Uma das pautas do movimento feminista, a representação sexualizada de personagens mulheres em jogos de vídeo games recebe cada vez mais críticas. Por conta dessas manifestações, que pressionam as fabricantes por mudanças, a Sony está restringindo o conteúdo sexual nos jogos para PlayStation 4 globalmente.

Por um lado, a atitude da empresa reflete as preocupações dos Estados Unidos (EUA) sobre a representação de mulheres em jogos; por outro, irrita alguns desenvolvedores. O PlayStation 4 é o videogame mais utilizado no mundo, com mais de 94 milhões de unidades vendidas. De acordo com a Sony, o console em questão rendeu cerca de US$ 11 bilhões em 2018, vendas que ajudaram a impulsionar a recuperação da empresa nos últimos cinco anos.

As novas regras internas da Sony sobre seus produtos limitam o conteúdo sexualmente explícito dos games. A política a diferencia de outros fabricantes de hardware de jogos, que o permitem desde que o game tenha uma classificação etária indicativa determinada por um órgão regulador da indústria nacional.

Uma porta-voz da Sony confirmou ao jornal The Wall Street Journal que a empresa determinou as novas diretrizes “para que os criadores possam oferecer conteúdo apropriado” e para que os jogos não interfiram negativamente no crescimento e o desenvolvimento dos jovens. A entrevistada, no entanto, não detalhou a nova política, assim como não informou quando as regras entraram em vigor.

O jornal entrevistou mais de uma dúzia de desenvolvedores e executivos de empresas que fabricam jogos para o PlayStation 4 nos EUA, Europa e Japão que confirmaram que as novas regras da Sony já estão sendo aplicadas. Alguns deles se mostraram contrários à atitude da companhia, porque, segundo eles, “a criatividade será prejudicada”.

Eles disseram ainda que, antes, a Sony costumava elogiá-los pelos conteúdos sexualmente explícitos e que esse tipo de representação dos personagens era uma parte importante da estratégia de negócios do PlayStation. Com a nova política, os fabricantes reclamam que “não recebem mais atenção da Sony”. Além disso, disseram que foram orientados pela empresa a procurar outras plataformas de jogos se quiserem continuar produzindo material sexualizado.

Executivos da empresa  estão preocupados que críticas contra conteúdo sexualmente explícito vendido apenas em alguns mercados prejudique a reputação global da fabricante, informou a reportagem. Eles disseram ao The Wall Street Journal que um dos maiores problemas são os jogos vendidos no mercado da empresa no Japão, indústria que é tradicionalmente mais tolerante à quase nudez e às imagens de mulheres jovens que aparentam ser menores de idade.

Outros executivos entrevistados pelo jornal criticam à falta de diretrizes escritas da Sony. “Você não sabe o que eles vão dizer até você concluir o trabalho e enviá-lo para revisão. E se eles não estão felizes, mesmo que tenham permitido o mesmo grau de sexualidade alguns dias antes, precisamos pegar o jogo de volta e pedir a nossa equipe para fazer ajustes. Isso é muito caro”, reclamou um executivo-chefe de uma pequena desenvolvedora de jogos no Japão.

Um funcionário da Sony nos EUA rebateu os comentários dos desenvolvedores dizendo que “não temos critérios em diretrizes escritas ou esse tipo de coisa porque a política foi introduzida de repente, na esteira do movimento #MeToo”.

De acordo com relatos de funcionários da Sony ao Wall Street Journal, o impacto social do movimento #MeToo nos EUA foi um fator que impulsionou a decisão da empresa. A partir do movimento, mulheres denunciaram em massa casos de assédio sexual, principalmente no ambiente de trabalho.

As manifestações ganharam repercussão mundial entre 2017 e 2018, quando inúmeras atrizes de Hollywood relataram serem vítimas de agressões sexuais e psicológicas cometidas por grandes nomes do cinema, como o produtor Harvey Weinstein. Com isso, a empresa percebeu que era um risco estar associada a conteúdos em que mulheres são representadas de forma sexualizada e humilhante.

Outro motivo que incentivou a empresa foi a ascensão da popularidade de canais de jogos em sites como o YouTube, em que gamers gravam e compartilham suas partidas com os usuários da plataforma. Desse modo, os jogos japoneses, com mais conteúdo sexual explícito, podem ter exposição mundial.

Em geral, fabricantes que desenvolverem jogos para o PlayStation 4, Xbox, da Microsoft, ou Switch, da Nintendo, assinam um contrato com a companhia que regulamenta a receita e permite que a empresa bloqueie jogos que não gostar.

Quanto às outras grandes fabricantes de jogos, a Nintendo informou que não limita o conteúdo sexual, apenas exigindo que os desenvolvedores obtenham uma classificação indicativa das autoridades reguladoras nacionais. Já a Microsoft não se pronunciou sobre suas políticas de regulamentação dos games.

Via: The Wall Street Journal