A sexta geração da conexão de internet sem fio, procolo IEEE 802.11ax, também conhecida como W-Fi 6, é um passo importante para uma transmissão de dados mais rápida e segura. Em crescimento constante em todo mundo, no Brasil, esse fenômeno não é diferente. No entanto, se levarmos em consideração os obstáculos por aqui, não seria pessimismo dizer que o Wi-Fi 6 ainda vai demorar para ser incorporado nas casas e empresas de todo país.
A conexão possibilita o alcance de velocidades de até 500 Mbps em cada antena de um aparelho. Ou seja, falando de um celular 2×2 (duas antenas transmissoras e duas receptoras), ele poderá chegar a 1 Gbps. Mas isso não é o mais impressionante. A tecnologia chega a quadruplicar a capacidade de transmissão de dados das redes móveis de quinta geração (5G). Mas é aí que os problemas começam a aparecer.
Isso porque todo esse fluxo de informações precisa percorrer uma faixa de transmissão. E aquelas a partir de 6 GHz seriam ideais para o funcionamento perfeito do Wi-Fi 6 . No entanto, no Brasil, não existem nem mesmo essas estações que as transmitam. E o uso massivo de faixas inferiores poderia levar a um “estrangulamento” da conexão.
Falando sobre o usuário padrão, ele notaria com facilidade a melhora na experiência de conexão em uma rede Wi-Fi 6. Porém, essa sensação estaria relacionada a velocidade apenas. E é muito simplista reduzir essa novidade apenas como “mais rápida”.
Maior compartilhamento e economia de bateria
Outra vantagem do Wi-Fi 6 é que o seu protocolo, o 802.11ax, tem uma tecnologia chamada 8×8 MU-MIMO. Mas o que isso significa? Bom, trata-se do sistema que melhora as taxas de transmissão de dados em redes sem fio (MIMO – Múltiplas Entradas e Múltipas Saídas, em português). Ele aceita que até oito usuários se conectem para fazer dowloads ou uploads, simultaneamente e sem perda de velocidade. Esse MU-MIMO também beneficia o desempenho de dispositivos definidos como “legados” — aqueles compatíveis com as gerações anteriores de redes Wi-Fi.
Outro exemplo que mostra como as vantagens do W-Fi 6 não giram apenas em torno de velocidade é a tecnologia que promove economia no consumo de energia, e que leva o nome TWT (Target Wake Time). Desenvolvida pela Qualcomm, o TWT permite que os dispositivos “negociem” quando e com que frequência enviarão ou receberão dados. Isso aumenta o tempo de inatividade do dispositivo e, por sua vez, prolonga a vida útil da bateria.
Todas essas soluções são melhor utilizadas em ecossistemas grandes, que usufruam de toda as capacidades da conexão. Redes empresariais, públicas e hubs de transporte ganhariam muito com o 802.11ax, incluindo o que se aplica a Smart Homes e tecnologias como o Wi-Fi mesh, IoT, assistente pessoal e integração dos mesmos. Porém, sabemos da pouca abertura desse mercado no Brasil, que deve-se principalmente à barreira econômica — quantas pessoas você conhece têm condições de pagar mais de 15 mil reais em uma geladeira inteligente?
Nos futuros roteadores
A Qualcomm lançou o chip IPQ807x, devidamente certificado para fazer com que os roteadores de fabricantes parceiras sejam compatíveis ao Wi-Fi 6 — há rumores, inclusive, de que uma delas, a Ruckus, já está instalando alguns equipamentos comerciais com esse chipset por aqui. Porém não existe nenhuma previsão formal de quando esse componente será adotado em massa.
O QCA6390, chip da mesma companhia para dispositivos como smartphones, tablets, caixas de som conectadas e etc, também já está certificado e compatível com o Wi-Fi 6. Mas ele só chegará no exterior em 2020. E, novamente, não há previsão de quando desembarcará em terras brasileiras.
É verdade que há dispositivos no mercado que já suportam o Wi-Fi 6. No caso dos roteadores, alguns fabricados por Ruckus, Calix, Huawei, Netgear e Cisco. No entanto, se você pensa em comprar um desses, repense: você apenas pagará mais caro por eles e sequer aproveitará as vantagens da rede. E falando dos dispositivos móveis que contam com o componente, a lista traz o Xiaomi Mi 9, Xiaomi Mi Mix 3 5G, LG G8 ThinQ, LG V50 ThinQ, Sony Xperia 1, Lenovo Z5 Pro GT, e ZTE Axon 10 Pro 5G — mas vale lembrar que nenhum deles chegou aqui, com exceção do Mi 9, que aportará no Brasil via importadoras.
Não podemos negar a importância desse passo para a conexão e as facilidades que o acompanham. Nas palavras de Hamilton Matias, diretor de produtos da Qualcomm América Latina, “estamos no estado da arte em termos de tecnologia”. Mas falando sobre Brasil, essa arte toda ainda vai demorar para chegar.