O Facebook vive da coleta de dados dos usuários, e isso não é segredo para ninguém. No entanto, um artigo publicado no New York Times reconstrói uma realidade distópica imaginada pelos engenheiros da empresa a partir das patentes registradas ao longo dos anos, na qual não há qualquer limite para os métodos de coleta de dados.

É fato, no entanto, que nem todas as patentes se transformam em ferramentas que chegam aos usuários. É assim em toda a indústria de tecnologia: muitas vezes, empresas registram essas ideias apenas como forma de proteção de propriedade intelectual, sem intenção de aplicá-las em um produto real. “A maior parte das tecnologias descritas nestas patentes nunca foi aplicada em nenhum dos nossos produtos e nunca serão”, afirmou à publicação Allen Lo, vice-presidente do Facebook.

No entanto, ainda que as patentes nunca sejam de fato aplicadas, elas mostram de um modo geral a visão da empresa. “Um portifólio de patentes é um mapa de como a empresa pensa sobre os rumos de sua tecnologia”, explica Jason M. Schultz, professor de direito na Universidade de Nova York, escutado pela publicação.

Veja alguns dos exemplos:

Identificar a sua câmera

A ideia do Facebook com sua patente é reconhecer alguns detalhes mínimos na lente da sua câmera, como pequenos riscos que acabam se refletindo nas fotos. Para quê? A ideia é reconhecer se uma foto tirada com a sua câmera foi publicada por um amigo graças a essa “assinatura” criada a partir de microdefeitos da lente. A partir daí, o Facebook poderia sugerir que você fosse marcado na foto ou compreender o grau de afinidade que você tem com alguém com base no número de imagens capturadas com a sua câmera que alguém compartilha.

Escutar o que você está assistindo

Mark Zuckerberg jurou em depoimento ao congresso dos EUA que o Facebook nunca usa o microfone dos usuários sem autorização para escutar conversas e outros sons ambiente. No entanto, uma patente da empresa sugere um recurso que faz exatamente isso. O registro em questão sugere a capacidade de ativar o microfone para reconhecer o som dos programas de TV que você está assistindo para entender seus hábitos de consumo de mídia; assim, seria possível descobrir se você gosta de filmes de ação, séries de comédia, novelas e etc. para, como sempre, servir anúncios direcionados mais eficazes.

Descobrir sua personalidade

É fato que o Facebook sabe do que você gosta e do que você não gosta com base nas suas atividades e no tipo de conteúdo que você consome na rede social e nas páginas que você acessa que tenham algum tipo de plugin da empresa. No entanto, a empresa também quer conhecer seu público mais profundamente com base em sua atividade online, incluindo seus posts e mensagens que você troca pelas plataformas do Facebook. A ideia da patente é reconhecer traços de personalidade como extroversão e estabilidade emocional para servir anúncios e conteúdo mais direcionado no feed de notícias.

Prever seu futuro

O Facebook não é Mãe Dinah e não pode ler o seu futuro no tarô, búzios ou na borra de café, mas a empresa pode, sim, compreender se há alguma mudança prestes a acontecer na sua vida, graças às informações a que tem acesso. Por meio dos seus posts e ao seu registro de compras e localização, o poderia Facebook, de acordo com uma patente, deduzir quando você está prestes a se formar, quando você está prestes a ter um filho ou até mesmo quando uma morte está prestes a acontecer com algum ente querido, ou até mesmo com você.

Descobrir a sua situação de relacionamento

Sabe todas aquelas vezes que você entrou no perfil da sua ou do seu ex para dar uma espiadinha? O Facebook está de olho nisso para entender como está sua vida amorosa. A patente sugere uma possibilidade de que a rede social analise o perfil dos seus contatos, o percentual de pessoas de um gênero diferente que você tem entre seus contatos e quantas vezes e quanto tempo você olha o perfil de outra pessoa para saber se você está em um relacionamento ou se está procurando um.

Conhecer sua rotina e seus amigos próximos

O modo como você interage com seu celular revela muito sobre você, e permitiria ao Facebook entender o que você está fazendo a cada momento do dia, de acordo com uma patente. A ideia seria reconhecer um possível desvio na sua rotina semanal, que pode vir a representar um risco de segurança (um sequestro, por exemplo), para enviar uma notificação aos seus contatos mais próximos; a localização também poderia ser usada para descobrir onde você mora. Outra patente menciona a capacidade de reconhecer a localização do seu aparelho e de seus contatos para saber com quem você costuma andar com mais frequência para entender quem são seus amigos mais próximos. Além disso, o Facebook poderia analisar os momentos em que momento o celular fica imóvel para compreender que hora você costuma dormir e acordar.