Começa a funcionar nesta segunda-feira (9), o primeiro laboratório de bioengenharia de tecidos do Brasil. Trata-se de uma filial da Episkin, subsidiária da L’Oréal, instalada no Centro de Pesquisa e Inovação, no câmpus do Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Essa é a terceira Episkin em operação no mundo — há uma em Lyon, na França, e outra em Xangai, na China. A unidade vai produzir pele reconstruída para ser usada em testes de produtos como alternativa ao uso de cobaias animais.

Rodrigo De Vecchi, diretor-presidente da Episkin Brasil, conta que o uso de pele reconstruída no Brasil começou em 2016, em colaboração com o Instituto Idor. “A diferença é que agora o modelo está disponível para as comunidades científicas brasileira e latino-americana, bem como para empresas interessadas em adotar métodos alternativos.”

A UFRJ colabora com a L’Oréal há sete anos, especialmente na pesquisa para a obtenção de neurônios sensoriais humanos. Desde 1989, a marca não testa produtos em animais. “As pesquisas vão servir, por exemplo, para testes de coceira relacionados a alergias de pele. Também será fundamental no desenvolvimento de produtos mais eficazes contra o neuroenvelhecimento da pele”, diz De Vecchi.

Segundo ele, milhares de tecidos de pele e epitélios (como córnea) são produzidos toda semana sob rigoroso controle de qualidade. Os modelos da Episkin são os únicos validados e recomendados pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além disso, são aceitos em todo o mundo.

Como é o processo

Em cirurgias plásticas, fragmentos de pele são descartados. Aqueles doados pelos pacientes podem ser usados no processo de reconstrução. O primeiro passo é extrair deles os queratinócitos (a principal célula da epiderme) e submeter essas células a controle de segurança biológica.

No ambiente do laboratório, os queratinócitos ficam em placas de cultura: se multiplicam sobre uma membrana plástica e, depois de 17 dias em contato com o ar, formam todas as camadas da epiderme. A partir daí, o material pode ser usado para testar produtos e avaliar irritação cutânea, proteção solar, potencial alergênico e outros.

De Vecchi explica que esse modelo tem alto nível de reprodutibilidade e é histologicamente semelhante à epiderme humana ‘in vivo’. “Isso significa que ela pode ser usada em avaliações de segurança para produtos químicos cosméticos, bem como qualquer tipo de produto que toca a pele.”

O Brasil ainda não tem lei federal sobre o fim de testes em animais, mas há um projeto de lei no Congresso desde 2014. Apesar disso, oito estados (Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo) já têm suas próprias normas.

Fonte: G1