Dizem que existe seguro para tudo! Se não existe, é porque, ou o mercado ainda é extremamente insipiente, ou ninguém tentou fazer ainda. De seguro para coleções, partes do corpo, casamento, quebra de óculos, até mesmo para danos alienígenas, se existe um risco e uma probabilidade a ele atrelada, há alguém no mercado de seguros disposto a cobrir.
O seguro é uma “aposta” que se firma entre duas partes – o contratante, que oferece a aposta, e a seguradora, que faz a aposta – num período determinado. Desde os tempos mais remotos na Mesopotâmia, Grécia e Roma, ensaios do que é hoje o contrato de seguro já eram vistos na sociedade.
Porém, foi durante o século 17, num pub inglês frequentado por mercadores, banqueiros e subscritores de risco, na cidade de Londres, que o mercado de seguros como é conhecido hoje começou a tomar forma com o surgimento do Lloyd’s of London.
O Lloyd’s começou há mais de 300 anos na cafeteria de Edward Lloyd, onde proprietários de navios se reuniam com pessoas que tinham capital para segurá-los. Desde essa época, o Lloyd’s se expandiu a partir de sua base em seguros marítimos e se tornou o maior mercado do mundo de seguros e resseguros especializados de patrimônio e contra acidentes cobrindo alguns dos maiores, mais complexos e insólitos riscos do mundo.
O Lloyd’s of London continua sendo um mercado face-a-face com todo o dinamismo e inovação que um segmento é capaz de gerar e permite, como qualquer mercado, que vendedores — no caso, subscritores de seguros e resseguros — façam contato com compradores. Ou seja, corretores que agem em nome de clientes que desejam contratar seguros e resseguros – a dinâmica do uso das palavras vendedores e compradores em seguros pode frequentemente ser confusa, eu entendo. A nossa força vem da diversidade dos agentes gestores que atuam nesse mercado, com o apoio de capital originário de várias fontes pelo mundo.
Os anos passaram. O mercado evoluiu. O segmento de seguros pôde ver de perto até mesmo histórias como a do Titanic.
Uma evolução que não parou mais. Desde sempre, o mercado de seguros tem se reinventado para acompanhar as mudanças e necessidades da própria sociedade. Somos muitos céticos sobre o papel do seguro em terras brasileiras. Pode parecer que não, mas o seguro não é um mal necessário, é um importante instrumento financeiro e estratégico para garantir a perpetuação e expansão de negócios.
Foi nessa tocada que o mercado criou o seguro para riscos cibernéticos, uma apólice de seguros para endereçar os ataques cibernéticos. Um instrumento criado em linha com as demandas da sociedade por privacidade e segurança, numa época onde a internet das coisas e a economia pautada em dados predomina e dita os caminhos do futuro.
A popularização do seguro tem ocorrido em progressão geométrica a medida que a compreensão de sua importância é vista pelas empresas, também ao mesmo tempo em que a conscientização e compreensão em torno do risco surge e se percebe a necessidade de seu tratamento multidisciplinar.
Em 2018, a Aon lançou o Relatório de Previsões Cibernéticas. O estudo previu o crescimento das exposições aos riscos cibernéticos, graças, principalmente, à convergência de três tendências: a dependência crescente da tecnologia; o foco intensificado das agências reguladoras em proteger dados dos consumidores; e o valor crescente de ativos intangíveis.
Mas o que é o seguro cibernético afinal de contas? Trata-se de uma apólice de seguros que ajuda a empresa a superar os desafios de um ataque cibernético em duas frentes, sendo que seu gatilho é o comprometimento de rede e/ou vazamento de dados. Na primeira frente, e mais simples, o seguro cobre os custos incorridos numa reclamação de terceiros – responsabilidade civil pura e simples. A segunda frente e, na minha opinião, a mais importante, cobre os custos relacionados às respostas imediatas ao incidente cibernético.
É de conhecimento comum que o plano de resposta eficiente pode evitar uma catástrofe sem precedentes. Integrar o seguro a esse plano pode ser a chave para torna-lo completo.
Com o surgimento das legislações pertinentes ao assunto, como a Lei de Proteção de Dados Pessoais, no Brasil, que estabelecem sanções e penalidades às empresas, ter um mecanismo financeiro que cubra os custos decorrentes de tais textos permite à empresa concentrar seus esforços na administração das demais vertentes que podem afetar a empresa. Os resultados da quinta edição do Relatório de Percepções sobre o Índice Aon de Maturidade em Riscos evidencia que existe uma relação direta entre as práticas na gestão de riscos e melhores desempenhos operacionais das organizações.
Se adaptar à tecnologia é necessário. Implantar os mecanismos disponíveis para se proteger dos riscos trazidos é um importante passo em direção ao melhoramento do nível de maturidade das companhias.