Mulheres ainda ocupam pouco espaço de liderança na política

Falar de liderança feminina ainda é algo que mostra como esse assunto é sensível e como a desigualdade de gênero ainda está enraizada
Liliane Nakagawa06/11/2020 00h05

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Quando falamos e discutimos aqui na coluna sobre a importância da mulher em cargos de liderança, isso inclui também a esfera política. Especialmente em um momento tão decisivo quanto o que viveremos nos próximos dias, com as eleições municipais, é preciso reforçar a importância da participação feminina nos espaços de poder, reconhecendo que ainda temos um longo caminho a avançar para que a equidade de gênero seja, também, uma realidade no universo da política e seus espaços de poder.

Segundo o Ministério do Trabalho, as mulheres estão presentes em 44% do mercado formal de trabalho, mesmo com salários 20% menores se comparado com os homens. Além disso, elas são as responsáveis únicas por 40% dos lares. Entretanto, sequer alcançam 15% dos cargos eletivos do país: dos 70 mil cargos eletivos, somente 12,32% são ocupados por mulheres, segundo o Mapa da Política de 2019, elaborado pela Procuradoria da Mulher no Senado.

Considerando o cenário internacional, o desempenho do Brasil é ainda mais inaceitável. O país ocupa a 140ª posição no ranking de representatividade feminina no parlamento dentre 193 países pesquisados, segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Interparlamentar. Segundo o levantamento, as mulheres brasileiras ocupam apenas 13% do total das cadeiras do Senado e 15% na Câmara dos Deputados. E no nível local, ou seja, nos 5570 municípios do país, o cenário é ainda mais grave: em quase 1/4 das câmaras de vereadores, não há sequer uma mulher eleita.

O ano de 2020 não precisa estar marcado apenas pela pandemia de coronavírus e pelas transformações que essa crise tem nos trazido, mas também pode ser lembrado por uma conquista fundamental em nossa realidade política – por exemplo, ao elegermos ao menos uma vereadora em cada município brasileiro.

Nunca é demais ressaltar a importância de termos mais mulheres na política, já que a presença feminina traz benefícios para toda a população, além de ser um pilar fundamental para o alcance da igualdade de gênero, algo essencial na sociedade em que vivemos.

Por que precisamos de mais mulheres na política?

Existem pautas que só as mulheres sabem o quão é fundamental priorizar. Por isso, são elas que devem propor e participar de suas definições, especialmente nos temas que impactam diretamente a sua realidade. Afinal, ninguém terá maior legitimidade para tratar de demandas como o combate à violência contra as mulheres, a garantia de licença maternidade e o acesso às creches para todas as crianças do que aquelas que são mais afetadas por essas medidas.

Além disso, se torna inviável que uma democracia atinja a sua maturidade se uma parcela importante da população fica de fora das decisões que impactam as dinâmicas políticas, sociais e econômicas de nossa sociedade. Vale lembrar que as mulheres tiveram protagonismo em várias lutas democráticas, como pela liberdade nos países que buscaram a queda do autoritarismo.

As lideranças femininas também produzem melhores políticas públicas. Nesse ano de pandemia, tivemos exemplos concretos disso, com lideranças que atuaram com maestria no combate ao coronavírus. Países como Alemanha, Nova Zelândia e Taiwan tiveram um desempenho superior no enfrentamento da crise.

Essas lideranças atuaram de maneira adaptativa, combinando visão de longo prazo, tecnologia, comunicação transparente e insights da economia comportamental para enfrentar os desafios trazidos por uma crise. Os resultados vieram rapidamente e são incontestáveis: a redução de casos e, por consequência, do número de mortes, conforme atesta pesquisa das Universidades de Liverpool e Reading.

Esse resultado positivo também está presente para além dos momentos de crise. Analisando dados de 3.167 municípios brasileiros, entre os anos de 2000 a 2015, um estudo publicado na Revista Health Affairs concluiu que quanto mais mulheres na política, menor é a taxa de mortalidade infantil.

O fato é, desde o direito de voto conquistado em 1930, muitos caminhos já se abriram para as mulheres. Entretanto, ainda existem desafios complexos e realidades que precisam ser transformadas para que seja possível avançar. Uma política sem mulheres não pode ser considerada democrática. Por isso, é essencial fortalecer a candidatura e a eleição de lideranças femininas. E todos têm a ganhar com isso. Afinal, uma sociedade mais igualitária e próspera não será alcançada sem a equidade de gênero, inclusive e, principalmente, nos espaços de poder.

Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital