Um grupo de médicos no Massachusetts General Hospital começará a testar pequenas redes metálicas para tratar pacientes com epilepsia. As redes serão injetadas no cérebro dos pacientes por meio de uma agulha e ficarão com um pequeno pedaço para fora, por meio do qual poderão ser estimuladas por uma fonte externa.
As redes foram criadas pelo químico e cientista de nanomateriais Charles Lieber, da Universidade de Harvard. Segundo o MIT Technology Review, Lieber trabalha nessas redes desde 2007, quando idealizou-as pela primeira vez. O primeiro protótipo foi criado em 2015, e elas já foram testadas em ratos de laboratório, mas seguem agora para suas primeiras experiências em humanos.
Choque na moleira
Algumas doenças neurológicas, como a síndrome de Parkinson, podem ser tratadas com pequenos choques em determinadas regiões do cérebro. Isso porque essas doenças são causadas pela morte de neurônios nessas regiões, e os estímulos elétricos ajudam a revitalizar essas células.
Normalmente, para realizar esse tratamento, o paciente passa uma cirurgia na qual pequenos eletrodos são implantados em seu cérebro. Mas o eletrodo é uma estrutura rígida que, com o tempo, acaba criando cicatrizes próximas à região onde é implantado. Isso faz com que seja necessário aumentar cada vez mais a voltagem dos estímulos para manter a eficácia do tratamento. Eventualmente, pode ser necessário realizar outra cirurgia para corrigir as cicatrizes e substituir o eletrodo.
Essas pequenas “telas”, no entanto, são feitas de uma mistura de ouro e polímeros. Por serem extremamente finas e flexíveis, elas podem ser injetadas no cérebro do paciente por meio de uma agulha, sem a necessidade de cirurgia. Sua estrutura e seus materiais garantem que ela mantenha a flexibilidade e a condutividade elétrica sem atrapalhar o funcionamento dos neurônios.
Para que o tratamento possa ser realizado da mesma forma, é necessário que uma parte da rede fique para fora do cérebro. Assim, ela pode ser conectada a uma fonte externa para fornecer a voltagem necessária aos estímulos elétricos. Isso porque, diferentemente do eletrodo, a rede não tem uma fonte própria de energia. Mas Lieber e sua equipe acreditam que um modelo futuro das redes pode incluir isso.
Cérebro eletrônico
Para Guosong Hong, um aluno de pós-doutorado do laboratório de Lieber, “esse dispositivo efetivamente borra a interface entre um sistema vivo e um sistema não-vivo”. Isso porque durante as sessões de tratamento ele se conecta a um computador que monitora a atividade do cérebro e executa os estímulos necessários para retardar a morte dos neurônios.
Os primeiros testes serão feitos em pacientes que sofrem de epilepsia, e Lieber e sua equipe também pretendem usá-la para tratar Parkinsons. No entanto, eles acreditam que ela também pode ser usada para tratar pessoas que tenham depressão ou esquizofrenia.
Isso porque elas conseguem estimular regiões específicas do cérebro de maneira muito mais precisa que os fármacos atualmente utilizados no tratamento desses problemas. Em vez de estimular o cérebro todo com químicos – o que pode provocar diversos efeitos colaterias – elas estimulariam apenas a região desejada com eletricidade.