5 razões pelas quais o Windows não deu certo nos celulares

Renato Santino10/10/2017 00h01

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A Microsoft confirmou neste final de semana o que todo mundo que acompanha os passos da empresa já imaginavam. O Windows 10 Mobile foi “rebaixado” pela empresa, que não tem mais planos de lançar novos recursos ou novos aparelhos que façam uso do sistema operacional. O software está em modo manutenção; apenas atualizações de segurança e correções de bugs estão previstas.

Alguns podem argumentar que a Microsoft ainda pode ter outros planos para mobilidade e que isso não significa totalmente o fim do Windows em um formato portátil. Comenta-se internamente sobre um sistema com codinome “Andromeda”, que seria um Windows 10 modular, com recursos que podem variar de acordo com o dispositivo, e sempre se especula a possibilidade de um Surface Phone estar a caminho, embora ninguém saiba definir o que seria esse produto. Satya Nadella chegou a comentar que seus próximos celulares podem não parecer celulares, sem entrar em detalhes sobre o que isso significa.

O fato, porém, é que a saga do Windows Phone e do Windows 10 Mobile como conhecemos hoje, chegou ao fim. E isso nos faz pensar no que deu errado pelo caminho:

Falta de visão

A Microsoft falhou em observar a transição para a era da mobilidade, talvez muito absorta no sucesso estrondoso que o Windows fez e continua fazendo nos desktops e notebooks. As declarações de Steve Ballmer sobre o primeiro iPhone, fazendo piada do preço e da ausência de um teclado físico, explicando que, sem o componente, não seria possível usar um e-mail, além e caçoar do preço.

A Microsoft já estava presente nos celulares nessa época com o Windows Mobile e poderia ter saído na frente da Apple e do iPhone se tivesse a mesma visão, mas a empresa estava presa a conceitos que, analisando em retrospectiva, caíram em desuso justamente com a introdução do iPhone. O multi-touch do primeiro iPhone causou uma revolução em relação ao input de dados em celulares e logo os aplicativos se adaptaram a esse formato de telas sensíveis ao toque.

O Google e o Android acabaram se mostrando mais rápidos para se adaptar à realidade do iPhone, deixando a Microsoft para trás. Quando a empresa percebeu, já estava defasada no mercado.

Falta de suporte

Na história do Windows Phone, houve dois momentos cruciais em que os usuários foram deixados para trás. O primeiro aconteceu na época do Windows Phone 7; quando a empresa decidiu migrar para o WP 8, nenhum dos usuários que tinha a versão 7 recebeu a atualização devido a uma transição de plataformas e incompatibilidade com a tecnologia antiga. A Microsoft deixou para trás justamente seus fãs mais leais.

O segundo tapa na cara veio na geração Windows 10 Mobile. A empresa chegou a prometer que todos os celulares rodando o Windows Phone 8.1 seriam atualizados para o novo sistema operacional, mas a realidade é que apenas uma fração dos modelos recebeu o update. Neste momento, o mercado com Android e iOS já estava totalmente maduro e a migração para uma plataforma mais estabelecida se mostrou uma opção mais viável para muitos consumidores.

Falta de apps

Esse é apontado como o maior causador da derrocada do Windows Phone, embora esteja longe de ser o único. O sistema operacional vivia o dilema do biscoito: os usuários não adotam a plataforma porque ela não tem apps ou ela não tem apps porque os usuários não adotam a plataforma?

A Microsoft tentou quebrar esse ciclo de várias formas. Pagou para empresas desenvolverem aplicativos, tentou desenvolver aplicativos no lugar delas, tentou criar um ecossistema mais coeso com o desktop que criasse uma situação mais vantajosa para o desenvolvimento e distribuição, mas nada deu certo. Os apps não vieram e o público também não.

Falta de opções de celular

Quando entrou no mercado de celulares, a Microsoft acreditava que seu modelo de negócios do PC também seria um sucesso com os smartphones. Crie um sistema operacional e o licencie para fabricantes. Afinal de contas, se funciona nos PCs, por que não funcionaria com a mobilidade?

O problema, neste caso, tem nome: Android. O sistema operacional do Google fazia isso de graça, ainda que houvesse algumas imposições, como a pré-instalação dos aplicativos da empresa para que o aparelho pudesse ter acesso à Play Store.

O Android acabou ganhando popularidade muito rápido e se tornou para os smartphones o que o Windows é para os PCs. Quando a Microsoft percebeu que cobrar pelo seu sistema não dava certo, o mercado já estava estabelecido com o duopólio entre Android e iOS.

O resultado: a Nokia era a única fabricante que lançava celulares com Windows Phone. Todas as outras grandes fabricantes abraçaram o Android. Empresas do segundo escalão no mercado de celulares HP chegaram a dar uma chance ao sistema da Microsoft, mas nunca deu muito resultado.

Concorrência fortíssima

O iPhone é uma marca amada mundialmente. Todos os anos, pessoas fazem filas na frente de lojas da Apple para comprar a nova versão do aparelho. O Android não tem um celular tão amado quanto o iPhone, mas o sistema em si é adorado por um grupo gigante e muito leal, que vê no sistema um contraponto ao ecossistema fechado da Apple.

Com a disputa tão forte entre essas duas partes, ficou difícil para a Microsoft se estabelecer como terceira via. A situação chegou a um ponto em que não importava o quão bom fossem os produtos da empresa, ela simplesmente não recebia a mesma atenção do público que as rivais.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital