O presidente Jair Bolsonaro (PSL) finalmente decidiu usar os celulares criptografados da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência. A decisão foi tomada após os vazamentos dos diálogos entre o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, pelo jornal The Intercept Brasil. A suposta invasão generalizada a aparelhos de outras figuras do Legislativo brasileiro também influenciou na mudança de telefones, que é especulada desde que Bolsonaro assumiu o posto no Palácio do Planalto.

Mas como funciona o celular da Abin? Em primeiro lugar, é importante saber que apenas o presidente, o vice-presidente e ministros do Estado têm acesso a esses aparelhos protegidos, que podem ser usados ou não, por livre opção. Os líderes podem operá-lo de acordo com suas necessidades funcionais, mas a comunicação protegida por criptografia só pode ser realizada entre aparelhos similares. E essa não é a única restrição de segurança do dispositivo.

O telefone em si é desenvolvido pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) – a tecnologia que o envolve é de autoria da Abin. Ele também não permite a instalação de aplicativos como o Whatsapp, Telegram, Twitter e Facebook, frequentemente utilizados pelo presidente e demais autoridades públicas, até mesmo para tratar de assuntos confidenciais. Um suposto vazamento de mensagens seria, inclusive, evitado com os mecanismos de proteção e criptografia do aparelho.

Telefone criptografado é sinal de segurança

Em entrevista ao jornal O Globo, Camilo Gutierrez, chefe do Laboratório de Pesquisa da Eset América Latina, empresa especializada em cibersegurança, lembra da importância da criptografia da comunicação nestes casos. “O fato de não utilizar um aparelho com as informações criptografadas pode deixar exposto seu conteúdo antes do acesso indevido a ele. Ou seja, se alguém conseguir acessar o celular, poderá obter as informações nele armazenadas. No final, as tecnologias criptográficas ajudam a garantir a privacidade das informações”, afirma ao O Globo

Atualmente, o próprio Whatsapp possui uma criptografia de ponta a ponta, o que protegeria as mensagens em caso de invasão. No entanto, como as pessoas costumam fazer o backup do conteúdo em nuvens (como Google Drive e Dropbox, por exemplo), ele fica vulnerável por meio de outras plataformas. Há ainda o recurso da confirmação em duas etapas – todas as vezes em que o número de telefone associado ao aplicativo tiver de ser verificado, o usuário terá de inserir um código de seis dígitos criado por ele.

Guilherme Damasio, consultor em Direito da Tecnologia e Segurança da Informação na BrownPipe Consultoria, ainda sugere, ao O Globo, que assuntos delicados exigem máxima segurança. “Nenhuma comunicação sensível governamental poderia ser realizada por aplicativos comerciais como Whatsapp e Telegram, por e-mail ou até mesmo usando linhas convencionais de telefonia fixa e móvel. No último caso, a rede de telefonia permite interceptações que podem ser ilegalmente realizadas por atores que tenham acesso às infraestruturas de comunicação”, explica.

Fonte: O Globo