Em apenas cinco anos de vida, o Moto G já passou pelas mãos de pelo menos três empresas diferentes. Em primeiro lugar, a Motorola, que é dona da marca e continua assim até hoje. Em segundo lugar pela dona da Motorola, que de 2013 a 2014 foi o Google e que desde 2015 é a Lenovo.
É difícil saber como essas mudanças afetam o desenvolvimento do produto final, especialmente porque os ciclos de produção de smartphones levam de dois a três anos para serem concluídos. Mas é nítido o quanto o Moto G mudou desde sua primeira geração até hoje.
Em março deste ano, a Motorola lançou o Moto G5, quinta geração de seu smartphone mais popular. Se no ano passado a empresa apostou numa família com três dispositivos diferentes, neste ano ela foi bem mais econômica: apenas duas versões, o Moto G5 e o Moto G5 Plus.
Passamos algumas semanas com o Moto G5 Plus, versão mais potente do celular, para testes na redação. O que nós achamos do aparelho você confere nos parágrafos abaixo.
Design
De todas as mudanças que essa quinta geração traz à linha Moto G, a mais óbvia e chocante é a mudança de design. Da primeira até a terceira geração, o aparelho seguiu uma identidade bem clara, com uma proposta mais despojada, prática e autêntica. Era fácil identificar um Moto G só de olhar para ele em um mercado abarrotado de opções mais ou menos iguais.
No Moto G4 as coisas mudaram um pouco, mas boa parte daquela linguagem despojada e autêntica permaneceu. Só não se pode dizer o mesmo do Moto G5. A Motorola decidiu apostar num corpo em metal para dar um ar de mais sofisticação e resistência ao aparelho, largando mão do plástico e borracha das edições anteriores.
O resultado é um celular de design genérico, pouco inspirado e que parece muito um aparelho chinês baratinho, do tipo que se pode importar por menos de R$ 800. Mais do que isso, o Moto G5 Plus parece ter levado como referência o que havia de pior do design dos celulares mais baratos da Samsung de alguns anos atrás, hoje sua principal rival.
O caso é que, enquanto a coreana resolveu apostar em linhas mais elegantes e arranjos mais simples no Galaxy J (culminando no belo Galaxy J7 Prime), a Motorola decidiu voltar aos contornos gravemente arredondados e ao polimento sem cor do passado da Samsung. Hoje seria fácil confundir o Moto G com um Galaxy Win de cinco anos atrás.
Há alguns detalhes que chamam mais a atenção, como um leve e discreto contorno de alumínio nas bordas da parte da frente e na traseira. O relevo sobre o logotipo e o realce na área da câmera também fazem o Moto G5 lembrar o seu irmão mais velho (e mais potente) Moto Z. Mas enquanto este se destacava pela originalidade (e coragem) estética, o Moto G parece apenas um aparelho eletrônico qualquer.
É claro que valores estéticos podem mudar muito de usuário para usuário. O que não me agradou pode muito bem agradar qualquer outra pessoa. Há quem se preocupe mais com ergonomia, por exemplo, e nesse quesito o Moto G5 Plus não deixa a desejar. O aparelho é leve e pode ser facilmente usado com uma só mão, oferecendo ainda uma boa “pegada” graças ao metal curvado nas bordas traseiras.
Fato é que, visualmente, o Moto G mudou muito nessa quinta geração. É difícil entender como a versão do ano passado evoluiu para esta deixando tanto da sua tradicional linguagem de design pelo caminho. Mas, como dizem, aparência não é tudo.
Software
Como se não bastasse um design pouco inspirado no hardware, é igualmente difícil elogiar as soluções visuais do software do Moto G5 Plus. O plano de fundo padrão polui, e muito, a visualização dos itens na tela, e, para piorar, o Android 7.0 Nougat instalado não é mais tão puro quanto o Android de outros aparelhos da Motorola.
Não há modificações desnecessárias nos menus ou no app de configurações, mas a tela inicial, em si, não é mais a mesma. Sai o Google Now e entra uma versão customizada da Pixel launcher, a mesma interface inicial do Pixel, smartphone do Google.
Não é exatamente a mesma launcher, mas é parecida. Isso significa que a gaveta de apps não fica mais acessível num ícone redondo cheio de pontinhos no centro da barra inferior. Em vez disso, basta deslizar o dedo sobre a tela de baixo para cima para ver onde estão os seus aplicativos instalados.
A mudança é incômoda para quem está acostumado com a experiência pura de um Android como a dos outros celulares da Motorola, mas também é uma mudança estética que pode muito bem passar despercebida pela maioria dos usuários. Afinal, o que importa mesmo é o impacto disso no desempenho.
Assim como no passado, o Moto G5 Plus vem livre de bloatware – isto é, aqueles aplicativos pré-instalados que normalmente acabam ignorados pelo usuário. O único app da Motorola encontrado nele é um chamado simplesmente Moto, e que permite ao usuário customizar algumas de suas interações.
Basicamente, essas interações (que a fabricante chama de “experiências Moto”) incluem um sensor de gestos sob o leitor de impressões digitais (que funciona bem, aliás) e um sistema de display always-on. Esse sensor de gestos permite que o usuário tire da tela aqueles três botões de navegação (voltar, início e apps recentes) e os transforme em toques no leitor de biometria.
Com essa função ativada, você pode voltar para a tela anterior com um deslize no leitor biométrico da esquerda para a direita; e ir para a tela inicial com apenas um toque no mesmo sensor. Não é um sistema muito intuitivo, mas pelo menos dá alguma utilidade ao sensor que, na geração passada, só servia para alongar o Moto G.
Esse recurso também libera mais espaço útil na tela e faz com que as 5,2 polegadas do display pareçam maiores. Em termos de software, portanto, o Moto G5 Plus consegue ser o Android mais purista que se pode comprar oficialmente no Brasil na sua faixa de preço. Uma pena, porém, que não seja o verdadeiro Android puro que a Motorola usou no passado.
Tela e som
Outro elemento que chama a atenção no Moto G5 Plus é a tela. A Motorola decidiu voltar atrás em termos de tamanho e abandonou as 5,5 polegadas do G4 Plus por razoáveis 5,2 polegadas na nova geração. Uma mudança positiva, especialmente em termos de usabilidade, e que não sacrifica a qualidade do display.
A tela tem resolução Full HD e 424 pixels por polegada, o que garante mais detalhes às imagens. Em ambientes externos, sob a forte luz do sol, não é tão fácil enxergar o conteúdo da tela – mesmo com a luminosidade mais alta possível. Por outro lado, o ângulo de visão oferecido é bem satisfatório.
Por padrão, o celular vem no modo de cor “Intensidade”, que garante cores mais quentes e contrastes mais acentuados. Para uma tela desse tamanho, talvez não seja a configuração ideal, poque a intensidade de cores mais quentes, como o vermelho, acaba “vazando” para o branco e deixando toda a tela com um aspecto mais alaranjado do que o normal.
Estes não são termos técnicos, é bom deixar claro: trata-se apenas da minha percepção. Comparando a tela do G5 Plus com a do G4 Plus, por exemplo, é fácil notar como o branco na nova geração parece mais avermelhado do que o normal. No modo de cor padrão, a temperatura cai e as cores parecem um pouco mais realistas.
De todo modo, o que mais incomoda não é a tela em si, mas sim o som que a acompanha: apenas uma saída de áudio mono se encontra na parte da frente, deixando a experiência multimídia consideravelmente menos empolgante.
Performance e bateria
No fim do dia, porém, o que conta mesmo em um smartphone é a performance. Todos os problemas podem ser esquecidos se o aparelho for rápido, confiável e fizer bom uso de sua bateria. Felizmente, o Moto G5 Plus não decepciona nesse quesito.
O processador é um Snapdragon 625, o mesmo usado no Moto Z Play, que é mais caro, e impressiona pela boa relação entre potência e baixo consumo de energia. Acompanha o chipset um conjunto de 2 GB de RAM, que até parece pouco para um Android em 2017, mas não nos deixou na mão nos nossos testes.
Na verdade, o desempenho do Moto G5 Plus com games é um dos seus pontos altos. Mesmo naqueles mais pesados, como “Asphalt 8: Airborne” e “Modern Combat”, não encontramos qualquer engasgo, travamento ou queda grave de frame rate. O mesmo vale para jogos mais populares, como “Sonic Dash” e “Subway Surfers”.
Apesar disso, não se engane: 2 GB de RAM é pouco para quem pretende manter seu celular por alguns anos. É bem provável que não seja suficiente para uma experiência lisa quando o Google lançar a próxima versão do Android. Além disso, vez ou outra é possível notar que os apps demoram alguns milésimos a mais para abrir quando estamos alternando rapidamente entre múltiplas tarefas.
Se você prefere uma análise mais fria, aqui está a nota do celular em aplicativos de avaliação de desempenho: no AnTuTu, o G5 Plus fez 62.759 pontos, enquanto que, no Geekbench, fez 790 pontos em single-core e 3.843 pontos em multi-core. Um resultado de acordo com sua faixa de preço e especificações.
E assim como o desempenho, a bateria do Moto G5 Plus também merece destaque. São 3.000 mAh que demoram bastante para acabar, especialmente graças às otimizações de software e ao Snapdragon 625. Isso significa, na prática, que mesmo usando-o intensamente por uma hora sem interrupção (incluindo navegação na web, redes sociais e streaming), o celular perde menos de 20% da sua carga.
Parado durante toda a noite, com apenas o Wi-Fi ativado, somente 2% são perdidos. Em outras palavras, o Moto G5 Plus é um raro caso de celular intermediário com bateria digna de um modelo mais caro, com fôlego para trabalhar incansavelmente o dia todo em uso regular.
Câmera
Outro ponto que sempre desequilibra a avaliação de um smartphone é a câmera. Nesse ponto, nossa experiência com o Moto G5 Plus foi satisfatória, mas não a melhor possível. O sensor principal tem 12 megapixels com abertura f/1.7, enquanto o frontal tem 5 megapixels e abertura f/2.2.
As fotos tiradas com o G5 Plus estouram um pouco a luz branca, tanto em ambientes internos quanto externos. As cores, em geral, não são das mais fiéis, e com frequência aparecem mais frias do que são na realidade. Por outro lado, o nível de detalhe impressiona para um aparelho desta faixa de preço, especialmente graças aos fortes contornos.
Curiosamente, a câmera do Moto G4 Plus, do ano passado, não tem os mesmos defeitos, apesar de falhar nos detalhes das imagens. O resultado é que o G5 Plus tem uma câmera traseira razoável, que poderia ser melhor em alguns pontos, mas que não deixa a desejar para os usuários menos exigentes.
A câmera frontal, por sua vez, repete os mesmos problemas da câmera traseira, mas com agravantes. Em primeiro lugar, há um filtro desnecessário de “embelezamento” que, quando ativado, faz o rosto da pessoa em foco ficar com um aspecto emborrachado. Desnecessário e pouco recomendável.
Em segundo lugar, a câmera frontal consegue errar no único ponto em que a traseira acerta em cheio, que é o nível de detalhes. Em tempos de redes sociais, seria razoável que a Motorola tivesse investido um pouco mais no sensor de selfies, mas, em vez disso, a empresa parece ter simplesmente reciclado a câmera do ano passado com alguns novos truques de software.
No fim das contas, temos um conjunto de câmeras razoável para essa faixa de preço, o que significa que seus principais competidores (Galaxy J7 Prime e Zenfone 3 de 5,2 polegadas) não são muito melhores. Mas se você quer economizar e não se preocupa tanto com fotografia, provavelmente não vai se sentir ofendido pela qualidade da câmera do novo Moto G.
Conclusão
Vamos, portanto, aos prós e contras do G5 Plus. Em primeiro lugar, é preciso destacar que o aparelho tem um desempenho muito bom para a sua faixa de preço, rápido e eficiente em múltiplas tarefas ao mesmo tempo – mas nada que chegue perto de um top de linha, é claro.
Por outro lado, as câmeras e o design do novo Moto G não acompanham a performance, e parecem mais um retrocesso da Motorola do que uma evolução. Sendo assim, é possível dizer que, acompanhando cada nova edição do smartphone, essa quinta geração toma alguns passos para frente e outros para trás.
Agora, à questão que realmente importa: vale o preço? Para responder essa pergunta, primeiro nós precisamos dar uma olhada nas alternativas. O Moto G5 Plus chegou com preço sugerido de R$ 1.499, o que o transforma num competidor direto do Zenfone 3, da Asus, do LG K10 Pro e do Galaxy J7 Prime, da Samsung.
Infelizmente para a Motorola, todos eles conseguem superar seu novo G5 Plus em algum ponto. O Galaxy J7 tem mais memória RAM (3 GB); o K10 Pro, da LG, tem um design mais arrojado; enquanto o Zenfone 3 tem câmeras levemente superiores, especialmente em termos de resolução. Além disso, todos eles têm, em teoria, mais bateria.
No fim das contas, fica difícil recomendar o Moto G5 Plus quando seus concorrentes conseguem superá-lo em alguns aspectos-chave. Apesar disso, trata-se de um smartphone competente na sua proposta de oferecer design premium (ainda que pouco arrojado) e performance de respeito. Não é uma compra ruim, mas também não é o melhor que seu dinheiro pode comprar se você quer um smartphone por menos de R$ 1.500.