A ideia de tornar algo completamente invisível, seja um objeto ou você mesmo, ainda está um pouco distante do que vimos na Caverna do Dragão ou em Harry Potter. Mas pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa Científica de Montréal, no Canadá, conseguiram dar um passo importante nesse processo recentemente: desenvolveram uma técnica de invisibilidade que realmente funciona. O método é diferente de outros já testados pela comunidade científica na forma como trata a propagação de luz – e, curiosamente, tem aplicações práticas e imediatas nas telecomunicações.

Alguns dos conceitos de capas de invisibilidade testados até hoje funcionam basicamente de uma mesma forma: eles alteram a forma como um raio de luz se espalha depois que é refletido por um objeto ou superfície. O problema é que, ao fazer isso, as soluções “forçam componentes com frequências diferentes em uma mesma onda de luz […] a passar por variações diferentes de fase”, como explica um resumo do estudo, de autoria dos pesquisadores Luis Romero Cortés, Mohamed Seghilani, Reza Maram e José Azaña.

Na prática, isso significa que as ondas de luz são distorcidas, o que faz com que as capas de invisibilidade não tornem um objeto realmente imperceptível. Além disso, ao ter que lidar com a luz natural, as soluções podem simplesmente não funcionar – a luz do sol tem em seu espectro de faixas visível todas as cores possíveis, como explicou o pesquisador Josu Hernández-García em um artigo sobre o estudo, publicado no El País.

Créditos da foto:  Luis Romero Cortés and José Azaña, Institut National de la Recherche Scientifique

O novo conceito propõe uma variação desse método. Ele também redistribui o conteúdo da luz, “permitindo que a onda se propague através do objeto”, mas impede qualquer interação entre a os dois. De forma simplificada, um objeto é visto como verde porque ele reflete as ondas de luz na frequência do verde. A solução serve como uma “capa” sobre o objeto – um cubo, por exemplo –, que redistribui esse raio de luz para outras frequências, como a do amarelo, e depois restaura sua amplitude e sua fase originais. Assim, a onda passa direto pelo cubo verde, sendo alterada no meio do caminho, mas voltando ao normal em seguida.

Mas e as telecomunicações?

Ok, agora que você entendeu como a técnica funciona, fica a dúvida: como, afinal, isso é aplicado nas telecomunicações? Segundo um especialista consultado por Hernández-García, a solução poderia ser aplicada para propagar sinais de forma diferente, reorganizando o espectro de energia do sinal para reduzir interferências, ruído e dispersão.

Um artigo do ScienceDaily vai além na explicação. Segundo o texto, os sistemas de comunicação usam “ondas de banda larga como sinais de dados” para transferir informações. Essa mesma técnica da capa de invisibilidade poderia, então, ser usada para determinar quais operações são aplicadas em uma onda de luz e quais ficam ‘invisíveis’ a ela em certos períodos de tempo”. Funcionaria mais ou menos como uma técnica de criptografia diferente que, em vez de embaralhar os dados, simplesmente os esconde. Assim, um eventual cibercriminoso que tentasse interceptar o tráfego em uma rede de fibra óptica não conseguiria ver a informação.

Por enquanto, a pesquisa envolveu apenas uma dimensão, mas os pesquisadores afirmaram estar trabalhando “na generalização das equações para tornar um objeto visível em duas dimensões”. Ainda não há previsão, mas eles também pretendem “chegar algum dia a objetos tridimensionais macroscópicos”, ou seja, visíveis a olho nu.