Artigo de Daniel Galvão, publicitário especializado em mídias digitais e fundador da Mango Digital
Imagine um mundo onde todas as pessoas a sua volta discutem os mesmos assuntos, têm as mesmas opiniões, e, portanto, concordam com você. Ouvem as mesmas músicas, leem os mesmos livros, trabalham no mesmo segmento, etc. Seria tediosamente estranho e perigosamente alienador! Graças ao que ficou conhecido como “filtro bolha”, esse mundo existe e chama-se internet.
Eli Pariser, em 2011, fez uma apresentação no TED falando sobre o tema. Segundo ele, o filtro bolha é uma característica da web de apresentar como resultado de busca apenas o que é relevante para o usuário. No inicio do discurso, Eli apresenta essa “ferramenta” como algo positivo da internet e como as preferências e relevância dos temas seriam importantes para separar o joio do trigo em um universo de informações. No entanto, no decorrer, ele desconstrói esse argumento e começa a defender que, no frigir dos ovos, isso é algo prejudicial.
O fato é que o filtro bolha aprisiona os internautas a verem, ouvirem, assistirem e comentarem apenas sobre assuntos que conhecem e concordam. Com as ferramentas de buscas e as timelines programadas para nos mostrar nossas preferencias, fica cada dia mais difícil chegar a conteúdos que nos desafiem e nos façam mudar de opinião, gosto ou preferência.
O que pouca gente sabe é que todos os dados apresentados pelas redes, seja o Facebook ou até mesmo a pesquisa do Google, sofrem interferência dos seus algoritmos para que apresentem apenas aquilo que realmente te interessa, aquilo que a tecnologia acredita ser de extremo valor para o que você procura ou quer ver.
Façamos um teste. Role sua timeline e tente encontrar aquele seu amigo com quem você não interage faz alguns meses. Certamente você não o encontrará. Não porque ele parou de postar, mas sim porque o seu algoritmo entendeu que aquela pessoa não é relevante para você e parou de mostra-la na sua timeline. Para aprimorar esse teste, faça uma busca no Google sobre um assunto aleatório e peça para que seu amigo faça a mesma pesquisa na ferramenta dele, você perceberá que os resultados não serão os mesmos.
Até ai ok, afinal de contas é relativamente fácil recriar preferências e reprogramar essas condições de navegação. O problema é que 30% da audiência de um portal de notícias é gerada por meio das redes sociais. E os jornais, por sua vez, para conquistarem relevância digital e atraírem leitores para suas páginas, precisam ser cada dia mais partidários, sensacionalistas e, por que não dizer, caçadores de clicks.
À primeira vista, parece assustador descobrir que estamos imersos em uma bolha sem ver ou interagir com o mundo lá fora. A internet nasceu para democratizar o acesso à informação, por isso mesmo parece difícil acreditar que exista dentro desse contexto algo tão contraditório. Não estou falando para sair das redes sociais, parar com as pesquisas no Google e viver na época das cavernas.
Minha proposta é que passemos a buscar a fonte de cada conteúdo, e entender o contexto geral dos temas do dia a dia. Buscar ler opiniões contrárias, que além de enriquecer o discurso, vão desafiá-lo e àquilo que você tem como verdade absoluta. Sugiro que tomemos o controle sobre o conteúdo que consumimos, antes que alguém faça isso por nós.
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