Siri, Cortana, Google Assistente e Alexa. O que os quatro principais assistentes inteligentes têm em comum? Todos possuem vozes femininas, apesar de os sistemas do Google e da Apple se declararem “sem gênero definido”. Mas por que isso acontece?

Há quem aponte o sexismo como a principal resposta: em um mercado tradicionalmente masculino, é comum que as mulheres ocupem cargos de secretárias, mais ou menos como as assistentes fazem atualmente. Mas um novo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, sugere que homens e mulheres preferem se relacionar com assistentes que possuem vozes femininas.

Reprodução

Especialistas em robótica explicam que os seres humanos sociais se relacionam melhor com as coisas que se assemelham ao que eles já conhecem. Isso inclui a definição de “menino” e “menina”. Em testes no Laboratório de Robótica Social de Yale, mesmo apresentando um robô humanoide usando o pronome “it” (isto), em inglês utilizado para definir objetos, as pessoas se referiam ao dispositivo como “he” (ele) e “she” (ela), usados, tradicionalmente, para pessoas.

Já uma pesquisa realizada pela Universidade de Indiana colocou homens e mulheres para ouvir vozes robóticas masculinas e femininas. Os dois grupos concordaram que a voz feminina era mais “calorosa” do que a masculina. As mulheres ainda demonstraram, implicitamente, que preferiam a voz feminina à masculina.

Tanto a Amazon quanto a Microsoft realizaram pesquisas semelhantes quando estavam desenvolvendo suas respectivas assistentes, Alexa e Cortana. Segundo as empresas, o resultado era sempre o mesmo: os usuários demonstram mais receptividade a vozes femininas do que a vozes masculinas saindo de seus smartphones.

No caso da Siri, que vem no iPhone, a Apple coloca uma voz feminina como padrão, mas oferece a opção para quem quiser trocá-la por uma voz masculina. Em muitos países, como na França e na Alemanha, entretanto, os iPhones vêm de fábrica com “o Siri”, numa voz masculina por padrão. A Apple também diz que faz essa distinção de acordo com pesquisas relacionadas à cultura e às preferências de seus consumidores em cada país.

É curioso que, cerca de 20 anos atrás, pesquisadores da Universidade de Stanford descobriram num experimento parecido que os voluntários preferiam vozes femininas em papéis mais subservientes, quando o computador se oferecia para ajudar ou se colocava à disposição do usuário. Em tarefas orientadas a partir do computador, as pessoas preferiam receber ordens de uma voz masculina do que de uma voz feminina. Ou seja, é possível que estereótipos e preconceitos de gênero estejam mesmo enraizados nessas escolhas.

Mais vozes

O Google tem trabalhado para apresentar seu sistema de inteligência artificial como alguém sem gênero. Prova disso é a escolha do nome, Google Assistente, que serve para os dois gêneros. No entanto, a voz continua sendo feminina.

“Estamos pensando em criar uma voz que não seja feminina”, explica um porta-voz da gigante de buscas. A tarefa, no entanto, não é simples. “Uma voz sem gênero é algo difícil de conseguir”, explica Robert Weideman, vice-presidente executivo da Nuance Communications.

Via Wall Street Journal