O efeito da Netflix e Amazon Prive na pirataria é muito menor do que se pensava. É isso o que indica um novo estudo, que sugere que esses serviços de streaming de vídeo não tem capacidade de acabar com a distribuição e consumo ilegal de conteúdo protegido por direitos autorais.
Pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, e da Universidade Católica Portuguesa se juntaram para estudar o impacto da oferta de streaming legal em usuários que costumam consumir pirataria, segundo o TorrentFreak.
Em parceria com uma operadora cujo nome não foi revelado, eles vincularam tráfego ilegal de BitTorrent na rede da operadora às pessoas que estavam fazendo o download ilegal, e ofereceram um período de 45 dias gratuitos em um serviço de conteúdo sob demanda de filmes e programas de TV.
Durante o período gratuito, os pesquisadores analisaram o tráfego desses usuários dentro do serviço sob demanda e também as transferências de BitTorrent deles. O que eles perceberam foi que a oferta gratuita não teve capacidade de mudar os hábitos de download ilegal desses usuários.
“Descobrimos que, em média, lares que receberam o período de testes aumentaram o consumo de TV em 4,6%, e reduziram o download e upload de vídeo em 4,2% e 4,5%, respectivamente. No entanto, também em média, esses lares não mudaram a probabilidade de usar BitTorrent durante o experimento”, explicaram os pesquisadores.
Nem tendo uma alternativa legal e gratuita – mesmo que por um período de 45 dias – essas pessoas que costumam baixar vídeos ilegais abandonaram a pirataria.
Fragmentação de conteúdo
Segundo os pesquisadores, essas pessoas não conseguiam ter todos os programas de TV e filmes que queriam ver no serviço oferecido. Assim, elas foram atrás de formas ilegais para ter acesso a esse conteúdo.
“Lares com preferências alinhadas com o conteúdo oferecido reduziram a probabilidade de usar BitTorrent durante o experimento em 18%, e diminuíram o tráfego de upload em 45%,” diz o estudo.
A fragmentação do conteúdo, portanto, é um dos fatores que explicam a resistência da pirataria. O fato de programas e filmes demorarem para entrarem no catálogo de serviços de streaming, ou só estarem disponíveis em determinados sites, faz com que as pessoas não abandonem completamente os downloads ilegais.
A tendência é que isso piore. A Disney, por exemplo, vai tirar todo o seu conteúdo da Netflix para criar um serviço de streaming próprio, o que significa que quem quiser assistir a filmes como os da Marvel ou Star Wars vai precisar assinar mais um serviço. Quanto mais ofertas diferentes – e sempre pagas – mais o conteúdo será fragmentado, e quem mais deve se beneficiar disso é a pirataria, segundo o estudo.
Os pesquisadores dizem que as pessoas estão dispostas a pagar US$ 3,25 (cerca de R$ 10,50) para acessar serviços com catálogos bastante amplos.
“Nossos resultados mostram que usar serviços sob demanda para acabar com a pirataria vai exigir, no mínimo, oferta de conteúdo muito mais cedo e a um preço muito mais baixo do que o mercado atualmente oferece, mudanças que provavelmente vão reduzir a receita da indústria e podem prejudicar incentivos de produção de conteúdo novo, ao mesmo tempo que inibem uma pequena parcela da pirataria”, conclui o estudo.