Foi realizada nesta semana em São Paulo a Futurecom 2016, feira anual de tecnologia e telecomunicações que conta com a presença de diversos representantes internacionais do setor. Um dos temas deste ano é o famigerado 5G, padrão de conexão móvel à internet que deve acelerar e muito a navegação dos usuários.

Durante o evento, a operadora Claro e a empresa de infraestrutura Ericsson apresentaram seus primeiros testes com a nova tecnologia no Brasil. Utilizando a faixa de 15 GHz do espectro de rádio brasileiro, as empresas demonstraram uma velocidade de tráfego de 4,5 Gbps com latência menor do que 1 ms.

Por enquanto, porém, essa tecnologia não deve sair do salão onde aconteceu a Futurecom. Até porque, em todo o mundo, o 5G não passa de um nome dado a diversos tipos de experimentações com formas diferentes de acelerar a conexão à rede móvel. Essa não é a primeira e certamente não será a última tentativa de padronizar a tecnologia.

É o que explica José Otero, diretor para a América Latina do 5G Americas, organização que monitora e administra a adoção de padrões de conexão no continente americano. Segundo ele, o 5G “ainda não existe” e não deve ser realidade antes de 2020.

“Se tudo acontecer corretamente e não houver demora, os parâmetros do 5G vão sair apenas em 2020. O que você tem agora são contribuições, protótipos da tecnologia que podem se chamar ‘pré-5G’ ou ‘5G pré-standarizado'”, diz Otero, em entrevista ao Olhar Digital.

Isso acontece porque ninguém sabe dizer ainda o que é o 5G. Diferentes empresas testaram diferentes tecnologias para fazer a rede de internet móvel chegar mais rápida aos smartphones. Mas enquanto o mundo inteiro não entrar em um acordo sobre qual dessas tecnologias é a ideal, e qual será será o padrão adotado por todas, o 5G não passa de especulação.

“Não somente uma rede, mas estamos falando também de todo o tipo de tecnologia que vai cooperar com a rede 5G. Uma dessas tecnologias será para fazer a utilização do espectro muito mais eficiente”, explica Otero. “A União Internacional de Telecomunicação ainda tem que determinar quais condições essas tecnologias precisam cumprir para serem chamadas de 5G.”

Desafios

Um dos desafios para a padronização do 5G, especialmente no Brasil, tem a ver com o uso do espectro de rádio. O teste realizado pela Claro e a Ericsson durante a Futrecom usou a faixa de 15 GHz liberada pela Anatel, mas estuda-se que talvez a faixa de 28 GHz possa ser usada quando o padrão for definitivo.

O governo brasileiro já tem discutido com operadoras sobre a liberação de faixas de espectro para o vindouro 5G, mas um obstáculo ainda insistente é a faixa exclusiva para o sinal de TV analógico. “Se você não tem espectro, onde colocar a tecnologia, não pode fazer nada”, comenta Otero.

“Parte da faixa que é utilizada hoje pela TV analógica será usada pela rede de banda larga móvel. Isso não significa que você tem que esperar o ‘apagão analógico’ para começar a utilizar o 5G. Pode começar usando os espaços limpos, e pouco a pouco incrementar os espaços da faixa da TV. É o que acontece agora mesmo em países como Chile, Panamá e Argentina”, diz ainda o diretor da 5G Americas.

Outros obstáculos ainda precisam ser superados na popularização do futuro padrão de internet. Questões como o limite de dados estipulados pelas operadoras, pacotes que não abrangem todo o território nacional, instabilidade das conexões e, principalmente, o preço cobrado pelas provedores ainda contribuem para a lenta evolução do 4G nos hábitos dos consumidores.

Otero, porém, acredita que o Brasil está no caminho certo – e que não estamos muito distantes de mercados desenvolvidos. “Se você comparar com o crescimento do LTE”, ele diz, citando um outro padrão de conexão móvel, “entre o Brasil e muitos países da Europa, é quase a mesma coisa. O crescimento na América Latina é muito parecido com o que acontece na Europa”.

Há empresas nos Estados Unidos planejando testes comerciais do 5G em 2018, mas Otero insiste que, antes de 2020, você não poderá contratar um pacote com essa velocidade junto à sua operadora. Até lá, os consumidores têm que se contentar com o 4G e, no caso da grande maioria, com o 3G.