Tecnologia e batom combinam? Combinam, sim!

A luta para que o mercado de tecnologia se torne mais feminino tem sido travada em diferentes arenas. Conheça algumas das mulheres de destaque nesse segmento no Brasil
Roseli Andrion08/03/2019 17h37, atualizada em 08/03/2019 18h30

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Não é de hoje que as mulheres desbravam o mundo da tecnologia: Augusta Ada King, a Ada Lovelace, já atuava na área na década de 1840. Apesar de ainda hoje ser difícil para nós, mulheres, conseguir espaço em alguns segmentos, há quem encare as dificuldades e desbrave cantos escondidos. Neste 8 de março, vamos falar de brasileiras que têm atuado no mercado de tecnologia e, de uma ou outra forma, puxam a fila e incluem outras interessadas nesse universo.

Uma delas é Ariane Parra. Engenheira de formação, ela sempre notou a falta de presença feminina nos ambientes em que passou — para completar, Ariane é gamer e percebia a mesma situação na arena dos jogos. “Ficou claro para mim que o mercado de games precisava da inclusão de mulheres. Eu não queria mais me sentir estranha por gostar de jogos e gostaria de poder dividir isso com outras meninas”, conta.

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Para ela, falar de representatividade feminina nesse cenário era uma necessidade. Então, em 2014, ela fundou a WomenUp Games, uma organização de inclusão de mulheres no mercado de games. Um ano depois, em 2015, a instituição foi uma das vencedoras da segunda edição do Prêmio Mulheres Tech em Sampa, que tem apoio do Google e recompensa as cinco principais iniciativas de inclusão de mulheres em tecnologia.

Ciranda de Morais também se destaca no mercado de tecnologia brasileiro: ela é fundadora da She’s Tech. Apesar de sua formação em comunicação, Ciranda sempre atuou no setor de varejo: era sócia de uma rede de farmácias. Até que decidiu criar, em 2016, um marketplace de entrega de medicamentos. Para se capacitar, foi em busca de cursos no Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Foi lá que ocorreu seu primeiro contato com a área de tecnologia. “Foi um choque: de 50 alunos, apenas nove eram mulheres. Em seguida, participei de um programa de aceleração e, das 43 startups participantes, só cinco tinham CEOs mulheres. Percebi que era preciso criar uma rede de apoio para fortalecer as mulheres no setor de tecnologia”, lembra. Para isso, sua She’s Tech tem como base três pilares: inspirar, a partir da representatividade, engajar, com uma rede de apoio, e capacitar com conteúdos de qualidade. “Precisamos mostrar a mulher na tecnologia para que as meninas se vejam naquele lugar e tenham referências fortes.”

Os desafios se tornaram degraus

O caminho foi tortuoso para ambas, mas elas acreditam que o propósito por trás do trabalho que fazem é mais importante do que as barreiras que enfrentam. “Em games, por exemplo, as meninas tinham vergonha de assumir que jogavam. Isso porque, quando revelavam que eram mulheres, sofriam assédio ou eram xingadas. E isso ainda acontece hoje”, diz Ariane. “Enfrentamos muitas barreiras invisíveis”, relata Ciranda. Ela criou, inclusive, uma teoria para demonstrar isso: a Teoria das Portas de Vidro.

Apresentada em dois eventos do Google (o Community Summit Brasil e o Global Community Summit) e um TEDx, a teoria de Ciranda mostra como as mulheres são mantidas longe da tecnologia nas diferentes fases da vida — da infância à idade adulta — por barreiras invisíveis. “Na maioria das vezes, os ambientes que envolvem a tecnologia são sexistas. Um dado importante é que só 4% dos fundos de venture capital investem em startups de mulheres, por exemplo. Por isso, é essencial que haja a conscientização.”

Ariane lembra que um de seus maiores desafios foi se comunicar com as grandes empresas do segmento. “Foi difícil explicar que era preciso haver uma mudança, que era necessário incluir as mulheres”, lembra. E qual a importância disso? A Pesquisa Game Brasil (PGB) 2018 indica que as mulheres já são maioria no contexto gamer: segundo o estudo, elas representam hoje 58,9% dos jogadores.

Ciranda afirma que é preciso continuar essa luta. “A conscientização é a base desse trabalho, já que não é possível mudar o que não reconhecemos que existe. Para falar de diversidade nas empresas, é importante que as companhias sejam realmente inclusivas — e isso começa com a empatia”, ensina Ciranda. “Já fiz palestras para públicos completamente masculinos e muitos homens disseram que não percebem esse cenário ou que nunca pensaram sobre isso.” A She’s Tech, de Ciranda, apoia o HeForShe (ElesPorElas), um movimento mundial da Organização das Nações Unidas (ONU). “Chamamos os homens para discutir a nova feminilidade e a nova masculinidade porque é importante conversar sobre esse assunto.”

Ariane concorda que é preciso que haja mais ações para a inclusão de mulheres em tecnologia e vai além: as meninas devem acreditar que podem, sim, ser o que quiserem. “Mais que isso, porém, é essencial que as mulheres não desistam de seus sonhos se esse for o segmento em que elas querem atuar”, aconselha Ariane. “O passarinho, quando aprende a voar, sabe mais de coragem do que de voo. É preciso que as mulheres tenham a coragem de tentar e errar, em vez de esperar o ‘momento certo’, porque ele não existe”, reforça Ciranda. “Tecnologia é lugar de mulher, sim!”, completa.

Cenário mais feminino, mas ainda tímido

De empreendedoras individuais a grandes executivas, as mulheres buscam, cada vez mais, seu espaço no setor de tecnologia. Veja, a seguir, outras oito mulheres que se destacam nesse universo no Brasil.

Iana Chan — Fundadora do PrograMaria

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Jornalista, Iana é apaixonada por tecnologia e educação. Por isso, fundou a PrograMaria, uma iniciativa que busca empoderar mulheres por meio da tecnologia e da programação. Para Iana, todo mundo é de tecnologia, mas as mulheres ainda participam de forma desigual dessa produção e, por isso, é preciso quebrar o estigma de que elas não sabem ou não se interessam pelo tema.

Camila Achutti — Fundadora da consultoria em inovação Ponte 21 e cofundadora e CEO da plataforma de educação em tecnologia MastertechReprodução

Sua Mastertech quer levar cursos de tecnologia a milhares de alunos, já que, para ela, a programação não deve ser um fim, mas um meio. Camila acredita que ser empreendedora em tecnologia é não se reconhecer no entorno e que a falta de mulheres nos ambientes de inovação é uma perda muito grande.

Nina Silva — Lead IT Project Manager na ThoughtWorks e sócia fundadora do Movimento Black Money

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Começou no segmento de tecnologia por acaso ao ser convidada para participar da implantação do sistema de gerenciamento empresarial (um ERP) SAP na empresa em que trabalhava quando estava no segundo ano da faculdade de Administração. Dedicou-se muito, estudou o sistema e se tornou, ao fim do projeto, consultora júnior da ferramenta. Hoje, é executiva de TI há mais de 16 anos, participou da fundação do Movimento Black Money e uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo.

Daniela Binatti — Cofundadora e diretora de tecnologia da Pismo

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Sua startup Pismo terceiriza a gestão de meios de pagamentos de outras empresas, por meio da computação em nuvem. Ela se define como tech lover e tem mais de 20 anos de experiência no setor de pagamentos e no segmento de tecnologia.

Cristina Junqueira — Cofundadora do Nubank

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Engenheira, Cristina Junqueira é cofundadora do Nubank, onde atualmente lidera os esforços de Branding e Business Development. Antes de fundar o Nubank, Cristina atuou em consultoria estratégica no Boston Consulting Group (BCG) e em produtos e marketing na área de crédito a consumo e cartões do Itaú Unibanco. Em 2017, foi nomeada uma das 40 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes.

Paula Bellizia — Vice-presidente de Vendas, Marketing e Operações da Microsoft América Latina

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Formada em Computação e Ciência da Informação, Paula atua há mais de 25 anos em empresas do setor de tecnologia. Começou a carreira na Whirlpool, em 1992. Sete anos depois, foi para a Telefonica. Em 2002, chegou à Microsoft: permaneceu lá por dez anos e ocupou diferentes posições, até atingir a Diretoria de Marketing e Operações da Microsoft Brasil. Em 2013, foi para o Facebook como Diretora de Vendas para Pequenas e Médias Empresas para a América Latina. Depois, foi presidente da Apple no Brasil por dois anos. De volta à Microsoft em 2015, foi Presidente da Microsoft Brasil por 3,5 anos e, agora, promovida a Vice-presidente de Vendas, Marketing e Operações da Microsoft América Latina.

Tânia Cosentino — Presidente da Microsoft BrasilReprodução

Tânia é engenheira e tem mais de 30 anos de experiência profissional. Ela ocupava a Vice-presidência Global de Qualidade & Satisfação do Cliente da Schneider Electric desde outubro de 2018. Depois de 19 anos na empresa, a executiva aceitou, em janeiro, o desafio de se tornar Presidente da Microsoft Brasil no lugar de Paula Bellizia. Segundo ela, “a tecnologia também pode impulsionar a competitividade do Brasil, bem como contribuir para resolver os principais desafios do planeta: a desigualdade, a pobreza e as mudanças climáticas”.

Cristina Palmaka — Presidente da SAP Brasil

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Desde 2013, Cristina lidera a empresa no país. Formada em Ciências Contábeis, atua há mais de 30 anos no setor de tecnologia e já passou por companhias como HP, Philips e Microsoft. Entre suas motivações estão a possibilidade de treinar equipes de alto desempenho e criar soluções que afetam positivamente a vida das pessoas.

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital