A Microsoft teve um ano de 2016 interessante. O mercado de mobilidade praticamente fechou as portas na sua cara, e o Windows 10 Mobile continua sem sair do lugar. No entanto, se a área mais disputada do mercado tenta a todos os custos tirar a empresa da jogada, a companhia tenta reinventar um mercado extremamente familiar: o de PCs. E com sucesso.
No fim do ano passado, a empresa revelou os novos Surfaces, atualizando o seu laptop Surface Book com melhorias de desempenho, principalmente com uma nova GPU. No entanto, o principal destaque da empresa tem sido o promissor tudo-em-um Surface Studio, que também chama atenção pelo acessório que foi apresentado em sua companhia, o Dial.
Durante a CES 2017, finalmente eu tive a oportunidade de conhecer a linha de PCs da Microsoft de pertinho durante uma apresentação em uma sala reservada da empresa. Posso dizer que fiquei bastante impressionado com o que vi. Não apenas pela qualidade dos produtos, mas pelo que eles significam para o mercado de PCs.
Nos últimos anos, o PC vem em declínio. A Microsoft tem sentido a redução na venda de licenças do Windows, a Intel relata números cada vez menores de processadores vendidos e as fabricantes de computadores não vêm tendo bons resultados num modo geral. E ainda assim, a Microsoft decide investir na criação de um produto próprio, para mostrar que Steve Jobs estava errado: não vivemos e jamais viveremos na era pós-PC.
Quando o visionário da Apple apresentou o iPad, ele tinha uma visão de mercado interessante, de que o PC estava fadado ao declínio e extinção. De uma certa forma, ele estava certo; quem usava o computador apenas para funções básicas não precisa mais de um PC; um celular dá conta. No entanto, o que ele não contava é na renovação do conceito de computador como uma máquina de produtividade, o que é a grande aposta da Microsoft. E, vendo o sucesso, certamente outras empresas seguirão o mesmo caminho.
Vamos às nossas impressões:
Surface Book
O notebook foi originalmente apresentado em 2015, mas ganhou uma nova edição no ano passado. Entre as adições estão uma nova GPU GTX 965M, que é extremamente bem-vinda. Apesar de estar longe de ser a mais poderosa do momento, ela já é o bastante para auxiliar em tarefas gráficas mais exigentes e até mesmo permitir o uso do laptop para jogos, rodando basicamente tudo que há de novo no mercado, embora sem chances de alcançar a qualidade Ultra.
Em termos de usabilidade, é fácil esquecer que o notebook é um 2 em 1 que se converte em tablet, porque geralmente produtos do tipo têm dobradiças pouco discretas que lembram o usuário a todo o tempo de que aquele aparelho pode ser destacado. O Surface Book, por sua vez, tem uma articulação completamente diferente do que observamos no mercado.
Também é notável a facilidade com que e possível remover a tela do notebook. Basta apertar um botão por três segundos e ela está solta. Para recolocá-la no lugar, e só encaixar novamente. Tudo é feito com tanta naturalidade e facilidade que você fica até em dúvida se o painél está realmente encaixado no lugar certo.
Todos os principais componentes estão posicionados na parte da tela, o que quer dizer que não há grande perda de desempenho quando o dispositivo é usado no modo tablet. No entanto, é quando ele está acoplado à base que ele realmente brilha, pelo fato de contar com bateria extra e a GPU dedicada já citada.
A tela de toque é bastante sensível e responsiva, e não poderia ser diferente. O Surface Book foi projetado para ser usado com a caneta da Microsoft e o conjunto todo funciona muito bem, e a combinação com o disco Dial abre possibilidades novas de interação com o computador. O GIF abaixo ilustra um momento particularmente impressionante que pudemos experimentar.
Surface Studio
O destaque do momento é um computador que renovou o conceito já meio estagnado do computador tudo-em-um. A máquina tem um público alvo bem definido: pessoas que realizam trabalhos criativos, e sua apresentação serviu para pelo menos colocar uma pulga atrás da orelha dessas pessoas, que sempre foram leais à Apple.
Para atender a esse público, o Surface Studio conta com uma GPU GTX 980M (o modelo mais avançado), que é consideravelmente mais poderosa do que a do Surface Book, apesar de ser um pouco decepcionante em comparação com as opções de placas de vídeo que a Nvidia colocou no mercado nos últimos tempos, se estamos falando de um produto de alto desempenho. Há placas muito mais poderosas adequadas a uma carcaça compacta como é a base do Studio, que reúne todos os seus principais componentes computacionais.
O computador não foi feito para jogos, mas seu hardware o credencia para rodar basicamente tudo que há no mercado com alguma tranquilidade, mas ainda se trata de uma GPU da série M da Nvidia, o que significa que isso pode mudar dentro de pouco tempo. Mas, como este não é o foco do produto, não chega a ser um problema.
A capacidade gráfica do Studio é feita para o trabalho. Renderização de vídeos, edição de imagens, execução de aplicações em 3D e outras tarefas que se beneficiam de uma GPU mais parruda acabam se tornando o foco do produto.
A tela é uma parte importantíssima do computador, com um painel enorme de 28 polegadas com uma proporção peculiar de 3:2, que é bastante fora dos padrões, somada a uma altíssima resolução superior ao 4K (4.500 x 3.000). Ela também é sensível ao toque e altamente responsiva ao uso com a caneta da Microsoft.
O que diferencia o produto de qualquer outro tudo-em-um do mercado é sua capacidade de se reclinar para facilitar o desenho na tela. O aparelho foi projetado para ajustar seu ângulo de uma forma que o deixa mais próximo da horizontalidade, mas as dobradiças são fortes o bastante para que o usuário possa se apoiar em cima do dispositivo sem risco de quebrá-lo; de fato, eu estou longe de ser uma pessoa leve e meu peso não foi problema para o computador. A movimentação do painel também é muito fluida e leve, o que permite movê-lo sem precisar de muito esforço.
Mas é quando o computador é pareado com o Surface Dial que aparece o seu diferencial. O acessório da Microsoft é uma mão na roda para praticamente tudo, desde que os apps sejam desenvolvidos pensando nele, claro. Girar o disco tem inúmeras funções, como desfazer ou refazer ações em um software de edição de imagem, alterar as cores do pincel ou navegar em um ambiente em 3D. Tudo é muito natural, e parece uma extensão tão simples da computação pessoal que impressiona que ninguém houvesse pensado nisso até agora.
E então?
Tanto o Surface Book quando o Studio são prova de que o PC não morreu. O conceito está sendo reinventado para otimizar a produtividade, com novas ideias e novos acessórios. É bom ver a Microsoft apresentando novidades após o seu retumbante insucesso no mercado de celulares. A empresa pode finalmente se estabelecer como líder em produção de algum tipo de hardware, no fim das contas. As únicas reclamações que podem ser feitas são relacionadas ao altíssimo preço (mesmo fora do Brasil!) e à ausência de uma GPU mais parruda tanto no Surface Book quanto no Studio.
A empresa pode até mesmo começar a tomar o espaço da Apple entre os profissionais criativos, sempre fãs tão dedicados dos Macs. Afinal de contas, os novos MacBooks não impressionam, a Touch Bar é uma inovação mínima e os outros computadores da empresa não veem atualizações há anos. Agora resta à Microsoft convencê-los de que o Windows é tão bom quanto o macOS.