Testamos: Meizu Pro 6 Plus desperdiça bom hardware com usabilidade desastrosa

Redação14/06/2017 19h58, atualizada em 14/06/2017 21h48

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Na briga pelo mercado de smartphones no Brasil, algumas marcas se destacam mais do que outras. Numa arena em que Samsung, Apple, LG, Motorola e Asus chamam quase toda a atenção para si, sobra pouco espaço para a Meizu, representada no Brasil pela Vi, fazer barulho com seus smartphones chineses baratos e potentes.

O atual top de linha da marca chinesa no país é o Pro 6 Plus, que o Olhar Digital recebeu para alguns dias de teste. O aparelho é vendido apenas pela internet, no site da Vi, e custa a partir de R$ 2.199. Será que com esse dispositivo a Meizu merece ser levada a sério pelos consumidores de marcas mais tradicionais? Confira nossas impressões sobre o produto nos parágrafos abaixo.

Design e tela

Começando pelo mais visível: o design do aparelho. O Meizu Pro 6 Plus é um celular grande, com 155,6 milímetros de altura, encorpando uma tela de 5,7 polegadas (algo um tanto incomum no mercado atual). Mas apesar da clara inspiração no iPhone, até que o desenho do smartphone é bem feito, sem extravagâncias.

Aliás, já falamos aqui no Olhar Digital sobre o hábito que fabricantes chinesas têm de copiar o design do iPhone. A inspiração no celular da Apple pode ser vista no Pro 6 Plus pelo posicionamento de botões e sensores, como câmeras e o botão de Início, a posição das linhas de antena e, principalmente, o corpo em alumínio que lembra a geração do iPhone 6.

Mas não há nada de errado com a “imitação” em si, desde que a praticidade seja preservada. O problema é que, com um corpo desse tamanho, o Pro 6 Plus não é exatamente uma obra de arte da ergonomia. Uma tela tão grande em proporção comum de 16:9 é sempre difícil de manusear, especialmente quando se tenta usar o celular com apenas uma mão.

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Em termos de eficiência, porém, o imenso painel de 5,7 polegadas é um dos pontos altos do celular. A resolução é o tradicional 2K (2.560 x 1.440), sobre uma tela Super AMOLED que garante cores vibrantes na medida certa, contraste bem equilibrado e economia de energia. Isso sem falar na resistência, já que o Super AMOLED, por conta da sua flexibilidade, garante uma absorção melhor do impacto com o chão em caso de queda.

Outra complicação acarretada por um corpo tão grande é a dificuldade em se encaixar o celular no bolso, a menos que você já esteja acostumado e devidamente paramentado para carregar um celular desse tamanho. No fim das contas, o design é o que menos chama a atenção no Meizu Pro 6 Plus, um celular que prefere fazer o “arroz com feijão” do iPhone do que apostar numa identidade visual extravagante demais. Assim, ele conquista pela humildade.

Software

Aqui é onde está a pior parte do Meizu Pro 6 Plus. O celular roda uma versão customizada do Android 6.0 Marshmallow. Como se não bastasse ser um sistema operacional ultrapassado, o Android deste aparelho ainda é personalizado e modificado ao extremo. Tanto que a Meizu o chama de Flyme OS, e não de Android.

A customização é exagerada em diversos pontos, especialmente por tentar fazer dentro do smartphone o que a fabricante já fez fora: copiar o iPhone. Desse modo, o tal Flyme OS é tanto uma cópia do iOS quanto o design exterior copia o celular da Apple. E não estamos falando apenas de estética. Toda a navegação do Pro 6 Plus tenta emular a experiência de uso do iPhone.

E isso é ruim por diversos motivos. O primeiro é que o celular acaba por enterrar algumas das melhores funções nativas do Android, como os botões de navegação. Presentes em praticamente todo celular Android no mercado, esse conjunto de três botões (às vezes virtuais, às vezes físicos) executam três funções essenciais para a usabilidade: voltar à página anterior, ir à tela de início e visualizar os últimos apps abertos.

Acontece que esses três botões não existem no Pro 6 Plus. Isso significa que, se você nunca teve um iPhone ou um celular da Meizu antes, aprender a navegar pelo tal Flyme OS pode ser um pesadelo. Afinal, uma coisa é o iOS, que é construído dessa forma desde a base e vem com apps preparados para a navegação baseada em apenas um botão. Outra coisa é um Android, cheio de aplicativos desenhados para Android, e que não se comporta como um Android.

Isso sem falar na “morte” da tradicional gaveta de apps, o que faz com que todos os aplicativos baixados fiquem para sempre estacionados na tela de fundo do sistema. Além disso, o Flyme OS não oferece nem metade das opções de customização de interface que qualquer outro Android oferece. A Meizu pegou o que há de melhor no sistema operacional do Google e jogou fora, dando preferência a um sistema mais parecido com o iOS e que não funciona tão bem como um iPhone.

Outra “curiosa” semelhança com o iPhone é a presença de um sensor de pressão ao toque, que funciona de forma parecida com o 3D Touch dos iPhones 6s e 7. Ao tocar com um pouco mais de força em algum ícone, o sistema abre uma seleção de atalhos para aquele aplicativo. O problema é que isso só funciona com os apps desenvolvidos pela própria Meizu, já que, no Android 6.0, o “3D Touch” nativo do Google ainda não estava liberado.

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Preciso contar a você sobre um problema curioso que surgiu ainda nos meus primeiros dias com o aparelho. Ao ligá-lo pela primeira vez, estranhamente o smartphone não forneceu qualquer opção de configuração inicial. Não pediu dados como o meu login do Google ou o idioma de preferência, o que é normal em aparelhos Android. Simplesmente foi para a tela inicial, como se alguém já tivesse mexido nele antes.

Intrigado, decidi fazer um restauração de fábrica – decisão essa que me traria muita dor de cabeça. Após a restauração, o celular pediu, normalmente, as configurações iniciais de login, idioma etc. Só que a loja de aplicativos do Android, a Google Play Store, tinha desaparecido. Junto com o Google Play Services. De repente, me vi com um celular Android praticamente inutilizável, sem acesso aos serviços básicos da plataforma Android.

Para complicar ainda mais a situação, o aparelho veio com duas lojas de apps alternativas: uma chamada App Store, só com programas chineses irreconhecíveis; e outra chamada Hot Apps. Foi lá que, orientado por fóruns de usuários da Meizu na internet, eu encontrei um programa chamado Google Installer. É ele que descarrega a Google Play e o Google Play Services nos celulares da Meizu. E assim nossa unidade do Pro 6 Plus voltou à vida útil, ainda que na base do improviso.

Outros dois problemas graves no aparelho são o seu teclado padrão – um software feito pela Meizu que sequer está bem otimizado para o português brasileiro – e o reconhecimento de impressões digitais. O sensor, que fica no botão de Início, funciona bem e é rápido. O defeito está nos detalhes: você não pode usar a impressão digital para ligar uma tela desligada. É preciso ligar a tela primeiro e só depois posicionar a digital para fazer o desbloqueio. Ou seja: o software é programado para te fazer perder tempo.

Não sei dizer se esses problemas são específicos da unidade que recebemos para teste ou se estão em qualquer outra unidade do Meizu Pro 6 Plus. O que eu sei é que isso definitivamente não deveria acontecer. Afinal, se somarmos a isso a navegação irreconhecível, as modificações estéticas de gosto duvidoso e, principalmente, a gambiarra na instalação da Google Play, temos um celular que sai da caixa sem estar pronto para o uso.

Se você é um usuário experiente, do tipo que não se intimida diante de longas telas de configuração e gastando horas baixando apps para mudar a launcher, os ícones e tudo o mais, então, talvez, o Meizu Pro 6 Plus não seja tão ruim para você. Mas para a grande maioria dos usuários comuns de smartphone, do tipo que não têm profundos conhecimentos sobre tecnologia, passar tanto tempo aprimorando o celular é, sim, um obstáculo dos grandes.

Pode parecer óbvio, mas é por isso que um smartphone precisa sair da caixa pronto para ser usado imediatamente. Passar quase uma hora customizando coisas simples como teclado, launcher, navegação, ícones e até a Google Play, só para se ter acesso a um smartphone minimamente útil… bem, este é um defeito inadmissível em 2017.

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Performance e bateria

Se a usabilidade do Meizu Pro 6 Plus é um pesadelo, o mesmo não se pode dizer do seu hardware. No papel, ele impressiona. O processador é um Exynos 8890, o mesmo do Galaxy S7 da Samsung, que vem com oito núcleos: quatro de 2.0 GHz para tarefas mais pesadas e outros quatro de 1.5 GHz para tarefas mais simples – um conjunto que ajuda a economizar energia.

Junto ao processador de alto desempenho estão 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento. Com tudo isso, o Meizu Pro 6 Plus apresenta uma performance impressionante para a sua faixa de preço. Além de resolver tarefas simples com muita rapidez, o aparelho lida com programas pesados, incluindo jogos como o FPS “Modern Combat”, sem qualquer sinal de engasgo ou travamento.

Em apps de análise de desempenho, essa potência toda se confirma. O AnTuTu deu para a nossa unidade de teste nada menos do que 110.417 pontos – mesmo nível do Galaxy S7, top de linha da Sansung do ano passado. Já no Geekbench, o celular registrou 1.269 pontos em apenas um núcleo e 4.467 pontos em múltiplos núcleos. Ou seja, não é a melhor performance possível de se comprar no mercado hoje, mas é superior a muitos modelos na mesma faixa de preço.

A bateria, é também muito competente. São 3.400 mAh de potência que se traduzem, em média, em quase um dia inteiro de uso moderado – incluindo navegação por redes sociais, vídeos em alta definição, streaming de música pelo Spotify e séries na Netflix, tudo conectado ao Wi-Fi. Também não é a melhor bateria do mercado, mas não vai te deixar na mão. A recarga, por sua vez, é rápida, indo de 0% a 100% em pouco mais de uma hora. Isso graças ao cabo USB-C que conecta o celular ao carregador.

Resumindo: enquanto o software é uma decepção total, o hardware faz valer o investimento, com ótimas especificações e uma performance limpa. Tudo isso numa faixa de preço acessível (em comparação com outros produtos de especificações semelhantes), o que lhe garante pontos no fator custo-benefício. Uma pena que a usabilidade não acompanhe todo esse poder de fogo.

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Câmera

Curiosa e literalmente, a câmera do Meizu Pro 6 Plus é boa por um lado, e ruim pelo outro. Explico: a câmera traseira consegue tirar fotos muito bonitas, com cores bem equilibradas e boa definição, até mesmo em ambientes com pouca luz. Já a câmera frontal é um desastre, mas um desastre bonito: boas cores, péssima definição.

A câmera principal tem 12 MP, abertura f/2.0, foco rápido por detecção de fase e também a laser e opções de ajustes manuais de tempo de exposição, ISO e balanço de branco. Tudo isso gera imagens com um bom contraste e equilíbrio de cores, tanto em ambientes fechados e sob iluminação artificial quanto á luz do dia, em ambientes abertos. Contudo, a definição das fotos não é das melhores, gerando um pouco de ruído em quadros com muitos detalhes.

Mas nada que chegue a atrapalhar o resultado final, que é de fotos bonitas e prontas para as suas redes sociais. A estabilização óptica, por sua vez, está ali só na teoria, porque, na prática, os vídeos gravados com o Pro 6 Plus saem tão tremidos quanto a mão de quem segura o celular. Há ali um indicador de nível que até tenta mostrar se o celular está reto ou não, mas ele é extremamente impreciso.

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Já a câmera frontal de 5 MP e abertura f/2.0, como citado anteriormente, até tenta disfarçar seus defeitos, mas não consegue. Selfies com o Pro 6 Plus saem com boas cores, mas extremamente mal definidas. O contorno dos objetos e detalhes de textura são praticamente inexistentes nas fotos feitas com o sensor frontal, independentemente da distância em relação ao objeto fotografado, seja seu rosto ou um grupo de amigos. E isso acontece em qualquer situação, seja com muita ou pouca luz.

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É, no mínimo, questionável a decisão da Meizu de colocar um sensor tão ruim na câmera frontal, visto que, em tempos de redes sociais, selfies são muito mais importantes para o consumidor do que fotografias tradicionais – algo que a Samsung, por exemplo, já entendeu, e passou a colocar basicamente a mesma câmera na parte da frente e na parte de trás dos seus novos celulares.

Mas se você não é do tipo que gosta de tirar selfies, a câmera traseira do Pro 6 Plus é uma das melhores do mercado brasileiro atual. É claro que não chega perto da do Galaxy S8 ou a do iPhone 7, mas está no mesmo patamar que a de um Galaxy S7, por exemplo. Ou seja, excelente para 2016, mas não perfeita.

Conclusão

Concorrência nunca é demais, e quanto mais opções de compra um consumidor pode ter, melhor para toda a indústria. O Meizu Pro 6 Plus é um concorrente digno do mercado brasileiro e que tem muito a ensinar a seus concorrentes mais famosos, especialmente sobre como equilibrar um preço acessível com especificações de ponta.

O preço “oficial” do aparelho é R$ 2.200, mas ele pode ser encontrado na internet custando pouco mais de R$ 2.000. Nessa faixa de preço, seus principais rivais são o Moto Z Play (primeira e segunda geração), Galaxy S7, iPhone 6s e o Zenfone 3 – incluindo algumas de suas variações, como Zenfone 3 Zoom.

Na maioria dos casos, o Meizu Pro 6 Plus supera os rivais em performance (com agumas exceções) e perde em outros dois pontos: câmera frontal e usabilidade. Como explicado anteriormente, o software é muito mal otimizado, o que o coloca alguns anos atrás de qualquer outro concorrente, em qualquer faixa de preço. E isso é, sim, um fator determinante para a compra.

Por outro lado, como já foi dito, o aparelho tem uma performance de nível premium, quase um top de linha, capaz de deixar muitos concorrentes para trás e por um preço justo. O problema é mesmo a navegação e o software clonado do iOS que estragam a experiência com o hardware. Sem falar na câmera frontal, um desastre completo.

Se você não se importar em ter que reaprender a usar um smartphone só para poder explorar minimamente o produto, então vá em frente. Mas se você preza por um smartphone que sai da caixa pronto para o uso e quer tirar boas selfies com um celular de R$ 2.000, então passe longe deste. O Meizu Pro 6 Plus desperdiça o hardware decente que a fabricante montou com um software lastimável. Cabe a você decidir se vale a pena o sacrifício.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital