Opinião: nós realmente precisamos de um celular dobrável?

Redação07/11/2018 23h30, atualizada em 07/11/2018 23h38

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Por Rui Maciel*

Nesta quarta-feira (07/11), a Samsung finalmente apresentou o seu primeiro protótipo de smartphone dobrável. Com o nome de Infinity Flex, trata-se da tecnologia de display dobrável que a companhia espera colocar em alguns de seus próximos dispositivos e também em aparelhos de clientes corporativos (clique aqui para saber mais).

Além disso, o projeto conta com o apoio do Google, que desenvolverá as novas versões do Android com suporte nativo a telas dobráveis. A empresa já permite que desenvolvedores testem aplicativos com o novo formato de dispositivo e a Samsung deve lançar um emulador para o Infinity Flex “em breve”. Além disso, um executivo do Google revelou que o celular dobrável da marca sul-coreana sai já em 2019.

Mas depois da curta exibição do Infinity Flex junto ao público, fica a pergunta: nós realmente precisamos de um smartphone com a tal tela dobrável?

Até janeiro de 2007 tudo era mato…

Para responder a essa pergunta, vamos voltar 11 anos no tempo. Estamos em 2007 e o mês era janeiro. Antes disso, tudo era mato no mercado de celulares com tela touchscreen. Poucas fabricantes se arriscavam nessa seara e lançavam smartphones com displays sensíveis ao toque bem ruins. Mas bem ruins mesmo!

Até que uma “tal” de Apple apresentou um “tal” de iPhone e mostrou ao mundo como realmente se faz um telefone sensível ao toque. Sua tela não era touchscreen, mas, sim, multitouch, ou seja, suporta toques de vários dedos ao mesmo tempo . Tudo era fluido, a definição era ótima, o manuseio intuitivo e, a partir daí, Steve Jobs e cia. mudaram tudo o que entendemos por telefonia móvel. Além de fazer a concorrência acordar para cuspir, o dispositivo se tornou uma referência de como executar algo realmente bem feito. O resto da história nós já sabemos.

Samsung cedeu à pressão?

E por que eu cito esta história da Apple? Porque antes de apresentar o iPhone, Jobs, Ive e suas equipes de engenheiros e designers estudaram um milhão de aparelhos da concorrência para saber o que NÃO fazer. E só mostraram seu telefone ao público quando ele já estava pronto e lapidado para venda.

E durante a exibição do Infinity Flex, eu tive a impressão de que a Samsung apresentou um produto mais inacabado do que seria aceitável, mesmo para um protótipo. Pouco falou sobre os futuros dispositivos que usariam esta tecnologia e anunciar que a fabricação deste tipo de tela começaria em 2019 me soou vago. No final das contas, eu cheguei à conclusão de que a empresa sul-coreana mostrou a novidade mais para que o mundo parasse de “encher o saco” em relação a tal tela dobrável.

Ou seja, ela cedeu à pressão para mostrar algo que, claramente, ainda está longe de virar uma realidade de mercado. Mas que fique claro: ela cedeu à pressão por causa de uma expectativa que ela mesmo criou, já que falou no tal celular durante anos, sem realmente mostrar nada de palpável. Fica a impressão que ela usou a novidade para desviar o foco da queda de vendas de seus telefones mundo afora.

E realmente precisamos de um smarphone dobrável?

Honestamente? A resposta, por enquanto, é não. Considerando que pouquíssima gente usa todo o potencial de um telefone top de linha, o que um dispositivo como o Infinity Flex pode fazer que ótimos smartphones como os Galaxy S9 e Note 9 já não fazem? Ou mesmo os iPhones, o Moto Z ou modelos da Xiaomi, Huawei, LG ou Asus? Você consegue assistir filmes, jogar games, falar com seus amigos no WhatsApp, navegar pela internet, ouvir música, tirar fotos…tudo com muito conforto e com ótima qualidade.

Além disso, até ganhar a devida escala, não esperem um smartphone com tela dobrável barato. Rumores de mercado, inclusive, dão conta de que um dispositivo com o Infinity Flex pode custar, de saída, nada módicos US$ 2 mil.

Claro que até meados de 2019, muita coisa pode mudar. A Samsung pode ter um produto mais bem acabado em mãos e pode detalhar melhor suas potencialidades. E até calar a minha boca.

Mas se é para revolucionar de verdade, não seria melhor ter feito como sua principal concorrente?

Rui Maciel é editor-chefe do Olhar Digital e já passou por diversos veículos especializados em Tecnologia, como WNews, Techguru, IDG, Softonic e AndroidPit.

As visões expressas em artigos de opinião não necessariamente refletem o posicionamento editorial do Olhar Digital, e devem ser entendidas como posicionamentos dos autores dos textos e não veículo.

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Colaboração para o Olhar Digital

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