Por que a Motorola lançou dez smartphones neste ano – e pode lançar ainda mais

Redação01/08/2017 19h50, atualizada em 01/08/2017 20h10

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A Lenovo, empresa chinesa que desde 2014 é dona da marca Motorola, lançou nesta terça-feira, 1, dois smartphones: o Moto G5S e o Moto G5S Plus. Com eles, o portfólio da companhia para 2017 chegou a impressionantes dez modelos diferentes vendidos ao redor do mundo.

Isso significa que, em média, a empresa colocou no mercado 1,4 smartphone por mês no mercado. A estratégia lembra o que a coreana Samsung fez em 2015, quando, ao todo, lançou nada menos do que 20 celulares diferentes somente no Brasil.

A obsessão da Lenovo/Motorola começou em fevereiro, na Mobile World Congress 2017 – maior feira do mercado de tecnologia móvel do mundo, realizada na Espanha. Os primeiros lançamentos da empresa foram o Moto G5 e o Moto G5 Plus, que representam a quinta geração do principal celular da marca.

A linha Moto G nasceu em 2013, quando a Motorola ainda pertencia ao Google. Naquele ano, a empresa colocou apenas dois smartphones com a marca Moto nas lojas: o já citado Moto G e o premium Moto X. No ano passado, só o Moto G teve três versões diferentes: o Moto G4, o Moto G4 Plus e o Moto G4 Play.

Neste ano, porém, o volume parecia menor quando apenas duas versões do Moto G chegaram. Mas foi só em maio deste ano que as reais intenções da Motorola começaram a se mostrar. A empresa lançou em alguns países o Moto C, smartphone de entrada com configurações bem modestas custando o equivalente a R$ 300.

Não parou por aí. No mês seguinte, o ritmo de lançamentos ficou ainda mais frenético. Foi em junho que chegou ao mercado o quarto smartphone da empresa no ano, o Moto Z2 Play, custando R$ 2.000 no Brasil. Apenas 12 dias depois surgiram o Moto E4 e o Moto E4 Plus, que chegaram ao nosso país acompanhados ainda do Moto C Plus.

Na última semana, foi a vez de o Moto Z2 Force, top de linha com tela “inquebrável”, ganhar espaço nos holofotes. E, neste primeiro dia de agosto, chegaram o Moto G5S e o Moto G5S Plus, trazendo o número total de smartphones com a marca Moto lançados em 2017 a dez.

Segundo semestre

O ano está apenas na metade, e, portanto, há chances de que os lançamentos não tenham parado por aqui. Em maio, o jornalista Evan Blass – conhecido por revelar informações sigilosas antes do anúncio oficial das empresas – vazou uma imagem mostrando o mapa de lançamentos da Motorola para o ano de 2017 após os dois primeiros modelos do Moto G5.

Quase todas as promessas se cumpriram, incluindo o Moto G5S e o G5S Plus anunciados hoje. Só falta um: o Moto X4, que já teve imagens e especificações vazadas há semanas e pode ser confirmado em breve. Há também a remota possibilidade de um Moto Z2, para acompanhar o Z2 Play e o Z2 Force, embora as chances sejam bem pequenas.

Essa estratégia de inundar o mercado com smartphones, naturalmente, gera muita confusão nos consumidores. Especialmente se compararmos especificações e preços. O Moto E4 Plus e o Moto G5, por exemplo, podem ser encontrados custando quase a mesma coisa, entre R$ 900 e R$ 1.000 no Brasil, o que os torna quase concorrentes.

Caso semelhante é o do Moto G5S Plus, anunciado hoje, e o Moto Z2 Play, que ocupam faixas de preço semelhantes e deixam dúvidas quanto ao que o vindouro Moto X4 poderá oferecer de diferencial. É impressionante como a linha de produtos da Motorola mudou de 2014 (focada em Moto E, Moto G e Moto X) até 2017 (Moto C, Moto E, Moto G, Moto Z e Moto X, com inúmeras variações).

Mas por quê?

A Motorola não é a primeira a fazer isso. Em 2015, a Samsung chamou a atenção por lançar nada menos do que 20 smartphones somente no Brasil: Galaxy A3, A5, A7, E5, E7, Note Edge, Win 2, J1, S6, S6 Edge, S6 Edge Plus, Ace 4 Neo, Note 5, J5, J7, Gran Prime 4G, J1 Ace, S5 New Edition e Galaxy On7.

O que as fabricantes ganham com isso? Segundo uma pesquisa da empresa de consultoria Counterpoint Research, essa estratégia levou a Samsung a dominar 40% do mercado de smartphones do Brasil em 2015. No ano seguinte, o domínio subiu para 46%, deixando a Motorola em segundo lugar com 12,9%. Um outro estudo, este da Porto Seguro, apontava que 50% dos celulares vendidos no Brasil em 2015 eram da Samsung.

Não é difícil, portanto, concluir que entupir o mercado de opções pode levar a mais vendas e, consequentemente, maior domínio sobre o mercado, ainda que não resulte em mais lucros para as empresas. Talvez seja isso o que a Lenovo está buscando: tomar o lugar da Samsung e assumir o posto de líder, pelo menos em alguns países.

Passado conturbado

No evento de lançamento do Moto E4, Moto E4 Plus e Moto C Plus no Brasil, o Olhar Digital questionou dirigentes da Motorola sobre essa estratégia. A resposta, ainda que vaga, foi de que a marca Moto assumiu para si os produtos que, um ano atrás, teriam saído com a marca Vibe, que pertencia exclusivamente à Lenovo.

Vale lembrar que a relação da Lenovo com as marcas Moto e Motorola tem sido conturbada desde que a chinesa colocou US$ 2,91 bilhões nas mãos do Google para tirá-las da Califórnia. Em janeiro de 2016, a Lenovo anunciou que a marca Motorola deixaria de existir, sobrando apenas “Moto by Lenovo” e “Vibe by Lenovo”, duas linhas quase concorrentes.

No começo deste ano, porém, a companhia mudou de ideia: acabou com a marca Vibe e ressuscitou a Motorola. Agora, todos os smartphones feitos sob o guarda-chuva da chinesa, seja pelo seu próprio time de desenvolvimento ou pelo time que veio da Motorola, saem com o nome da marca mais famosa.

Resta saber se todo esse investimento vai valer a pena no fim das contas. Desde o ano passado, a Lenovo tem registrado prejuízo com sua divisão de dispositivos móveis. Segundo o presidente financeiro da companhia, os lucros virão “num futuro próximo“. Se a estratégia de inundar o mercado com celulares é a aposta certa, só esse futuro dirá.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital