Por que a tela 4K do Xperia Z5 Premium não vale a pena

Renato Santino11/03/2016 20h15

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Chegou ao Brasil o Xperia Z5 Premium, o primeiro smartphone do mundo com uma tela com resolução 4K. Isso mesmo, o aparelho da Sony espreme 3840 linhas verticais e 2160 linhas horizontais de pixels em uma tela de 5,5 polegadas. Mas isso realmente significa que ele produz imagens mais nítidas?

A resposta é: provavelmente não. Uma resolução 4K pode até fazer diferença em uma televisão de mais de 60 polegadas, mas em uma telinha portátil de 5,5 polegadas, é difícil que ela ofereca melhorias significativas de fidelidade das imagens em relação, por exemplo, a uma tela com resolução 2K.

Há um agravante na questão do Z5 Premium: o aparelho exibe material em 4K, mas toda a interface e os aplicativos são exibidos em Full HD convencional, com o intuito de poupar desempenho e economizar bateria. Isso significa que na maior parte do tempo, a supertela 4K do aparelho é inútil.

Número de pixels
Isso porque, basicamente, a resolução se refere ao número de pixels contidos na tela. Conforme esse número aumenta, naturalmente se torna possível formar imagens mais nítidas. Chega um ponto, no entanto, em cada pixel ocupa um espaço tão minúsculo na tela que torna-se quase impossível sequer distinguí-lo a olho nu.

Uma tela com resolução Full HD 1080p terá  1920*1080 = 2073600 (dois milhões, setenta e três mil e seiscentos) pixels. Uma tela com resolução 4K, por sua vez, terá quatro vezes essa quantidade: 8294400 (oito milhões, duzentos e noventa e quatro mil e quatrocentos) pixels.

Teste

Por mais que o número de pixels seja quatro vezes maior, é possível perceber com um simples teste como esse aumento não deve fazer diferença em um smartphone. Assista a um vídeo no seu celular na maior resolução disponível. Em algum momento, pause o vídeo e tente visualizar os pixels que formam a imagem (isso é mais fácil de fazer em áreas com mudanças bruscas de cor).

Em uma televisão, isso é relativamente fácil de se fazer quando você se aproxima demais da tela. No caso de um smartphone, por outro lado, mesmo a distâncias completamente insensatas, é muito difícil “ver” um dos pixels da tela – ainda que a resolução máxima do celular seja 720p.

Agora, se mesmo nesses casos é quase impossível distinguir os pixels individuais que compõem as imagens, imagine se cada pixel tivesse apenas cerca de 1/4 do tamanho que tem? Se a estrutura dos píxels da imagem já era “invisível”, a imagem não se tornará necessariamente melhor por ser “mais invisível”.

Desvantagens

Não é que uma tela 4K em um smartphone seja algo ruim: ela não vai prejudicar sua visão ou algo do tipo. No entanto, integrar uma tela de resolução tão alta em um dispositivo móvel implica certos custos que, talvez, não valham a pena comparados ao retorno que a tela traz.

O primeiro deles afeta o bolso: obviamente, um display 4K é mais caro de se produzir que displays de resolução menor. Esse custo adicional certamente será refletido no preço final do dispositivo.

Além disso, uma tela que precise mostrar mais de oito milhões de pixels por vez exigirá mais poder de processamento do dispositivo para funcionar. Em outras palavras, será necessário equipá-lo com um processador mais veloz – ou deixar um processador mais lento para reduzir o custo, sacrificando desempenho.

E a necessidade de processar e iluminar todos esses pontos na tela também terá, obviamente, um custo em termos de energia. Para uma TV ou computador, isso não seria um problema, já que esses aparelhos ficam constantemente conectados a uma fonte de energia. Smartphones, por outro lado, usam bateria, e quanto mais pixels exigirem iluminação e processamento, menos a bateria durará.

Ressalvas

Então, a atitude da Sony de criar um smartphone com display 4K é “errada”? Não necessariamente. Uma possível situação em que o 4K fará diferença será em Realidade Virtual, quando a tela estará extremamente próxima dos olhos dos usuários. Pode ser isso que a empresa tinha em mente ao desenhar o Xperia Z5 Premium. A distâncias mínimas dos olhos, a quantidade enorme de pixels concentrados no painel fará diferença.

Além disso, o pioneirismo certamente tem um valor, e o fato de a Sony ser a primeira empresa a lançar um smartphone com tela 4K certamente ajuda a consolidar a imagem de empresa de inovação e experimentação. Essa consolidação da imagem pode ser mais valiosa para a empresa do que a fidelidade das imagens que o aparelho produz.

E, é claro, sempre haverá consumidores com vontade de colocar as mãos no que houver de mais recente em termos de tecnologia de reprodução de imagens. Não há nada de “errado” nisso. O que se deve ter em mente, no entanto, é que pixels não são tudo.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital