“Star Wars” é um fenômeno de proporções inimagináveis, do tipo que surgiu raras vezes em toda a história da cultura popular. Mais do que seis filmes, a franquia de aventura espacial concebida por George Lucas na década de 1970 invadiu a literatura, os quadrinhos, os games, a televisão, manifestou-se em roupas, colecionáveis e criou raízes no imaginário coletivo.
A expectativa em torno da marca, portanto, é muito alta. Mais do que fazer uma camiseta, um boneco ou uma nova série de animação, lançar um novo filme na franquia Star Wars – aventurando-se pela mídia em que o fenômeno começou – é uma tarefa muito delicada e consideravelmente arriscada.
O cineasta J.J. Abrams, ao lado do roteirista Lawrence Kasdan e dos executivos da Lucasfilm e Disney, decidiram assumir o desafio de trazer de volta uma franquia que deixou um gosto amargo na boca dos fãs em 2005, após três prelúdios de péssimo gosto – os episódio I, II e III. Com “Star Wars – O Despertar da Força”, a série poderia voltar aos trilhos ou arruinar muitos sonhos.
Abrams e companhia entenderam muito bem o peso da responsabilidade e da expectativa em suas mãos. E é justamente nisso que “O Despertar da Força” encontra seu maior triunfo, trazendo aos fãs antigos um mar de nostalgia enquanto apresenta toda uma nova geração de personagens, mistérios e aventuras inéditas para os tempos modernos.
Desde os primeiros minutos, o filme evoca situações e estruturas que lembram imediatamente a trilogia original – episódios IV, V e VI, lançados entre 1977 e 1983 – especialmente “Uma Nova Esperança” e “O Império Contra-Ataca”. Felizmente, o longa não se prende à nostalgia barata e, em vez de se limitar a refilmar aquilo que os fãs já viram antes, introduz novos mistérios e personagens de modo revigorante.
“O Despertar da Força” acerta naquilo que a segunda trilogia mais erra: entender o que fez Star Wars ser amado por milhões de pessoas em primeiro lugar. Não foram longos e monótonos debates sobre impostos e política, romances forçados ou excesso de computação gráfica. Nos apaixonamos, antes de mais nada, pelos personagens, e não pela trama.
A graça e a emoção em assistir aos primeiros filmes de Star Wars está nas aventuras e no humor que transborda dos protagonistas Luke, Leia, Han Solo, Obi-Wan e outros. “O Despertar da Força” entende isso, e introduz o elenco liderado por Rey, Finn, Poe Dameron, Kylo Ren e o droide BB-8 de forma similar: personagens carismáticos e fáceis de se relacionar, envolvidos em um conflito interplanetário maior do que seus pequenos mundos.
Além da competente direção de J.J. Abrams, que sabe conduzir sequências de ação cheias de humor e tensão na medida certa, o elenco do filme é também formidável. Daisy Ridley (que interpreta Rey) é uma heroína que derruba preconceitos e chama para si as atenções do público jovem de hoje. Já John Boyega (Finn) refresca os ares com um seu toque cômico impagável e sua forte conexão com a audiência: ele é quase que um dos fãs de Star Wars, transportado para a tela.
Já Adam Driver (o vilão Kylo Ren) usa as inevitáveis comparações com Darth Vader a seu favor: o personagem é um seguidor do antigo lorde imperial, e por isso está a todo tempo tentando provar a si mesmo de que é capaz de ser tão emblemático quanto o vilão da trilogia original. Isso diminui a cobrança do público e, ao mesmo tempo, realça o tom de ameaça que o personagem emana.
Harrison Ford, reprisando seu papel como Han Solo, não só arrepia os fãs mais devotos como também é um ótimo fio condutor para a narrativa, ligando a história de 30 anos atrás com o futuro que essa nova trilogia nos reserva. E, para completar, o simpático droide BB-8 – fruto de efeitos práticos, e quase nada de computação gráfica – rouba a cena sempre que aparece.
“O Despertar da Força” é também uma aventura cheia de humor e ação, para empolgar crianças e adultos, homens e mulheres, diferentes raças e culturas. O novo filme abraça a diversidade, abrindo espaço em seu cânone para todo tipo de fã, seja ele o mais fervoroso ou aquele que nunca viu qualquer um dos seis filmes anteriores. Nunca houve melhor época para conhecer as histórias de muito tempo atrás, nessa galáxia muito, muito distante.