A internet muda de maneira incrivelmente rápida. O Orkut, que era a maior rede social do Brasil há cerca de dez anos, hoje em dia nem existe mais; o MSN Messenger, que todos usavam para falar com os amigos, também não.
Não foram só eles que morreram: ao longo dos últimos anos, a internet gerou uma infinidade de memes, modas e outros “virais” que foram reproduzidos e desenvolvidos por milhões de pessoas em todo mundo, para depois serem totalmente esquecidos ou curtirem uma pós-vida virtual de relativa obscuridade.
Curiosamente, o desenvolvimento da infraestrutura da internet permitiu que surgissem modas mais elaboradas. As correntes de e-mail do fim da década de 90 foram substituídas por fotos, e depois por vídeos de coisas e atitudes estranhas e sem sentido – ou com um sentido restrit o à sua época, mas que depois foi se perdendo até se tornar praticamente inexistente.
Seria possível escrever teses e teses sobre como a internet afeta a comunicação das pessoas. Mas talvez fosse melhor resgatar algumas das melhores modas dos anos passados para ilustrar isso. Confira:
Em determinado momento, a internet decidiu que o Chuck Norris era uma espécie de super-heroi da vida real, e começou a inventar uma série de fatos (a maioria dos quais alucinadamente ficcionais) sobre sua força e sua coragem, tais como “Chuck Norris faz bungee jump sem corda” e “Chuck Norris não tem sangue, ele tem magma”. O fato de essa moda ser basicamente em texto ajudou ela a se popularizar mesmo numa época em que a internet ainda não era tão rápida.
A certa altura, o absurdo dos “fatos” se tornou mais importante do que os fatos em si, e frases como “Chuck Norris perdeu a virgindade antes do pai” e “Chuck Norris sabe o último algarismo de Pi” começaram a surgir. O ator e artista marcial respondeu aos fatos dizendo que achava alguns deles engraçados, e que esperava que eles levassem as pessoas a se interessarem pelos fatos reais da sua vida.
Planking
Também conhecido como “Lying Down Game” (jogo de deitar), o Planking começou como uma brincadeira sem sentido entre alguns amigos ingleses. Em determinado momento, eles resolveram criar uma página no Facebook para postar as melhores fotos suas deitados inertes com os braços ao lado do corpo em locais estranhos, e então a moda se espalhou. Um grande número de reportagens estabelece o “pico” da moda em 2009 ou 2010, mas o primeiro registro de pessoas deitando nessa posição propositalmente data de 1985.
Harlem Shake
A princípio, o “Harlem Shake” é apenas uma música do DJ e produtor americano Baauer. Por algum motivo inexplicável, porém, George Miller, dono do canal do Youtube DizastaMusic, resolveu postar um vídeo dele e de seus amigos fantasiados fazendo uma dança bizarra ao som da música.
A partir daquele momento, tanto a música quanto a dança bizarra viralizaram e geraram incontáveis paródias, com pessoas utilizando todos os tipos de fantasia, em meio a diversos ambientes de trabalho e com incontáveis variações e especificidades regionais. O própprio Youtube criou uma paródia: da próxima vez que você visitar o site, pesquise “do the Harlem Shake” e veja o que acontece.
Pet-shaming
Donos de cães ou gatos sabem que existe sempre a possibilidade de se chegar em casa e ver que seu animal de estimação destruiu uma almofada e espalhou os restos dela pela casa inteira, desenrolou todos os rolos de papel higiênico do banheiro ou simplesmente respondeu aos chamados da natureza nos locais menos convenientes possíveis.
Alguns internautas, no entanto, resolveram se vingar simbolicamente de seus companheiros pela internet. Para isso, postavam fotos de seus animais ao lado de pedaços de papel no qual estava escrito o motivo de eles terem ido parar no mundo digital, tais como “eu fiz xixi no tapete da sala”, “Eu destruí o sofá da minha dona” e outras situações bem menos comuns.
Balde de gelo
Uma das poucas tentativas institucionais de se lançar uma moda da internet que deu certo foi o ALS Ice Bucket Challenge, ou “desafio do balde de gelo”, como ficou conhecido por aqui. A ideia era basicamente filmar um vídeo de si mesmo enquanto um balde cheio de gelo e água gelada era jogado sobre sua cabeça, desafiar outras três pessoas a fazerem o mesmo e então postar o vídeo no Youtube – tudo isso para promover a consciência sobre a esclerose lateral amiotrófica (ELA, ou ALS na sigla em inglês).
O desafio ganhou bastante notoriedade graças ao grande número de celebridades que participaram ao redor do mundo, tal como Bill Gates, Larry Page e Sergey Brin e Tim Cook, além de uma série de atores, atrizes, modelos e políticos também, tanto no Brasil quanto em outros países.
Gangnam Style
Julho de 2012 viu o lançamento daquele que, até hoje, é o vídeo mais visto da história do Youtube: o clipe de Gangnam Style. A canção de K-pop não é muito diferente de outras do gênero, mas seu clipe, que inclui o simpático cantor Psy fazendo uma coreografia curiosa em uma variedade de situações e locais incomuns, foi uma sensação mundial. Ele foi visto tantas vezes que obrigou o Youtube a mudar seu servidor de números de 32-bits para 64-bits.
Naturalmente, muitos espectadores não se contentaram com ver o vídeo, mas quiseram também reproduzir a dancinha do Psy em locais incomuns, situações inesperadas e usando roupas estranhas – às vezes tudo ao mesmo tempo. Desnecessário dizer que todas essas outras criações apenas atraíram mais atenção ao clipe original.
Bomba de Coca-Cola com mentos
Um belo dia, alguém descobriu que misturar Coca-Cola com balas Mentos resultava numa reação química bastante explosiva. Isso porque a bala altera o equilíbrio do sistema gás-líquido e, além de conter ácido cítrico (que tende a aumentar a formação de gás carbônico), tem uma superfície irregular que acelera a velocidade da reação.
Foi uma questão de (pouco) tempo até que a internet descobrisse maneiras de usar essa reação para criar foguetes de coca e mentos, e então milhares de usuários começaram a postar vídeos de suas criações, desde foguetes que subiam aos céus ou se voltavam contra seus criadores até bombas e outras criações voltadas para assustar as pessoas.
Rickrolling
Atualmente pouco comum, o “Rick Roll” era o ato de inserir um link em um texto dizendo que ele levaria para um lugar (por exemplo, para a página de busca do Google), mas direcionando o leitor, propositalmente, para o clipe da música “Never Gonna Give You Up”, do cantor Rick Astley. Como tantas outras modinhas da internet, ela começou por engano, quando um usuário sem querer linkou o clipe no 4chan dizendo que o link direcionava para um trailer de GTA IV.
Com o tempo, contudo, a noção de “Rickroll” passou a se expandir para incluir também citações da letra da música em situações inusitadas. No primeiro de abril de 2008, o Youtube fez com que todos os vídeos de sua página inicial direcionassem para o clipe da canção. Apesar da fama da canção, até 2010 Astley havia recebido apenas US$ 12 em direitos autorais – ele não compôs a canção, e por isso ganhava apenas uma parcela de cantor dos direitos.