A viagem no tempo é um conceito que causa inúmeras dúvidas. Justamente por ser tão intrigante, diversos filmes e séries vem tentando, há anos, retratar como seria se esse tipo de tecnologia existisse. Em meio a tantas representações que impõem diferentes regras sobre o que acontece quando alguém começa a mexer na linha do tempo, fica difícil saber qual delas faz mais sentido. Agora, um estudo utilizando um simulador quântico pode explicar melhor como viagens no tempo afetariam o curso natural das coisas.
No geral, a regra clássica das viagens no tempo diz que tudo o que você muda no passado pode ter enormes efeitos no futuro – o famoso “efeito borboleta”, que considera que o bater de asas de uma borboleta é capaz de provocar um tufão do outro lado do mundo. Contudo, a ciência tende a concordar com a versão dos Vingadores de viagem no tempo, já que, em “Ultimato“, os heróis andaram na linha do tempo para recuperar as joias do infinito e isso não afetou o futuro ou o presente.
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Como não podemos testar isso na prática, cientistas do Laboratório Nacional Los Alamos, nos Estados Unidos, utilizaram um computador quântico para simular viagens no tempo e os resultados foram surpreendentes. De acordo com o estudo, publicado na revista científica Physical Review Letters, a realidade tem a capacidade de autocura, de modo que as mudanças no passado não afetam drasticamente o presente e o futuro.
“Em um computador quântico, não há problema em simular a evolução oposta no tempo ou em executar um processo ao contrário no passado”, explicou Nikolai Sinitsyn, coautor do estudo. “Então, podemos realmente ver o que acontece com um mundo quântico complexo se viajarmos no tempo, adicionarmos pequenos danos e voltarmos. Descobrimos que nosso mundo sobrevive, o que significa que não há efeito borboleta na mecânica quântica”, acrescentou.
Para o estudo, os cientistas utilizam um processador quântico IBM Q para criar um sistema complexo de portas quânticas que demonstram causa e efeito, tanto para frente quanto para trás no tempo. Além disso, duas pessoas hipotéticas, Alice e Bob, cada um com um qubit – bit quântico de informação -, foram escolhidos para ilustrar o processo.
No cenário hipotético, Alice prepara seu qubit no presente e o envia de volta no tempo. Em algum momento no passado, Bob interfere no qubit. Então, o sistema é adiantado novamente para o presente e Alice verifica seu qubit. O que você espera que aconteça agora tem muito a ver com a ideia de viagem no tempo na qual você acredita. No caso do efeito borboleta, a interferência de Bob no passado, ligada a tantas variáveis, deveria mudar completamente o presente de Alice – mas não foi isso que aconteceu.
Diagrama que representa a interferência de Bob no qubit de Alice. Imagem: Laboratório Nacional de Los Alamos
Curiosamente, justamente por estar ligada a muitas variáveis, a interferência de Bob não causou tantos danos. O qubit de Alice voltou quase ileso porque suas informações estavam ocultas nas correlações quânticas do passado profundo e os esforços de Bob não foram capazes de perturbar essa rede de conexões.
Mais curioso ainda: quanto mais o qubit viaja no tempo e quanto mais complicado é o sistema, menos danos o qubit recebe por interferência. Isso pode não fazer sentido, mas, pelo raciocínio dos cientistas, é o que cria uma rede de correlações quânticas ainda mais fortes para proteger o qubit de danos.
“Descobrimos que, mesmo que um invasor realize medições que danifiquem o estado no estado fortemente emaranhado, ainda podemos recuperar facilmente as informações úteis, porque esse dano não é ampliado por um processo de decodificação”, disse Bin Yan, também coautor do estudo.
No fim das contas, os produtores de “Vingadores: Ultimato” acertaram ao escolher o modelo quântico de viagem no tempo.
Via: New Atlas