Sempre enxerguei a educação como algo primordial e concordo com a frase do Nelson Mandela que diz que “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Inclusive, meu trabalho no BrazilLab vai muito ao encontro do que podemos melhorar no futuro e o que podemos deixar de legado para as novas gerações. Mas o que mais me traz inquietação é não saber se estou conduzindo as minhas filhas de maneira efetiva durante esse tempo de pandemia.
É claro que, dentro da crise que estamos vivendo, não me sobram dúvidas para entender que o melhor cenário é ter as crianças seguras e protegidas, ao mesmo tempo em que podem continuar tendo acesso ao direito básico e precioso da educação. Mas me incomoda saber que muitos alunos não têm a mesma oportunidade de estudar remotamente como as minhas filhas.
Um levantamento do Unicef aponta que pelo menos 4,8 milhões de crianças e adolescentes em todo o Brasil não têm acesso à internet em casa, enquanto outros milhões têm acesso precário ou convivem com a falta de equipamento. Uma triste realidade que nos distancia ainda mais de uma educação por meio da tecnologia. Sendo assim, como ficará a educação nos próximos anos?
Precisamos de controle e transparência
O desafio é gigantesco dentro da nossa realidade. Mesmo com o anúncio da retomada escolar em várias partes do Brasil, vemos que as opiniões seguem divididas entre especialistas, professores e pais. Não sabemos se queremos enviar nossos filhos às escolas sem que a situação da epidemia esteja controlada. Não temos transparência suficiente que mostre que é seguro uma volta às aulas nesse período.
O Conselho Nacional de Secretarias da Educação (Consed) determinou uma série de diretrizes necessárias para a retomada escolar. Entre elas está a garantia de distanciamento social, número reduzido de alunos por sala, disponibilização de máscaras – que devem ser trocadas de três em três horas – e dispositivos de higienização adequados à situação epidêmica. Considerando os desafios que já eram muito presentes nas escolas brasileiras, é difícil acreditar que todas terão acesso a esses recursos e, portanto, poderão garantir o cumprimento dos protocolos de segurança.
As instituições de ensino precisam dar atenção aos problemas de aprendizagem que podem surgir, já que estiveram longe das salas convencionais de aula. Além disso, não dá para lidar com essa retomada como se fosse um período pós-férias e voltar a matéria de onde parou. É necessário um plano estratégico para rever o conteúdo que foi perdido nesse tempo.
A evasão escolar, um problema que já existia antes mesmo dessa crise, será um dos grandes desafios do governo nos próximos anos já que poderá estar num cenário muito mais grave. Nesse período de pandemia, a estratégia de manter o ensino à distância não foi garantida a todos, principalmente aos alunos mais vulneráveis. Diante dessa situação, há o risco de que muitos estudantes não retornem à escola e, com isso, o aprofundamento da desigualdade educacional seja um dos efeitos que pode durar anos para que seja controlado.
A organização Save The Children estima que aproximadamente 10 milhões de crianças podem abandonar os estudos, principalmente meninas, por conta do fechamento das escolas durante a pandemia. Uma consequência séria, já que as mulheres deram tantos passos para conseguir posições importantes e nos vemos prestes a voltar algumas casas. Uma realidade que escancara a desigualdade de gênero.
Um painel interdisciplinar da instituição britânica Royal Society aponta que o tempo de aula perdido terá impacto na educação e nas habilidades dos alunos, que estarão menos preparados para o mercado de trabalho, podendo resultar em uma perda salarial de até 3% no futuro. Já um estudo austríaco afirma que a falta de escola provocou uma redução salarial ao longo de 40 anos em gerações que viveram durante a Segunda Guerra Mundial.
Ainda temos muito que aprender
A pandemia trouxe lições importantes para a vida da mulher e mãe. A primeira delas é que podemos estar mais presentes na educação dos nossos filhos, auxiliando nas atividades de casa, no entanto, a presença de um professor com base e conhecimento sobre cada disciplina é fundamental para os nossos meninos e meninas. Fica claro que nós, pais, não vamos e nem queremos substituir essa função tão árdua e fundamental.
A segunda é que precisamos nos comprometer com ações que nos ajudem a reduzir os impactos negativos e garantir uma verdadeira retomada educacional – não só a presença física na sala de aula, mas a garantia de aprendizado, especialmente para os grupos mais vulneráveis.
Não seremos os mesmos depois que tudo isso terminar. O futuro depende das ações eficientes que vamos tomar agora e para manter meninos e meninas em situação de igualdade nas escolas do país, precisamos questionar as atitudes do governo e cobrar equipamentos básicos que continuem a continuidade dos estudos de maneira segura e sem a possibilidade de manter o vírus em circulação por conta dessa retomada.
Precisamos olhar para tudo isso como uma oportunidade de tornar a educação algo muito melhor do que tem sido nas últimas décadas, além de corrigir a situação desigual que as mulheres têm vivido há muito tempo. Embora não saibamos ao certo sobre o futuro, eu arrisco uma previsão: sairemos dessa crise com um outro olhar e com uma sociedade totalmente diferente. Cabe a nós fazer com que ele seja positivo.