Uber cobrava ‘taxa de segurança’ que não era destinada à segurança

Valor prometia ajudar nos custos ligados à proteção dos passageiros e motoristas, mas apenas aumentavam as margens da empresa
Renato Santino23/08/2019 18h10, atualizada em 23/08/2019 18h15

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Se a Uber cobrasse de você uma taxa de US$ 1 com o nome de “taxa de corridas seguras”, você imaginaria que o valor seria destinado à segurança dos passageiros e dos motoristas? Pois seu pensamento estaria errado. Em 2014, a empresa fez exatamente isso, mas a única coisa que a quantia extra fazia era aumentar a margem de lucro de cada viagem, segundo o recém-lançado livro “Super Pumped: The Battle for Uber”, do repórter Mike Isaac, do New York Times.

O repórter conseguiu contatar ex-funcionários que explicaram um pouco melhor o que era essa tarifa extra. A empresa afirmava que o objetivo era bancar custos operacionais relacionados a segurança, como campanhas de marketing, investigação de antecedentes de motoristas, melhorias na tecnologia e respostas em incidentes. Isso faria a Uber uma opção “mais segura” que seus concorrentes.

Na realidade, seu programa de segurança era composto apenas de um vídeos instrucionais para os motoristas. Segundo o ex-funcionário contatado por Isaac, a prática não era muito bem vista nem mesmo internamente. “Nós ampliamos nossas margens dizendo que nossas corridas eram mais seguras. Era obsceno”.

A taxa variava de região para região e vinha descrita no recibo. Em 2016, quando eu estive em Las Vegas, uma corrida de US$ 16 tinha embutida uma “taxa de corridas seguras” de US$ 1,70. Em San Francisco, esse valor era de US$ 1,35, enquanto em Los Angeles o custo era de US$ 1,65.

Só alguns anos depois o aplicativo viria a receber funções de segurança, como um botão de emergência para acionar a polícia, e o público percebeu que estava pagando por uma segurança extra que, na prática, não existia. O resultado levou a Uber aos tribunais em 2016, onde a empresa fechou um acordo de US$ 28,5 milhões para encerrar a acusação de que estaria anunciando seus recursos de segurança de forma inapropriada.

A empresa deixou de incluir a “taxa de corridas seguras” no preço, mas não parou de cobrar o valor; a única mudança foi uma mudança no nome, que passou a se chamar “Booking Fee”, que virou “Custo Fixo”.  No Brasil, não há registros de que em algum momento essa “taxa de corridas seguras” chegou a ser cobrada, mas o “custo fixo” pode ser encontrados no preço das corridas até hoje, inclusive aqui no Brasil.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital