Racionalizar e priorizar: os eufemismos escolhidos pelo governo para a falta de investimentos no setor de TI no Brasil

Responsáveis por inovação têm muitas ideias para fazer o país avançar no segmento de tecnologia. E garantem que a racionalização dos processos e a priorização de ações são suficientes para conseguir o financiamento necessário. Será?
Roseli Andrion25/04/2019 23h58, atualizada em 26/04/2019 00h05

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Racionalizar parece ser o verbo mais querido no governo federal. Pelo menos é isso que dois representantes ministeriais responsáveis por inovação dão a entender — especialmente quando o tema é tecnologia e inovação. Paulo Alvim, secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e Luciano Cunha de Sousa, coordenador-geral de Tecnologias Inovadoras do Ministério da Economia, afirmam que entre as principais medidas de fomento à inovação no país está a racionalização dos processos.

Segundo Alvim, existe uma crise fiscal em curso no país e o orçamento atualmente disponível — que foi definido na gestão passada — deve ser administrado dentro dessa realidade. “Nesse contexto, é preciso ter claro que, para garantir o futuro, é essencial investir em educação, ciência e tecnologia”, diz, em conversa com o Olhar Digital. E como fazer isso, diante de tantos cortes, especialmente em educação? “Deve-se buscar descontingenciar alguns recursos, bem como encontrar fontes alternativas de financiamento.”

Basicamente, então, não há dinheiro para as ações necessárias — pelo menos por enquanto. Alvim explica que, com essa racionalização, é provável que se encontrem fundos para tal. E que, aí, é necessário priorizar o que é mais importante. “Inovação não é uma moda. É o único caminho para o desenvolvimento. Então, racionalizar e priorizar são ações essenciais para que o ambiente se torne favorável. E precisamos agir rápido: estamos na segunda década do século 21 e ainda não temos uma economia moderna.”

Integração e transversalidade

Esse processo passa pela convergência de ações, propósitos e escolhas em diferentes ministérios. “Temos de saber aonde queremos chegar para podermos ir nessa direção”, destaca Alvim. Sousa, do Ministério da Economia, concorda. “Se não investirmos em ciência e tecnologia, não teremos como competir mundialmente”, ressalta. Ele diz que o sistema tem recursos, mas que é preciso racionalizar seu uso e priorizar ações voltadas à melhoria da economia como um todo.

Sousa afirma que o setor de tecnologia é o primeiro de uma lista de segmentos que o ministério trata como prioritários. “Um dos atos mais importantes é a criação do Marco Legal de Startups, que entra em consulta pública na segunda-feira (30). A ideia é tornar as regras mais simples — e claras — para esse tipo de empresa.” Isso vai tornar os procedimentos menos burocráticos e oferecer mais segurança jurídica para quem investir nesses empreendimentos. “O Congresso nos prometeu votar rapidamente para que entre em vigor ainda neste semestre.”

Essa transversalidade entre órgãos distintos é, segundo eles, fundamental para que a engrenagem de fato funcione. “Enquanto o MCTIC se concentra na excelência acadêmica e no desenvolvimento do conhecimento, o Ministério da Economia se concentra em como isso pode ser aplicado nas empresas”, avalia Sousa. “Existe hoje nas universidades uma cultura de que é ruim usar o conhecimento produzido com dinheiro público para ganhar dinheiro no mercado. Isso precisa mudar para que todos ganhem.”

Uma das formas de fazer projetos de inovação e tecnologia ganharem a atenção de empresas — e, consequentemente, fomento por meio de investimentos — é com a ajuda de consultorias especializadas. “As organizações precisam de ajuda para identificar projetos e saber como usar os fomentos”, conta Rafael Costa, diretor técnico da F. Iniciativas. “Assim, as companhias podem fazer uma melhor gestão de financiamento de pesquisa e desenvolvimento.”

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital