Pesquisa diz que sarampo é 1.500 anos mais antigo do que se pensava

Um pulmão conservado desde 1912 forneceu material genético para que cientistas pudessem formular a hipótese de que o sarampo pode ter surgido ainda na Antiguidade, por volta do século 4 a.C.
Renato Mota09/01/2020 18h45

20200109035211-1920x1080

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Uma menina de dois anos, que morreu de sarampo em 1912, está ajudando pesquisadores a encontrar a origem da doença – e suas primeiras manifestações entre seres humanos. Um novo estudo, publicado no periódico científico bioRxiv, sugere que o sarampo possa ter migrado da peste bovina pelo menos 1500 anos antes do que se imaginava.

O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que se apresenta com erupção cutânea, febre e sintomas respiratórios. O Brasil se encontra em meio a um surto ativo da doença. De acordo com o Ministério da Saúde, até novembro passado foram confirmados 11.896 casos e 15 óbitos – a maioria, 11.095 (93,2%) concentrados no estado de São Paulo, principalmente na região metropolitana.

Para estimar a época em que o sarampo se tornou endêmico em populações humanas, os pesquisadores procuram por divergências genéticas entre o Measles morbillivirus (MeV), o vírus que ataca humanos, e o Rinderpest morbillivirus (RPV), sua versão mais antiga, que causa a peste bovina. Até então, os estudos mais confiáveis estimavam essa separação tendo ocorrido no final do século 9 d.C.

Porém, amostras do vírus retirada de um pulmão conservado desde 1912 no Hospital Charité de Berlim, na Alemanha, traz o mais antigo genoma do vírus sequenciado até hoje, e aponta numa direção diferente. “Nossas análises mostram que o vírus do sarampo potencialmente surgiu no século 4 a.C., reacendendo a hipótese recentemente contestada de uma origem antiga dessa doença”, afirma o documento publicado na bioRxiv.

Os pesquisadores examinaram uma coleção de amostras de pulmão coletadas por pelo médico Rudolf Virchow e seus assistentes entre as décadas de 1870 e 1930, e identificaram um caso de 1912, de uma menina de dois anos diagnosticada com broncopneumonia fatal relacionada ao sarampo. O material genético foi recuperado e os cientistas puderam sequenciar o genoma do vírus.

A descrição clínica mais antiga do sarampo é atribuída ao médico persa Rhazes, do século 10 d.C. Porém, os pesquisadores justificam que Rhazes estava extremamente familiarizado com a literatura médica disponível em sua época, e teria feito uso de fontes anteriores.

“Os textos médicos indianos provavelmente descrevem o sarampo vários séculos antes de Rhazes. O diagnóstico diferencial do sarampo permaneceu um desafio até os tempos mais recentes, portanto qualquer ‘peste’ em larga escala descritas no primeiro milênio da Europa ou da China poderia refletir surtos de sarampo”, aponta o estudo.

Uma origem mais antiga para a doença está em sintonia com o grande aumento no tamanho da população na Eurásia e no sul e leste da Ásia na antiguidade. “Populações grandes o suficiente para suportar a transmissão contínua de MeV existem na Eurásia desde o primeiro milênio a.C. Assentamentos no norte da África, Índia, China, Europa e Oriente Próximo começaram a apresentar surtos de sarampo por volta de 300 a.C., presumivelmente pela primeira vez na história”, conclui a pesquisa.

Via bioRxiv

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital