6 mil funcionários da Amazon cobram atitudes sustentáveis por parte da empresa

Endereçado a Jeff Bezos, o texto mostra a insatisfação causada pela proximidade da companhia com o setor petrolífero e políticos contrários às leis climáticas
Redação16/04/2019 18h40, atualizada em 17/04/2019 11h00

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Uma carta aberta assinada por mais de 6 mil funcionários da Amazon pede que a empresa crie e difunda publicamente um plano climático visando a transição energética da companhia de Jeff Bezos.

A Amazon tem iniciativas internas sobre o tema, mas não há um plano de negócios estratégico. Essa é justamente a principal exigência da carta divulgada, na última quarta-feira (10) e assinada publicamente por um décimo dos trabalhadores da empresa.

No texto, endereçado a Jeff Bezos, CEO, e ao conselho de administração, os colaboradores criticam a ausência de um cronograma e efetivos planos de redução das emissões da empresa. Em fevereiro, a Amazon anunciou uma meta de ter 100% de sua infraestrutura global abastecida por energia renovável. Entretanto, uma data limite não foi estabelecida.

A companhia também assumiu o compromisso de tornar metade de suas remessas de produtos neutras em emissões de CO2 dentro de 10 anos — a iniciativa faz parte do programa “Shipment Zero”. No entanto, isso não é suficiente na visão dos funcionários. Eles querem o foco direcionado na redução total de emissões. Para atingir tal objetivo, está sendo pedido um fim por “completo” do uso de combustíveis fósseis nas operações globais da Amazon — vans de entrega a diesel são citadas na carta, por exemplo.

As cobranças são motivadas pela proximidade recente da empresa de Bezos com o setor de petróleo e gás. A companhia, que tem BP e Shell como parceiras, tenta trazer mais empresas da área para perto. A estratégia visa vender os serviços da Amazon Web Services (AWS), divisão de computação na nuvem da empresa— que promete fornecer recursos para expandir e acelerar a extração de combustíveis, como petróleo e gás; a iniciativa para essa parceria foi batizada de AWS for Oil & Gas.

A AWS representa umas das maiores fontes de receita da empresa — responderam por mais de 70% do lucro total em 2018. A carta critica, além dessa iniciativa junto às companhias de combustíveis fósseis, as contribuições da Amazon para políticos contrários às leis climáticas e enfatiza que o tema é uma “ameaça existencial”. Os colaboradores expressam o desejo de que todas as metas da empresa estejam alinhadas com relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), publicado no final do ano passado.

O IPCC, que é o documento mais importante sobre o assunto, defende a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa em 50% até 2030 e sua total eliminação até 2050. A tarefa não é fácil, mas os cientistas acreditam que devemos perseguir esse objetivo se quisermos salvar o planeta de alguma forma. O impasse é: para atingir as metas, reservas de combustíveis fósseis intocadas devem permanecer da mesma forma.

O texto pede, ainda, que uma resolução apresentada por funcionários acionistas seja adotada. Ela foi apresentada no ano passado e força a companhia a desenvolver um plano mensurável para reduzir sua pegada de carbono. A proposta pode ser votada já no próximo mês.

“Em nossa missão de nos tornarmos ‘a empresa mais centrada no cliente da Terra’, acreditamos que nosso impacto climático deve ser uma consideração importante em tudo o que fazemos. Temos o poder de influenciar setores inteiros, inspirar a ação global sobre o clima e liderar melhorias em nossas vidas”, alegam os funcionários.

Segundo Elizabeth Whitmire, desenvolvedora sênior de tecnologia da AWS, em entrevista ao site Gizmodo, “Estamos vendo um apoio tão grande e amplo dos funcionários que assinam nossa carta aberta, com representação de vários níveis, dos mais novos aos cargos de VP”. Para o New York Times, essa ação conjunta é “o maior movimento da mudança climática encabeçado por funcionários na influente indústria de tecnologia”.

Ainda que não tenha apresentado comunicado sobre a carta, o porta-voz da Amazon, Sam Kennedy, saiu em defesa das estratégias de mudança climática da empresa. “No início deste ano, anunciamos que compartilharíamos nossa pegada de carbono em toda a empresa, juntamente com metas e programas relacionados”, disse ele. “Somente nas operações, temos mais de 200 cientistas, engenheiros e designers de produtos dedicados exclusivamente a inventar novas maneiras de alavancar nossa escala para o bem dos clientes e do planeta. Temos um compromisso de longo prazo para alimentar nossa infraestrutura global usando 100% de energia renovável.”

Essa fala sustenta as reivindicações na carta, já que “ a longo prazo” é uma realidade que fica cada vez mais distante. O tempo está passando para todos.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital