Uma nova era da produção de eletrônicos pode estar a caminho. Em vez de apostar em mão de obra humana ou até mesmo robótica, cientistas do MIT decidiram recorrer a outro método de montagem: deixar que o eletrônico monte a si próprio.
O Self Assembly Lab do instituto, dirigido por Skylar Tibbits, foi concebido com um propósito muito claro, de desenvolver materiais e objetos que possam ser programados para se montarem por conta próprias. O projeto já recebeu até mesmo investimento da DARPA, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa do governo dos Estados Unidos, para fazer experimentos com materiais especiais do tipo.
O mais novo fruto desta empreitada surgiu com uma colaboração com o designer brasileiro Marcelo Coelho: um celular capaz de se construir sozinho, sem depender de intervenção humana ou automação tecnológica. Basta jogar as peças dentro de um cilindro que lembra bastante um misturador de cimento; dependendo da velocidade em que ele gira, o processo de montagem pode demorar apenas um minuto.
O protótipo ainda bastante bruto inclui seis partes que se montam e se transformam em dois celulares diferentes. Conforme o cilindro gira, as peças se encaixam nos lugares certos e os aparelhos saem prontos.
Parece simples, mas há algumas variáveis importantes no processo. O primeiro é que a velocidade do cilindro não pode ser muito lenta, para que as peças se movam e se encontrem, nem muito rápida, senão elas acabam quebrando. Cada componente conta com mecanismos feitos para que as partes corretas se encaixem e as incorretas não se unam. Por fim, é necessário usar alguma coisa que faça com que as peças fiquem “grudadas”, o que no caso são imãs de polaridades variantes, feitos para que apenas as partes que devem se juntar sejam atraídas umas pelas outras.
Tibbits explica à Fast Co Design que o projeto, que começou a ser desenvolvido em 2013, ainda está “arranhando a superfície”, mas mostra como alguns componentes, uma fonte de energia e as interações corretas podem dar origem a um eletrônico sem a intervenção humana ou robótica.
Por estar em fase experimental, o conceito ainda tem um baixíssimo orçamento, mas mostra promessas interessantes, que permitem imaginar o uso em escala muito maior. Imagine uma tonelada de componentes jogados em um cilindro, por exemplo. Pode ser uma forma de economizar na produção de eletrônicos para vendê-los de forma mais barata.
Do ponto de vista de design, Tibbits tem uma ideia curiosa: misturar este conceito com o do projeto Ara do Google, de aparelhos modulares. “Atualmente, o telefone é predeterminado, e estamos usando este processo para montar este telefone. Mas imagine que você tem um circuito e você tem diferentes blocos lógicos e estes blocos são colocados no cilindro: você pode ter diferentes funcionalidades”, conta ele, pensando que cada celular pode ser diferente e único.