ONG processa polícia de Nova York por manter registros em sigilo

Projeto STOP afirma que a instituição se recusa a divulgar dados obtidos por meio de um software que afere o sentimento da população sobre a polícia do estado
Wesley Santana07/10/2020 21h10, atualizada em 07/10/2020 22h45

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Nesta semana, o projeto STOP, uma organização de vigilância tecnológica, entrou com uma ação na Suprema Corte de Nova York contra o departamento de polícia da cidade. Segundo a ONG, o órgão se recusa a divulgar registros de um programa que monitora a percepção das pessoas sobre a corporação.

Em março deste ano, em uma primeira tentativa, a solicitação de acesso aos dados captados pela plataforma foi negada pelo departamento de polícia. Na ocasião, a instituição afirmou que o acordo firmado com a empresa que gerencia o sistema estabelece que o órgão não tem acesso aos dados pessoais, como idade, sexo, raça e localização dos cidadãos.

Em 2016, a polícia de Nova York contratou uma startup do Brooklyn, a Elucd, para criar um mecanismo a fim de medir o sentimento da população acerca das ações dos policiais em cada distrito.

A ONG afirma que, desde então, já foram pagos mais de 3 milhões de dólares neste contrato, que já coletou dados de mais de 250 mil cidadãos. No início de 2020, a corporação prorrogou o contrato por mais 3 anos, sob custo anual de 1,39 milhão de dólares.

“É ultrajante que o NYPD tenha passado anos desenvolvendo software para rastrear o sentimento dos nova-iorquinos sobre o policiamento”, disse o diretor-executivo do STOP, Albert Fox Cahn, em um comunicado.

Segundo ele, em vez de criar um programa com este objetivo, a polícia apenas deveria ouvir as manifestações dos cidadãos, inclusive os que se manifestaram para que o governo tirasse verbas do departamento.

A STOP afirma que os dados disponíveis são gerais e não revelam a forma como as mudanças no sentimento da população são calculadas, nem quais medidas foram alteradas nas práticas de policiamento.

ReproduçãoEm agosto, pesquisa revelou que 87% dos americanos consideram a privacidade como um direito humano. Foto: Pixabay

Como funciona o medidor de sentimento

A startup contratada utiliza publicidade digital em diversos sites e redes sociais para enviar pesquisas em vários idiomas para usuários. Durante o processo, há perguntas sobre a maneira que a polícia trata os moradores do bairro, em relação ao grau de segurança que a população sente com a vizinhança, entre outras.

A ferramenta de sentimento divide a cidade em 297 distritos e, com base em uma fórmula de amostragem, consegue passar dados bem complexos da percepção dos cidadãos para o departamento de polícia.

Segundo informou Michael Simon, CEO e cofundador da Elucd, cerca de 10 mil pessoas respondem ao questionário mensalmente e as informações são divididas em duas categorias: verde, indicando mudança positiva de percepção, e vermelha, que mostra piora na impressão do público.

“É orwelliano pensar no NYPD construindo um mapa, bloco por bloco, de como o público vê a polícia. E é indefensável para o NYPD tentar esconder do público os registros sobre essa vigilância em massa”, afirmou Cahn, em referência ao escrito George Orwell, que, em seu livro 1984, fala da vigilância permanente do Estado.

O NYPD não revelou se os cidadãos podem ser identificados a partir dos dados coletados pelo sistema. O departamento também não informou se esses registros são compartilhados com órgãos de outros locais ou com agências federais.

Fonte: Venture Beat

Colaboração para o Olhar Digital

Wesley Santana é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital