Por que o Google resolveu ‘vazar’ imagens de seu próprio celular?

Empresa se antecipa aos vazamentos e toma controle sobre a divulgação do aparelho
Renato Santino13/06/2019 00h42, atualizada em 13/06/2019 00h50

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Esta quarta-feira, 12, foi movimentada no Google. Primeiro, vazaram uma série de informações sobre o Pixel 4, que mostravam o visual do celular e alguns recursos esperados, como o reconhecimento de gestos à distância. Depois, a própria empresa decidiu mostrar fotos do celular MUITO antes do lançamento, o que é pouco usual.

Tradicionalmente, o Google não revela a nova geração do Pixel com tanta antecedência. O lançamento do aparelho acontece em um evento que costuma ser realizado anualmente em outubro, quando a empresa também atualiza a linha de aparelhos “Made by Google”. No entanto, o retrospecto da companhia na contenção de vazamentos parece ter forçado esta nova situação.

Em 2018, todo mundo já conhecia o Pixel 3 com meses de antecedência. O aparelho foi provavelmente um dos mais vazados da história, chegando a aparecer em situações bizarras. Uma unidade do celular foi encontrada em um carro do Lyft, e o aparelho já havia vazado tanto que o motorista (dono de um Pixel 2 XL) reconheceu o dispositivo e mandou imagens para a imprensa especializada. O celular também havia sido fotografado em uso no transporte público e até mesmo havia sido roubado e comercializado no mercado negro.

Quando o Google divulga imagens por conta própria, está, antes de tudo, assumindo que não será capaz de conter os vazamentos como não foi no ano passado. Diante disso, preferiu ter a situação sob controle: se a própria empresa divulgar imagens, não há incentivo para que o material seja procurado em outras fontes, reduzindo a busca por vazamentos por parte da comunidade especializada. Isso dá ao Google a oportunidade de definir o que se fala sobre o aparelho e como a discussão em torno do novo Pixel se desenvolve até outubro.

É um sistema que traz seus riscos, obviamente. Steve Jobs, quando vivo, prezava por guardar seus lançamentos sob sete chaves. Quando, em 2010, o site Gizmodo conseguiu um protótipo do iPhone 4 que teria sido deixado em um bar, Jobs não poupou esforços para punir o site judicialmente, acusando-o de roubo e extorsão. No fim das contas, o processo não deu em nada, mas mostra o valor que o executivo dava para o sigilo para os seus produtos.

Evan Blass, jornalista que se notabilizou pela sua atuação como @evleaks e que conta com inúmeros vazamentos corretos em sua carreira, costuma dizer que vazamentos nas semanas que antecedem um lançamento podem até ser benéficos para uma empresa, com o intuito de gerar hype para o produto. No entanto, ao abrir o jogo sobre o lançamento com tanta antecedência, usuários interessados em um Pixel 3 podem evitar comprar o celular agora porque já sabem que dentro de poucos meses haverá um Pixel 4, provavelmente custando o mesmo preço que o 3 custa atualmente.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital