No ano passado, Mark Zuckerberg revelou ao mundo um plano ambicioso: unir o Facebook Messenger, do WhatsApp e do Instagram Direct em uma só plataforma de chat, permitindo que usuários de um serviço conversem com usuários do outro livremente. Tudo isso protegido por criptografia pesada de ponta a ponta, com o objetivo de finalmente proporcionar alguma privacidade aos usuários. No entanto, o projeto parece estar se mostrando consideravelmente mais complexo do que a companhia previa.
Jon Millican, engenheiro de software do Facebook encarregado da privacidade do Messenger, contou em uma apresentação na conferência Real World Crypto contou que a implementação de criptografia de ponta a ponta tem se provado um desafio. Após admitir esse problema, ele comentou que deve demorar alguns anos até que usuários possam aproveitar o recurso, como relata a Wired.
“Eu serei honesto e assumir que estamos em uma posição em que temos mais perguntas do que resposta. Apesar de termos feito progresso no planejamento, acontece que incluir criptografia de ponta a ponta em um sistema já existente é incrivelmente desafiador e envolve repensar fundamentalmente quase tudo”, ele afirmou.
Atualmente, o Messenger possui um modo de criptografia de ponta a ponta, embora ele seja pouco usado. A função é chamada de “Conversas secretas” e está escondida nas configurações do aplicativo, e só pode ser usada pelo celular. São conversas separadas daquelas que você mantém com seu contato, com alguns recursos extras, como a programação de mensagens que se autodestroem após um período determinado.
No entanto, quando se trata de criptografar o resto do serviço, a questão é consideravelmente mais complicada. “Estamos diante de um processo de repensar e redesenhar o produto inteiro. Não estamos apenas adicionando criptografia de ponta a ponta em um produto; estamos construindo um produto criptografado de ponta a ponta”, diz Millican.
Essas dificuldades significam que o sonho de Mark Zuckerberg em unificar seus aplicativos também está longe de se concretiza, já que essa união só poderia ocorrer após todos os aplicativos estarem preparados para a criptografia.
Vale notar, no entanto, que o Facebook já possui um histórico de implementar criptografia de ponta a ponta em um serviço já existente: o WhatsApp, que existe desde 2009, mas só adotou o recurso em 2016. Millican, no entanto, nota que o processo também levou anos, com a única diferença de não ter sido exposto ao público antes de estar pronto. O WhatsApp também é consideravelmente mais simples que o Messenger, funcionando em apenas um dispositivo. O Messenger, por sua vez, possui vários recursos que, da forma como funcionam hoje, dependem de comunicação com servidores do Facebook, que precisam compreender o conteúdo da comunicação, o que inclui chamadas de vídeo, mensagens em grupo, pagamentos e outras funções. Para implementar essas funções em um ambiente criptografado, os recursos devem ser processados localmente para serem transmitidos entre usuários sem serem analisados pelos servidores da empresa.