Não há como discutir a preferência do brasileiro pelo Android. Uma pesquisa recente da consultoria Kantar Worldpanel mostra que ao longo de um período de três meses encerrado em junho deste ano, 94,2% dos celulares adquiridos por aqui foram Android, contra 5,4% de aparelhos iOS e 0,4% de Windows.
Esse número mostra com clareza que a estratégia de diversificação do Android, que atende a absolutamente todos os públicos, tem funcionado muito bem no Brasil. Afinal de contas, boa parte da população não tem condições de pagar o alto preço dos produtos da Apple e precisa se virar com aparelhos de entrada e intermediários, faixa de mercado composta basicamente 100% dos aparelhos são Android. Em outras economias mais desenvolvidas o equilíbrio do mercado é maior; nos EUA, por exemplo, o iOS tem 38,7% do mercado, enquanto no Reino Unido a fatia da Apple é de 34,9% e no Japão chega a 42,9%.
Essa predileção do brasileiro pelo Android cria uma situação interessante e perigosa para a aposta mais recente do Google e de fabricantes de celulares: o Android Go. Para quem não sabe, a ideia dessa variação do sistema é bem simples: ser leve o bastante para ser usada de forma satisfatória em aparelhos com até 1 GB de memória RAM.
A ideia tem seus méritos, claro. Qualquer um que já tentou usar um smartphone Android com 1 GB de memória RAM nos últimos anos sabe o quão sofrível é isso. Com o Android Go, o Google poderia finalmente popularizar os smartphones em uma faixa populacional bem mais pobre, oferecendo uma experiência decente de uso a preços bem baixos.
O que se tem visto até o momento, no entanto, não poderia ir mais contra o último parágrafo. Até o momento, os aparelhos com Android Go que chegaram ao Brasil são de marcas pouco populares, como TCL, Alcatel, Quantum (Positivo) e Multilaser, e que acabam ficando fora do radar do brasileiro, que ainda valoriza marca. Basta ver a lista dos smartphones mais procurados no site de comparação de preços Zoom: todo mês, Samsung e Motorola dominam o top 10, mostrando que uma marca forte ainda faz diferença, mesmo havendo celulares alternativos mais baratos no mercado.
Diante desse cenário, chegamos ao aparelho com Android Go que mais teria chances no mercado brasileiro: o Moto E5 Play. Ele carrega a marca popular da Motorola e a tradição da linha Moto E, que já é bastante conhecida do público. No entanto, e aqui está o grande problema do aparelho, o preço de lançamento de R$ 800 torna impraticável a sua compra por uma série de motivos.
Por mais que o Android Go seja mais leve e otimizado para celulares de até 1 GB de RAM, por essa faixa de preço vale mais a pena procurar pelos celulares que tenham um hardware mais capaz e que tenham sido lançados no ano anterior. Por exemplo: um Moto G5 pode ser encontrado pelos mesmos R$ 800 de lançamento do Moto E5 Play, contando com um hardware infinitamente superior em termos de processador, memória RAM e tela. Não há literalmente nenhum motivo para preferir o Moto E5 Play sobre o Moto G5.
Se as fabricantes querem dar uma chance para o Android Go, precisam ter em mente as limitações dos aparelhos que usam o sistema operacional e lançá-los a um preço justo. O Moto E5 Play, por exemplo, não poderia jamais ser lançado por mais de R$ 500 em um mundo onde o Moto G5 pode ser comprado por R$ 800. É a definição mais clara de dar um tiro no próprio pé.