Vacina da Johnson & Johnson protege macacos com uma dose e avança a testes com humanos

Dose única amenizaria os gigantes desafios logísticos de produção e distribuição de uma vacina para a população mundial
Renato Santino30/07/2020 20h04, atualizada em 30/07/2020 20h07

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Mais uma vacina contra Covid-19 está entrando em fase de testes com humanos. A Janssen, braço farmacêutico da gigante Johnson & Johnson, confirmou que iniciará os experimentos clínicos de sua fórmula após alcançar respostas bastante positivas em estudos com macacos.

Apesar do relativo atraso em comparação com outras vacinas, a empresa tem a seu favor uma vantagem: o efeito imunizante foi alcançado com apenas uma dose, enquanto a maioria depende de duas aplicações. Isso faria uma diferença gigantesca na questão logística da vacina, já que reduziria pela metade a produção, reduzindo dificuldades de transporte e o uso de equipamentos descartáveis como seringas e frascos, que podem enfrentar escassez diante da altíssima demanda.

Nesta quinta-feira, foi publicado na Nature o resultado da fase pré-clínica da vacina com macacos rhesus. Os animais foram submetidos a uma dose única do composto e depois foram expostos diretamente ao vírus; neste processo, a vacina se mostrou capaz de proteger de forma “quase completa” as 52 cobaias.

Com esses dados animadores, os pesquisadores agora devem atravessar as já famosas três fases de testes clínicos: a primeira, com um pequeno grupo de pessoas, para atestar a segurança; a segunda, com um grupo maior de algumas centenas de voluntários, para obter mais dados de segurança e confirmar se a vacina produz a resposta imunológica esperada e, finalmente, na fase 3, averiguar se essa resposta realmente é capaz de proteger seres humanos de se infectarem e desenvolverem a Covid-19, o que envolve milhares de participantes.

A vacina da Janssen utiliza uma técnica que até hoje não é aplicada em nenhum outro composto em uso ativo no mundo. Assim como Oxford e CanSino, a empresa aposta em uma tecnologia de vetor viral, que utiliza um outro vírus, um adenovírus inofensivo para seres humanos, geneticamente alterado para manifestar a proteína “spike” utiliza pelo coronavírus para atacar as células. A ideia é dar ao corpo a possibilidade de criar a resposta contra a proteína antes de uma infecção pelo vírus real.

Apesar da vantagem da imunização com apenas uma dose, neste momento há outras vacinas que estão em fases muito mais avançadas de testes, e que podem seguir para utilização em humanos mesmo necessitando de aplicação dupla. A Organização Mundial neste momento cataloga cinco pesquisas na fase final de testes: a britânica de Oxford/AstraZeneca, as chinesas da Sinovac e da Sinopharm, a americana da Moderna e a alemã-americana da BioNTech/Pfizer. A chinesa CanSino também está em vias de avançar à fase 3, assim como a polêmica vacina russa do instituto Gamaleya.

Para tentar realizar a fase 3 o mais rápido possível, muitas dessas pesquisas estão sendo realizadas internacionalmente, com a utilização de voluntários de vários países, especialmente em regiões onde o vírus ainda está fora de controle, como é o caso do Brasil. Não é à toa que quatro das vacinas mais avançadas fecharam acordos para testes em brasileiros, incluindo Oxford, Sinovac, Pfizer e Sinopharm.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital