O cartão de crédito da Apple, o Apple Card, foi apresentado ao mundo em março, mas há 15 anos a gigante de tecnologia já tinha em seus planos um serviço muito semelhante – e a ideia foi de ninguém menos que Steve Jobs. O cofundador da companhia propôs em 2004 um cartão de crédito que, inclusive, levaria o mesmo nome do produto revelado neste ano. O ex-diretor criativo da empresa, Ken Segall, que compartilhou a recordação.

As funcionalidades do cartão de crédito de Jobs seriam diferentes das oferecidas pelo Apple Card atual. Em vez do programa de recompensas do serviço de 2019, em 2004 as compras com o cartão acumulariam “iPoints”, pontos que poderiam ser trocados por itens no iTunes Store. Isso quer dizer que, de certa forma, na época o produto também foi pensado para ampliar os usuários da loja de músicas da Apple.

Os benefícios do Apple Card de hoje são em “cashback”, isto é, a empresa devolve uma porcentagem do dinheiro ao cliente. Chama-se “Daily Cash”, por ser creditado no mesmo dia na conta do usuário, e retorna 2% do valor de compras realidades pelo Apple Pay – aplicativo de pagamento digital –, e 3% em aquisições de produtos da Apple.

Outra diferença é que o cartão teria sido puramente físico, enquanto o serviço previsto para ser lançado nos Estados Unidos em algum momento dos próximos meses também oferece uma versão digital. O Apple Card poderá ser solicitado por cadastro direto pelo aplicativo Wallet e, após a aprovação, o cartão virtual já estará disponível para uso imediato.

Segall disse que a ideia de Jobs foi levada adiante a ponto de a equipe criativa da empresa já ter começado a criar peças de publicidade, que relacionavam produtos populares com bandas famosas – para lembrar os clientes do programa de pontos no iTunes. Algumas frases eram “compre balões, ganhe um zepelim” (Led Zeppelin), “compre um batom, ganhe um beijo” (Kiss) e “compre uma capa de chuva, ganhe um boletim meteorológico” (Weather Report).

Além do nome, outro ponto em comum entre as duas ideias da Apple foi a pretensão de implementar a bandeira Mastercard no serviço, revelou Segall. Este, porém, foi o divisor de águas que atrasou o lançamento do cartão de crédito em 15 anos.

Em 2004, o projeto entrou em colapso porque Jobs não conseguiu entrar em um acordo com a Mastercard sobre os termos e condições do serviço. Ironicamente, uma década e meia depois o Apple Card saiu do papel com uma bandeira da operadora, além de uma parceria com a Goldman Sachs para emissão do cartão.

Jobs, de acordo com os relatos de Segall, era um entusiasta no ramo de cartões de crédito. Isso porque o mestre da Maça chegou a inventar um outro cartão, chamado Apple Pro Card, que existiu por pouco tempo. De acordo com Segall, o serviço foi projetado exclusivamente para o usuário profissional do MacBook e tinha uma taxa anual de US$ 99.

Os benefícios do cartão, no entanto, eram pequenos. Transferência gratuita dos dados do cliente para um novo PowerMac G5, notificação antecipada de ofertas futuras e um dia especial de promoções na Apple Store chamado “Dia Pro”, com 10% de desconto em softwares e instalação gratuita, foram alguns das recompensas que não conseguiram agradar amplamente as pessoas – motivo que deve ser uma das causas da vida breve do serviço.