“Nós nos tornamos sábios não pela lembrança de nosso passado, mas pela responsabilidade com nosso futuro.” George Bernard Shaw (Dramaturgo e crítico irlandês -1856 – 1950)
O meio ambiente e países do terceiro mundo estão pagando um preço muito alto pela era digital. Cálculo recente provou que em 2017, cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico (e-waste) como são chamados os equipamentos eletrônicos descartados, suas baterias, celulares e até partes de brinquedos infantis, foram descartados pela sociedade. O mais espantoso é o ritmo com que isto vem aumentando: de 2017 para 2015 houve um aumento de 20% no lixo eletrônico descartado. O destino de todo esse material tóxico e danoso são países do terceiro mundo, em especial a cidade de Guiyu na China, Accra em Ghana e diversas cidades da Índia.
Desastre ecológico e social
Na Índia, 25 mil trabalhadores, boa parte crianças, são empregados em estaleiros de sucata em Nova Delhi por exemplo, onde 10 a 200 toneladas de resíduos eletrônicos são manipuladas a cada ano, sendo 25% de computadores. Em Guiyu, estimava-se que 80% das crianças sofrem de algum tipo de doença respiratória por causa do ar contaminado vindo de áreas de reciclagem ou lixões a céu aberto. A Organização Mundial de Saúde afirma que metais pesados, como chumbo e cádmio, presentes em componentes eletrônicos, mesmo em níveis baixos, podem ameaçar o desenvolvimento infantil e causar danos neurológicos. Em Accra, a contaminação ambiental do chumbo é predominantemente causada pela queima do revestimento plástico de fios de cobre. A fumaça liberada destes plásticos e metais utilizados nos componentes eletrônicos é altamente tóxica e cancerígena.
Palavras
Governos e ONGs em todo o mundo têm se mobilizado para regularizar empresas de reciclagem, mas isto não é suficiente. Nas últimas décadas, velocidade da inovação, pressão de investidores e busca alucinante por liderança de mercado fez com que o lançamento de novos produtos eletrônicos caísse para menos de um ano. Para seduzir consumidores a trocar/descartar seus equipamentos, práticas de marketing agressivas e uso de técnicas duvidosas de obsolescência induzida são usadas sem nenhum pudor. Então se esta é o caminho para o novo, não vejo outra solução para os produtos descartados senão a adoção global da “Logística Reversa”, a qual lida com o caminho inverso, isto é, do produto que está nas mãos dos consumidores até sua volta ao fabricante.
Transferir para sociedade, governos e ONGs a responsabilidade da reciclagem de eletrônicos é um absurdo, considerando a complexidade, perigo e danos ao meio ambiente e a saúde das pessoas durante a manipulação destes produtos. Reciclar eletrônicos é coisa de especialistas, de fato, é uma “engenharia reversa” que fabricantes conhecem muito bem, já que dominam o processo de montagem do começo ao fim. De fato, precisamos falar sobre lixo eletrônico em particular com a indústria de eletrônicos, seus CEOs, designers e gênios do marketing os quais precisam repensar sua postura irresponsável diante da sociedade e do meio ambiente e devem: [1.] investir na construção de parques próprios de reciclagem; [2.] inaugurar pontos de coleta de produtos usados em cada um de seus pontos de venda e [3.] reciclar seus produtos reutilizando materiais de forma sustentável.
Além das palavras
A motivação para este breve artigo veio da exposição do fotógrafo alemão Kai Löffelbein o qual passou sete anos documentando como metais são extraídos de componentes eletrônicos, muitas vezes em condições perigosas. O seu próximo livro, CTRL-X: A Topografia do E-Waste, contém fotografias que ele tirou em Gana, na China e na Índia. Veja mais.
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