Projeto Glória: plataforma de inteligência artificial será usada para o combate à violência contra a mulher no Brasil

Ao interagir com um robô batizado de Glória, a informação que se trocou sobre o assunto será acrescentada ao repertório do software, melhorando o conteúdo que chega aos usuários que o consultam.
Redação24/04/2019 17h47, atualizada em 24/04/2019 17h54

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A  Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados e a comissão externa que acompanha casos de violência doméstica lançaram na última terça-feira (23/4), o Projeto Glória, uma plataforma de inteligência artificial voltada para o combate à violência contra a mulher.

Cada vez que uma pessoa interagir com a personagem da plataforma, um robô batizado de Glória, a informação que se trocou sobre o assunto será acrescentada ao repertório do software, melhorando o conteúdo que chega aos usuários que o consultam.

Além do processo de machine learning, ou seja, da assimilação e aprimoramento constantes de informações, outra finalidade do programa é gerar relatórios que permitam o mapeamento das ocorrências, separando os dados a partir de faixa etária, local e dados socioeconômicos das vítimas.

A idealizadora do projeto, a professora universitária Cristina Castro Lucas de Souza, explicou que se trata de um trabalho de potência por ser colaborativo e por ter a capacidade de evitar que a violência se consume, uma vez que a proposta é fornecer esclarecimento tanto a vítimas como a mulheres que ainda não conseguem discernir o que é agressão.

Ciclo de violência

Muitas mulheres se sentem confusas quanto a estar ou não em um ciclo de violência porque o agressor é seu atual companheiro. No Distrito Federal,  seis em cada dez vítimas de feminicídios ocorridos entre março 2015 e março de 2019 estavam casadas ou tinham relação estável com os homens que as agrediam. Com a plataforma, haverá a possibilidade de que se pergunte, sem medo, se a situação é abusiva.

“Funciona dos dois lados, tanto para a vítima quanto para a questão informacional, a iniciativa privada, o governo, um manual de boas práticas dentro de uma empresa, como instrução para os homens que fazem certas brincadeiras, dizem frases e não sabem que [o machismo] é uma questão cultural”, disse Cristina.

Para a professora, a inferiorização da mulher é um valor que tem sido disseminado em todos os grupos populacionais do país, motivo pelo qual se pensou em construir uma robô que represente as mulheres em sua diversidade. “Pensamos que é mais do que um bot [diminutivo de robot, que significa robô, em inglês], que é um somatório de todas nós. Ao olhar para Glória, enxergo ela em muitos contextos: a mulher da periferia, a mulher rica. E essa vai ser a beleza dela: dar voz a qualquer mulher que precisar.”

Grande alcance

O projeto, conta Cristina, surgiu de uma inquietação antiga sua e se alinhavou de maneira mais clara após uma viagem à China. Lá, ela topou com uma robô e teve o estalo de que precisava para imaginar qual ferramenta teria um grande alcance. “Em 2015, fui convidada para participar de um programa criado no governo Obama. Lá, passamos por um treinamento sobre empoderamento feminino. Quando voltei para o Brasil, em 2017, me incomodava muito o fato de trabalhar com vários projetos sociais de gênero e não conseguir trabalhar com 100, 500 mulheres. Eu nunca achava que o número era suficiente para todas as problemáticas, para as dores que temos. Quantas não têm acesso, não estão atuando com isso?”, disse, comentando que a ideia é levar o projeto para o exterior.

Ao todo, cinco instituições – a Ink Inspira, de Gestão e Avaliação de Projetos Sociais; a Seedin, start up de desenvolvimento de projetos de inteligência artificial; a Qubo, empresa especialista em análise de dados; BlockForce, de modelagem e implementação de blockchain; e a Free Free, plataforma de apoio a mulheres vítimas de violência – estão contribuindo, inicialmente, com o projeto. A previsão é de que mais de 20 milhões de pessoas sejam beneficiadas, expectativa que, segundo Cristina, foi considerada, por algumas pessoas, alta demais.

“Algumas vezes, escutei: ‘Você é doida, é um número muito grande’. E respondo: ‘A gente está falando de 20 milhões, é apenas 10% da população do país. Portanto, se der certo, são só 10%. Então, tem que ser um projeto muito ambicioso, para dar chance a qualquer mulher de ter vida e direito a cuidados, a viver num mundo mais justo. Mulheres e meninas estão sendo mortas”, disse Cristina.

O projeto tem um perfil na rede social Instagram () e, a partir de amanhã (24), terá um site próprio no endereço www.eusouagloria.com.br, em que qualquer usuário poderá acessar e interagir com o robô Glória de forma anônima, caso prefira.

Fonte: Agência Brasil

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital