Depois de três anos fora do mercado de smartphones brasileiro, a Huawei retornou ao país com o seu carro-chefe para 2019, a linha P30, mais precisamente o mais avançado de todos, o P30 Pro. Apesar de também trazer um modelo mais acessível para competir no segmento intermediário Premium – o P30 Lite – a gigante da tecnologia chinesa possui uma estratégia clara: crescer mundialmente aumentando a participação em um mercado no qual não participava, competindo direto com a Apple e, principalmente, a Samsung.

No ano passado, enquanto a Samsung e a Apple tiveram perdas, a Huawei aumentou a participação no mercado mundial e se tornou a segunda maior fabricante de smartphones do mundo, superando a Apple e chegando mais perto da Samsung. Para continuar neste ritmo, retornar ao Brasil era inevitável.

Na última terça-feira (30/4), os executivos da fabricante anunciaram oficialmente os smartphones que chegam ao varejo nacional a partir de 17 de maio e, claramente, a estratégia é retirar parte dos 42,81% de participação do mercado de smartphones da Samsung no Brasil. De quebra, a empresa pode abocanhar parte dos 23,99% de participação da Motorola também.

Com a saída da Sony da América Latina, a crise na LG, os altos preços praticados pela Apple no Brasil e a Samsung não mexendo em time que está ganhando, a Huawei representa o novo, algo que há muito tempo não temos no Brasil. Para adquirir um dispositivo da gigante chinesa, era preciso importar o aparelho, havia problemas com questões de homologação, retenção do dispositivo pela Polícia Federal e a insegurança de não receber o aparelho. Porém, ainda assim, para um pequeno grupo de importadores, era uma opção viável. Agora, essas barreiras caem por terra.

Olhando para a dinâmica do mercado de smartphones brasileiro, no qual já se paga mais por um smartphone que permanecerá funcional por mais tempo, ou seja, de um intermediário premium a um topo de linha, a Huawei fez uma excelente opção em trazer o P30 Lite e o P30 Pro. Contudo, existe um grande desafio: se tornar conhecida pela grande maioria de consumidores.

Partindo do zero

Estes dois aparelhos foram anunciados em março deste ano, mas só chegarão ao Brasil em meados de maio. Com isso, a empresa já perdeu a oportunidade de vender estes aparelhos em um dos maiores eventos do comércio nacional, o Dia das Mães. Mas vamos relevar esse fato. A questão, na verdade, é mais embaixo. A Huawei precisa construir seu nome no mercado nacional praticamente do zero. Tanto isso é verdade, que nem mesmo durante o evento de lançamento dos P30 havia um consenso sobre a pronúncia do nome da empresa por aqui: “Ráuei”… “Ruáwei”… “Uawei”?

Além disso, a Samsung – além da sua ampla gama de celulares em todos os segmentos – está presente em lojas físicas, lojas online, investe pesado em publicidade  off e online, e na TV com a Anitta. A Huawei tem um boa equipe de marketing, mas terá que ser excelente para ser conhecida fora do segmento de consumidores “hardcore”de smartphones. E, claro, ter um orçamento generoso para mostrar a sua cara – e qualidade de seus aparelhos – junto ao grande público e não somente entre os early adopters. 

Outro ponto: a empresa deve estar preparada para enfrentar um estranhamento com a experiência de software, já que seus aparelhos trazem a interface do usuário EMUI. Quando a Xiaomi entrou no Brasil, o então vice-presidente Hugo Barra, teve que explicar por A + B, em detalhes, como a MIUI funcionava, para diminuir a distância entre o software da Samsung e o da Motorola. Afinal, o MIUI é repleto de modificações e extras, enquanto os softwares de seus rivais eram mais próximos do Android puro e contando com maior familiaridade dos brasileiros – afinal as marcas já estavam no país há tempos.  

Para além disso, a meu ver, a Huawei também pode ter cometido um erro estratégico: em um país, como o Brasil, onde 67% dos aparelhos vendidos pertencem à categoria de intermediários, faria bem à empresa mostrar o seu poderio nesse segmento. Afinal, ela tem bons modelos nessa modalidade, como as linhas Honor, Nova e a P Smart, que seriam bons cartões de visita para convencer quem ainda não está disposto a gastar em uma marca que mal conhece. 

Por que não citei a Apple ainda? Porque em relação à fabricante do iPhone, o processo é diferente. A Huawei representa novidade e sofisticação, porém, ainda usa o sistema operacional Android e não possui o status da empresa da Maçã por aqui. Aliás, até a Xiaomi tem uma fama muito maior por aqui do que a Huawei.

A grande vantagem

A vantagem da Huawei é que ela conhece o mercado latino americano, pois está presente em muitos dos nossos vizinhos e conhece os meandros e as idiossincrasias de cada país da região – até melhor que a compatriota Xiaomi, diga-se. Além disso, o Brasil é o quarto maior mercado mobile do mundo, ficando atrás da China, Índia e Estado Unidos. Nos dois primeiros, a Huawei reina, já no último, vive  uma crise diplomática. O sucesso da Huawei no Brasil ainda é uma incógnita, mas os brasileiros são curiosos e estão há muito tempo sem novidades. Neste contexto, a gigante chinesa pode se tornar o atual “must have”.

O Huawei P30 Pro chega às lojas Americanas.com custando R$5.499, o mesmo preço do Galaxy S10+. O Huawei P30 Lite custa R$2.499, ficando 900 reais acima do valor de mercado na Europa. Conhecendo o mercado nacional, os aparelhos irão baixar de preço em três meses, logo, teremos um retorno do desempenho da empresa apenas no segundo semestre de 2019. Porém, dada a conjuntura atual, as chances da Huawei ter sucesso, são maiores do que não ter.

Você trocaria o seu smartphone por um Huawei? Por quê?