Profissões do futuro serão humanizadas ou tecnológicas? Os dois

A tecnologia dá o tom, mas quando são necessárias criatividade ou capacidade analítica não há nada como um toque humano
Roseli Andrion23/08/2019 22h42, atualizada em 23/08/2019 23h10

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Muitas profissões que já foram promissoras hoje estão quase na berlinda. Por outro lado, novas ocupações vão surgir — algumas delas são inimagináveis hoje, mas muitas serão apenas atualizações automatizadas de atividades que já existem e outras vão requerer habilidades essencialmente humanas.

Um estudo da Mckinsey sugere que, até 2030, de 3% a 14% dos trabalhadores em todo o mundo (75 milhões a 375 milhões de pessoas) terão de mudar de função. E todos os profissionais precisarão se adaptar ao uso de diferentes tipos de tecnologias — mesmo para atividades que não dependem diretamente delas.

Só para ficar em um exemplo do dia a dia, pense na Uber. Quando ela foi fundada, em 2009, em São Francisco, na Califórnia (EUA), a modalidade de transporte em carro particular de terceiros era dominada pelos táxis. Em 2014, em sua chegada ao Brasil, foi inicialmente menosprezada por aqueles que tinham licenças já estabelecidas para atuar no segmento.

E foi justamente aí que ela ganhou espaço, a partir do uso de ferramentas tecnológicas. Muitos similares surgiram e hoje competem no segmento. E os taxistas? Bom, aqueles que adotaram os aplicativos de transporte no dia a dia e desenvolveram capacidades multitarefa, trabalham normalmente, mas os que resistiram a essas mudanças têm enfrentado dificuldades.

Além da tecnologia: a busca pela humanidade

Dois levantamentos feitos pelo Center for the Future of Work (em 2017 e 2018) apontam 42 funções que devem se destacar nos próximos dez anos. As ideias vieram de macrotendências atuais em diferentes áreas, mercados e tecnologias. E quais habilidades, afinal, serão necessárias ao trabalhador no futuro? As mais variadas — e nem todas são tecnológicas.

A discussão sobre o tema começou com uma pergunta prosaica: “o que os humanos vão fazer quando as máquinas fizerem tudo?”. A equipe que desenvolveu o material, então, passou a analisar o comportamento dos indivíduos, não apenas a evolução tecnológica. “Muitas das profissões que apontamos no estudo de 2017 pareciam fantasia no primeiro momento”, diz Eduardo Guerreiro, Head de Digital Business da Cognizant no Brasil.

Algumas dessas ocupações já existem, mas seus nomes não foram atualizados — e talvez nem o sejam. É o caso, por exemplo, do conselheiro de comprometimento com a atividade física (muitas vezes chamado de fitness coach), do especialista em gerenciamento de assinaturas, do designer de experiência do usuário (que já lida com tecnologias de voz) e até do criador de jornadas de realidade aumentada.

As funções apontadas nos estudos pertencem a uma das três categorias a seguir:

  • instrução: profissionais que ajudam as pessoas a adquirirem novas habilidades;
  • cuidado: especialistas que atuam para melhorar a saúde e o bem-estar dos indivíduos;
  • conexão: responsável pela interação entre homens e máquinas, físico e virtual, comércio e ética, e outros.

Isso porque nem todo o desenvolvimento tecnológico foi capaz de eliminar a necessidade que nós, humanos, temos do ‘toque pessoal’. Afinal, a tecnologia deve ser um meio, apenas, não o fim. Em outras palavras, apesar de todo o avanço, não estamos a caminho de uma distopia cibernética: ao contrário, o progresso melhorou nossa vida, mas não retirou nossa humanidade.

Criatividade e capacidade analítica: nada as substitui

Guerreiro diz que algumas características humanas nunca vão ser substituídas pela tecnologia. “A criatividade e a capacidade analítica, por exemplo”, observa. “O trivial sempre vai ser necessário e a habilidade de criar algo a partir da necessidade é inata no ser humano.”

Ele destaca que, no futuro, haverá um interesse grande por atividades pouco tecnológicas. É um movimento cíclico em que a humanidade vai voltar às tarefas simples. “O que percebemos é uma volta da sensibilidade. Afinal, por mais desenvolvida que esteja a tecnologia, quem a usa é o ser humano.”

Um dos exemplos de ocupação de baixa tecnologia da era atual é o ajudante de felicidade. Segundo Guerreiro, esse profissional atua no Japão já há alguns anos. “Lá, o índice de suicídio é altíssimo. O ajudante de felicidade auxilia as pessoas a reencontrarem alegria nas coisas simples da vida”, diz.

Para quem quer se preparar para os próximos dez anos, uma boa ideia é usar as tecnologias já disponíveis para melhorar algo. “E em tempos de desenvolvimento acelerado da inteligência artificial, é preciso lembrar da ética. Até que ponto um robô é capaz de tomar a decisão correta, já que o fator emocional do ser humano nunca vai ser imitado perfeitamente?”, pondera.

Veja, a seguir, dez profissões que devem ganhar espaço até 2029 (encontre outras aqui e aqui). Se você está em busca de uma ideia do que fazer no futuro, elas podem servir de inspiração: basta decidir se prefere algo altamente tecnológico ou uma opção mais voltada ao contato humano.

Administrador de aquisição ética

Cuidar dos recursos, dos desperdícios e da comunidade: é isso que esse profissional faz. Ele é responsável por investigar, monitorar, negociar e estabelecer acordos que permitam alinhar a provisão de itens e serviços com os princípios éticos da companhia.

É essencial que ele seja capaz de definir as características do comportamento ético de acordo com o contexto da corporação. Por isso, uma das formações preferidas é a de filósofo — aliada à experiência como negociador e ao interesse por inovação.

Arquiteto de marés

Reprodução

Esse profissional vai trabalhar com a natureza, não contra ela. Por isso, deve compreender como o aquecimento global afeta os níveis dos oceanos. Entre as cidades que podem precisar dessa intervenção estão Osaka, Xangai, Alexandria, Rio de Janeiro, Veneza, Nova York e Miami.

Um especialista alinhado com essa área é o engenheiro de meio ambiente. E se ele tiver trabalhado em projetos que integram o progresso tecnológico nas cidades ao meio ambiente de forma a causar menos impactos, melhor ainda.

Conselheiro de reabilitação de cibercriminosos jovens

O cibercrime é uma realidade. E ele é cada vez mais comum entre os jovens: afinal, a possibilidade de obter dinheiro facilmente — em um cenário em que parece não haver vítimas — é muito atraente. O papel desse profissional é ajudar a reabilitar esses indivíduos e, paralelamente, ensiná-los a usar o universo virtual de forma ética.

A formação desse especialista pode ser tanto em tecnologia da informação quanto em psicologia. É importante, entretanto, que ele tenha experiência em lidar com jovens. Além disso, deve conhecer as tecnicalidades do cibercrime e os aspectos legais que o envolvem.

Curador de memórias pessoais

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Os seres humanos vivem cada vez mais e uma solução para que tenham uma melhor experiência quando idosos é a criação de ambientes virtuais em que possam morar. O curador de memórias pessoais desenvolve espaços que simulam experiências passadas e, para isso, precisa ter inteligência emocional aguçada para descobrir memórias importantes perdidas.

É preciso que ele seja acolhedor, encorajador e paciente. Deve ter habilidades de comunicação interpessoal e capacidade de empatia, bem como se importar verdadeiramente com o bem-estar alheio. Além disso, precisa ter interesse em inovação e ser um bom contador de histórias.

Engenheiro de dados descartados

Todos os dados jogados fora diariamente (que, se somados, certamente atingiriam os petaexa ou zettabytes) podem virar insights poderosos. É comum, entretanto, que sejam considerados inúteis quando não são usados por mais de 12 meses. Por isso, é preciso analisá-los cuidadosamente e inseri-los nos sistemas pertinentes para que realmente agreguem valor.

Experiência com ferramentas de análise de dados e tecnologias de inteligência artificial são importantes para a função. Além disso, espera-se que esse especialista tenha habilidades de comunicação interpessoal e colaboração.

Especialista em diversidade genética

Esse profissional é responsável por promover a igualdade genética nas companhias. Com o avanço tecnológico, é preciso integrar profissionais geneticamente melhorados na força de trabalho e garantir que a evolução, a remuneração e o reconhecimento sejam tratados de forma justa de acordo com as características de cada trabalhador.

O especialista deve ter formação em biologia ou genômica. É importante que ele seja capaz de criar relações de confiança e que tenha capacidades de comunicação interpessoal, bem como habilidade de interagir com colegas, subordinados e clientes.

Gerente de equipes homem-máquina

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A colaboração entre humanos e computadores é uma peculiaridade da nova força de trabalho. Combinar as capacidades de ambos em um mesmo ambiente é essencial para garantir que os objetivos da empresa sejam atingidos. Esse administrador deve identificar como homens e máquinas podem interagir em tarefas, processos, sistemas e experiências.

Formados em psicologia experimental ou neurociência com mestrado em ciência da computação, engenharia ou recursos humanos podem ser bons candidatos para a função. Esse profissional tem paixão por robótica e, paralelamente, é capaz de fazer o gerenciamento adequado de talentos.

Guia de bem-estar financeiro

Com a expansão dos bancos digitais, as opções relacionadas ao tratamento do dinheiro aumentaram. Esse profissional ensina o cliente a otimizar sua vida financeira em meio a tantas opções para que ele possa fazer essa tarefa sozinho de forma eficiente.

Para isso, é preciso que tenha capacidade de estabelecer e administrar relacionamentos com os clientes — o que inclui compreender as motivações deles e as diferentes personalidades. Deve, ainda, saber ouvir e fazer as perguntas certas, bem como resolver conflitos e aconselhar. É essencial que conheça regulamentações e políticas do segmento financeiro.

Guia de loja virtual

Algumas lojas online são tão grandes que é difícil saber tudo o que oferecem. Esse especialista oferece atendimento e aconselhamento ao consumidor virtual. É importante que ele seja atencioso, mas que não tente vender a qualquer custo: a ideia é garantir a satisfação do cliente a partir do conhecimento sobre o portfólio da loja.

Um dos diferenciais desse profissional é conversar de forma natural, não com base em scripts. É preciso ter ensino médio completo e experiência em vendas, bem como habilidades de comunicação e de organização, além de excelente atenção a detalhes. Conhecimento da área específica (moda, decoração, jardinagem e outras) dos produtos da loja é um diferencial.

Passeador/Conversador

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A expectativa de vida aumentou ao redor do mundo. Com isso, a quantidade de idosos que moram longe de familiares e necessitam de companhia cresceu. Esse profissional pode ir à casa do cliente para conversar ou encontrá-lo para passear — e, mais importante, dar a ele a atenção de que ele necessita.

Um bom passeador/conversador sabe ouvir, responder e incentivar o cliente a falar mais: ou seja, sua principal tarefa é prestar atenção. Ele deve ser capaz de usar dispositivos tecnológicos como aplicativos, relógios inteligentes e fones de ouvido sem fio.  Além disso, precisa ter habilidades de gerenciamento do tempo e atestado de antecedentes.

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital