Por que a câmera Portal, do Facebook, não é uma boa ideia (ainda)

Equipe de Criação Olhar Digital31/10/2018 13h30

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O Facebook anunciou há pouco tempo sua webcam chamada Portal, que será comercializada a partir do mês que vem nos EUA. Ela é inteligente e supostamente projetada para tornar as conversas por vídeo-chamadas mais imersivas e com mais liberdade ao usuário, pois ela acompanha seus movimentos e garante que você fique visível o tempo todo.

Reprodução

A descrição do produto parece bem atraente, porém nos faz ficar com uma pulga atrás da orelha. Diante do fato recente de brechas de segurança no Facebook, que puseram a integridade de 50 milhões de contas em jogo, por que deveríamos confiar em uma webcam dessa rede social nos filmando dentro de casa?

O próprio CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, usa fita adesiva na webcam de seu computador e ele deseja vender uma com a marca da sua rede social para usarmos em nossas casas? Isso realmente nos deixa, no mínimo, confusos, para não dizer desconfiados.

Mas parece que a empresa também está ciente de quão ridículo isso soa. Em seus materiais de lançamento, o Facebook colocou a privacidade e a segurança em primeiro plano , concentrando-se nos vários passos que a empresa tomou para tornar o Portal o mais seguro possível.

Isso inclui designs de hardware simples, como uma capa de câmera, que você pode deslizar quando não estiver usando a webcam, até recursos mais técnicos, como ter a IA (inteligência artificial) que executa o processamento diretamente no dispositivo, em vez de ser processado no Facebook.

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Isso tranquiliza um pouco e o Facebook parece ter usado a estratégia certa, mantendo o produto a uma distância segura da rede social e o tornando apenas um comunicador, um dispositivo “bacana” pra ter em casa, como se fosse o videofone dos Jetsons.

No entanto, há mais ingredientes nesse cozido. Acontece que o Facebook pode, de fato, usar os dados coletados em seu dispositivo de vídeo doméstico para segmentá-lo com anúncios. Segundo o site Recode, a própria companhia afirmou que o Portal não tem anúncios, mas dados sobre quem você chama e dados sobre quais aplicativos você usa no gadget podem ser usados para segmentá-lo com anúncios em outras propriedades da rede social.

Por exemplo, o fato de você ouvir o Spotify ao fundo enquanto está conversando com alguém – será usado para segmentar usuários com anúncios no Facebook.

Como a empresa em questão tem 90% da sua receita baseada em publicidade, isso não surpreende. É o meio que ela conhece muito bem para ganhar dinheiro. E um dispositivo desses ia gerar não apenas publicidade, mas muita conversão em vendas, já que os anúncios seriam muito bem direcionados por causa da coleta de dados precisa.

Parece então que o Facebook está desenvolvendo hardwares porque está perdendo terreno na sua rede social e, somado a isso, não pode perder o timing para seus concorrentes, como Amazon e Google que já comercializam seus dispositivos inteligentes pessoais, a Alexa e o Google Home, respectivamente.

Mas parece também que o Facebook não está ainda sabendo direcionar seu produto. A comunicação da empresa ainda não está clara quanto a coleta de dados que o Portal pode realizar.  E comprar um produto de US$ 200 que vai transmitir audio e imagens de nossas casas por meio de uma rede que já criou polêmica por brecha de seguranças, não parece ser uma boa ideia.