Na pequena cidade de Hamilton, há 48 quilômetros de Cincinnati, nos Estados Unidos, Mike Zelkind e Tisha Livingston trabalham em uma fazenda chamada 80 Acres. O nome pode até sugerir um vasto campo repleto de plantações. Mas a realidade é bastante diferente e moderna.

A 80 Acres é uma fazenda de cultivo vertical (agricultura em ambiente controlado), ou seja, plantações confinadas em grandes galpões e distribuídas em painéis que podem ser empilhados. Esse método de plantio se apoia em luzes artificiais e outras tecnologias para garantir o desenvolvimento das plantações.

A fazenda de Zelkind não é a primeira do tipo nos Estados Unidos. A prática cresce há pelo menos oito anos. No entanto, o proprietário da 80 Acres diz ter um diferencial: ele e Tisha Livingston têm, combinados, cinquenta anos de experiência na indústria alimentícia. O CEO da 80 Acres já passou pelas empresas General Mills, Sager Creek Vegetable e Advance Pierre Foods. Enquanto Livingston atuou nas últimas duas companhias.

Para Zelkind eram necessárias mudanças positivas na relação entre a indústria alimentícia e a agricultura, e na opinião dele, elas devem passar obrigatoriamente por três fatores: inovar na maneira de plantio, mudar a cadeia de abastecimento e tratar os canais de distribuição e mercadoria de forma diferente. No caso das fazendas 80 Acres, “inovar nas técnicas de plantio” pode ser traduzido como agricultura vertical.

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O plantio em ambientes controlados garante uma produção sem o uso de pesticidas, o ano todo. Isso acaba com qualquer preocupação a respeito dos defensivos agrícolas sintéticos ou naturais tão comuns à agricultura tradicional, bem como eventuais problemas com fatores climáticos, como secas ou inundações. “Mesmo se você tem um plantio diferente, você pode ter problemas na cadeia de abastecimento”, diz Zelkind.

Os tomates e morangos, por exemplo, são criados especificamente para apresentarem peles mais espessas e são colhidos em fazendas, em geral, antes de estarem maduros – só para sobreviverem à viagem de, em média, dois mil quilômetros até a cidade onde serão comercializados. 

Produtos que contam com o tempo de viagem possuem prazo de validade significativamente menor se comparado aos que são colhidos no pico de maturação e enviados a um estabelecimento local. Portanto, as fazendas da companhia são localizadas próximas a lojas e dispõe de seis instalações com vantagens operacionais para agilizar a distribuição. 

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O último desafio para Zelkind e Livingston é como vender seus produtos, que são embalados localmente, na fazenda. Para isso, eles deixaram de lado a tecnologia e focaram no sabor dos alimentos que produzem. “Nós fazemos muitas amostragens em lojas porque uma vez os clientes experimentam, sabem que é 80 Acres”, disse Rebecca Haders, vice-presidente de criação e marketing da empresa.

Por outro lado, os preços da empresa ainda são pouco competitivos em relação a produtores tradicionais. Enquanto uma cesta com 9 tomates da 80 Acres custa por volta de US$ 3,99, concorrentes comercializam por US$ 2.49. Até mesmo a Even Whole Foods, que tem fama de preços altos no mercado, oferece produtos mais baratos que a 80 Acres.

“Nós sabemos pelo feedback dos nossos clientes que eles apreciam muito nossos produtos, que são livres de agrotóxicos e frescos. Os preços ainda estão no patamar dos orgânicos, mas com eficiência em escala, queremos levá-los abaixo sem comprometer a qualidade e o frescor dos nossos alimentos”, diz Haders.

A 80 Acres Farms adota uma postura comercial holística, com robôs totalmente automatizados carregando produtos para transporte e sistemas computadorizados para ajudar a monitorar colheitas e gerenciar a iluminação.

Foto: Reprodução Facebook/80 Acres Farm

Foram cinco anos de intensivos testes na fazenda. Zelkind, Livingston e sua equipe importaram tecnologia de outras companhias e experimentaram desenvolver algumas ferramentas próprias. Cada nova fazenda construída pela empresa é beneficiada de um aprendizado anterior.

Em Hamilton, a empresa conta com 10 contêineres de descarregamento, que medem cerca de 12 metros de comprimento, por oito de altura e oito de profundidade. Cada container pode acomodar cerca de 4 mil plantas.

Além disso, a fazenda ainda recebe o apoio de dois robôs responsáveis pela maior parte do processo de colheita. As máquinas carregam e descarregam os contêineres a partir de uma programação definida. Outras empresas contratam empregados para usarem elevadores e moverem os painéis com as plantas, explica Zelkind.

Há também a presença de câmeras dentro dos galpões, assim a equipe da 80 Acres pode checar a plantação a qualquer momento. A companhia ainda desenvolve uma tecnologia de machine learning para identificar irregularidades como pestes, coloração anormal, o tamanho das plantas. Quando as câmeras encontram qualquer irregularidade, alertam a equipe da empresa que consegue buscar uma solução mais rápida. 

“Nós usamos [a tecnologia] para ajudar os cuidadores, não para substituí-los”, diz Zelkind. A inteligência artificial ainda está longe de oferecer mecanismos suficientes para assumir o trabalho de um cultivador, mas abrir espaço para a tecnologia definitivamente mudou a forma como eles interagem com as plantas.

Fonte: Cnet