É muito comum ouvirmos afirmações como: “o principal entrave para a adoção de cloud computing é a segurança de dados” ou “a integração de sistemas dificulta a contratação de serviços na nuvem”. No entanto, constatei que esses não são os principais problemas que impedem a computação em nuvem de avançar no Brasil. A dificuldade ainda está um passo atrás, em uma velha conhecida desse mercado: a falta de qualificação profissional e de parceiros, os chamados canais.
Estudamos o mercado, em uma parceria com a ISG (Information Services Group) e conversamos com as maiores companhias desse setor no Brasil. Entenda o cenário que encontramos.
Primeiro obstáculo
Os distribuidores no Brasil não estão focados em vender cloud. O negócio dessas empresas é vender infraestrutura. Como exemplos: servidores, banco de dados e licenciamento de software. Apesar de terem potencial de negócios em cloud, elas têm medo de começar a vender a nuvem e perder sua margem de faturamento com os ativos tradicionais. Além disso, o negócio tradicional que desenvolvem é reativo, ou seja, a venda ocorre porque o sistema velho precisa ser substituído ou o cliente precisa de capacidade adicional. Já a migração para cloud requer uma venda consultiva. Resultado: poucos distribuidores estão capacitados para vender a nuvem.
Segundo obstáculo
Do outro lado dessa problemática temos aquelas empresas que já faziam outsourcing de datacenter e que podem vender cloud. Mas, em sua maioria, elas também estão preocupadas em preservar a margem operacional. Imagine o dilema: “se eu migrar todo mundo do meu datacenter para a nuvem, o que eu faço com o meu datacenter?”. O cloud fica então estacionado em seus portfolios.
Terceiro obstáculo
A empresa que tenta adotar cloud sozinha
Todo CIO é desafiado pelo seu presidente a responder qual é a estratégia de cloud (ou qual a estratégia digital) para a empresa. O que avaliamos é que computação em nuvem já é uma realidade na agenda desses executivos. Eles até solicitam que seus times incluam a comparação com cloud. O problema é que o responsável da TI, que não sabe como fazer isso, tenta, sem pedir ajuda. É aí que começa a confusão. Existem fabricantes no mercado que possuem mais de 1.400 diferentes ofertas de IaaS, PaaS, microsserviços, serverless computing, infrastructure-as-a-code (IAC), etc. Então, qual escolher? Qual é a melhor para o negócio? Ele não sabe.
O que a companhia deveria fazer nesse momento seria parar tudo, enviar o seu time para cursos de qualificação nessas tecnologias e, então, voltar para dentro de casa e começar todo um processo de pesquisa pelo melhor provedor. O problema é que isso custa tempo e dinheiro. Poucas empresas estão dispostas a seguir adiante com recursos próprios. É mais fácil dizer que a nuvem não é segura.
Quarto obstáculo
Calma, ainda não é hora de descartar a possibilidade da adoção da tecnologia. Uma outra opção para esse profissional de TI seria buscar uma empresa parceira do fabricante no nosso país, certo? Infelizmente é aí que encontramos mais um entrave. Não existe número suficiente de parceiros qualificados em computação em nuvem no Brasil. O projeto de cloud computing esbarra na seleção dos parceiros, migração e operação da nuvem pública.
Os fabricantes internacionais de infraestrutura cloud estão ávidos por profissionalizar e desenvolver mais parceiros e canais de venda em terras brasileiras, mas encontram poucos dispostos a tentar. Na minha opinião, há um potencial enorme por aqui. Investir em qualificação é um tiro certeiro para amarrar projetos desse tipo com os clientes. E mais. As empresas que avançarem nesse sentido, ajudarão a desfazer os obstáculos, amadurecendo o conceito de nuvem por aqui. Está na hora de acabar com o medo de cloud.