (e manter meu WhatsApp em funcionamento) e deixar que as ligações telefônicas fossem definidas no momento de uso (assim, poderia usar a que fosse mais conveniente para interações desse tipo). Nem todos os aparelhos oferecem essa possibilidade.
Correios Celular em uso
Depois da configuração da internet, o uso ficou bem simples — assim como ocorre com qualquer operadora. Naveguei na internet, enviei e recebi e-mails, usei diferentes aplicativos, fiz downloads e uploads, assisti a títulos diversos na Netflix e até fiz compras online. Na maioria das vezes, essas atividades foram executadas sem intercorrências ou dificuldades, mas é preciso alertar que, em algumas localidades (o serviço foi usado sempre em São Paulo e região metropolitana), há extensas áreas de sombra em que a internet fica fora do ar.
A rede usada pelo Correios Celular é da EuTV, que funciona nas frequências da TIM. A EuTV é uma MVNO, que atua sob o nome Surf Telecom — ou seja, o Correios Celular é uma MVNO que usa a estrutura de outra MVNO. A EuTV detém uma faixa de 2,5 GHz na região metropolitana de São Paulo e seu contrato com a TIM permite que ela use a estrutura e as frequências de 2G, 3G e 4G. No próprio site do Correios Celular, no menu “Cobertura”, o usuário é enviado para a página da TIM — que mostra as antenas da empresa espalhadas pelo país. Além disso, a operadora informa que tem a maior cobertura 4G nacional.
Em testes de velocidade feitos em diferentes apps, os resultados foram muito díspares: variaram de centenas de quilobits a alguns megabits por segundo em redes 4G. Quando considerada a experiência de uso, entretanto, é razoável dizer que a velocidade fica próxima de 3Mbps (como indicado em alguns aplicativos de medição de velocidade) — o que, em termos de 4G, é bastante aceitável.
Vale lembrar que a operadora promete alta velocidade em todos os seus planos. Como referência, ela usa os seguintes valores:
- em redes 3G: 1Mbps para download e 100Kbps para upload;
- nas redes 4G: 5Mbps para download e 500Kbps para upload.
O problema maior é a instabilidade. Ela pode ser explicada, em parte, pelo fato de o Correios Celular ser uma MVNO. No site da operadora, há a informação de que a velocidade pode ter oscilações conforme as condições de uso e que pode haver impacto de acordo com o “número de clientes que utilizarem ao mesmo tempo a cobertura provida pela mesma Estação Rádio Base (ERB)”. Imagine, então, que estão ali os clientes da provedora (no caso, a TIM), os de outras operadoras com as quais ela tem acordos, os da EuTV (que pode alugar sua rede a outras MVNOs) e os do próprio Correios Celular: é como se a largura de banda disponível estreitasse a cada uma dessas camadas.
De forma geral, o serviço do Correios Celular é aceitável, mas o fato de haver muitas áreas de sombra e uma instabilidade considerável pode ser incômodo. Além disso, o preço é alto: para ter 6GB disponíveis para dados em conjunto com ligações ilimitadas, o custo é R$ 60. A depender do uso que se faça, pode ser interessante escolher um plano mais barato. Vale, ainda assim, pesquisar preços em outras operadoras disponíveis na sua localidade.