A polícia da cidade de Tempe, nos Estados Unidos, divulgou hoje por meio do Twitter um vídeo do momento em que o carro autônomo da Uber atingiu e matou Elaine Herzberg, uma mulher de 49 anos. Embora a polícia houvesse alegado que não revelaria imagens do incidente enquanto a investigação não estivesse concluída, as autoridades parecem ter mudado de ideia.
O vídeo de 22 segundos compila dois ângulos diferentes do incidente: um da câmera externa do carro, que olhava para fora, e outro da câmera interna, focada na condutora que estava no veículo para casos de emergência. A colisão ocorre por volta dos 5 segundos do vídeo, e a reação da motorista aparece aos 20 segundos. Ele pode ser visto abaixo (contém imagens fortes):
Tempe Police Vehicular Crimes Unit is actively investigating
the details of this incident that occurred on March 18th. We will provide updated information regarding the investigation once it is available. pic.twitter.com/2dVP72TziQ— Tempe Police (@TempePolice) 21 de março de 2018
Segundo o The Verge, a condutora que estava presente no carro no momento do incidente era Rafaela Vasquez, uma moça de 44 anos. Vasquez teria dito à polícia que “foi como um clarão, a pessoa entrou na frente” do carro, e que “o primeiro alerta para a colisão foi o som da colisão”. O vídeo deixa claro que embora a pedestre tenha entrado subitamente no campo de visão dos faróis do carro, ela vinha andando numa velocidade constante, desmontada de sua bicicleta.
Poucos momentos antes da colisão, a condutora tirou os olhos da estrada por algum motivo que não fica claro no vídeo – pode ser uma breve distração, mas também pode ter aparecido algum alerta no painel do carro. De acordo com o Engadget, embora a estrada estivesse escura, isso não deveria atrapalhar o funcionamento do carro – os veículos autônomos atuais usam uma tecnologia chamada LIDAR, uma espécie de radar que funciona com luz, e que é capaz de enxergar quase perfeitamente no escuro.
Fora isso, o site considera que se as condições da estrada estivessem tão ruins a ponto de prejudicar a visão do LIDAR, o carro deveria ter trafegado em velocidade reduzida – algo que o vídeo deixa claro que ele não fez. Como a polícia não divulgou quaisquer dados do funcionamento do carro durante o acidente, não é possível saber com certeza se o sistema tentou reduzir a velocidade do carro quando detectou a pedestre – mas não parece ser o caso.
Repercussão
Um porta-voz da Uber disse que “o vídeo é perturbador e vê-lo é de partir o coração, e nossos pensamentos seguem com os entes queridos de Elaine”. Num comunicado à imprensa estrangeira, a empresa reforçou que seus carros autônomos “permanecem parados, e estamos auxiliando as autoridades locais, federais e estaduais de qualquer maneira que podemos”.
Em entrevista ao Engadget, Edmond Awad do MIT Media Lab considerou as condições do acidente suspeitas para a Uber. “Dado que o alcance do sensor da visão do carro é limitado nessas condições, o carro não deveria ter ajustado sua velocidade para um nível no qual ele conseguiria reagir a tempo?”, questionou. O parecer de Awad vai de encontro às primeiras impressões da polícia local, segundo a qual o carro poderia “não ser culpado” pelo incidente.
Depois do incidente, a Toyota resolveu tirar seus carros autônomos das vias públicas e continuar a testá-los apenas em ambientes controlados. Segundo a empresa, sua principal preocupação era com o “efeito emocional” que o incidente da Uber poderia ter sobre os condutores que ficam dentro de seus carros autônomos para casos de emergência.
Mesmo com o vídeo, o The Verge considera que ainda há uma série de questões envolvendo os acidentes. Primeiramente: considerando que o carro está equipado com sensores capazes de ver um pedestre nas condições em que Herzberg estava, o que aconteceu? O sistema não a reconheceu, ou o carro teve algum problema na hora de aplicar os freios? Também não fica claro por que a condutora se distraiu da estrada, ou mesmo se ela poderia ter feito algo para impedir o incidente.