Desde outubro de 2014, Mark Zuckerberg, o fundador e presidente do Facebook, tenta construir uma espécie de “fortaleza” no Havaí, arquipélago que pertence aos EUA localizado no Oceano Pacífico. O ambicioso projeto, porém, tem enfrentado uma série de obstáculos.

Tudo começou há pouco mais de dois anos, quando a revista Forbes noticiou a aquisição de um terreno por Zuckerberg com quase 3 quilômetros quadrados de extensão. A compra lhe custou nada menos do que US$ 100 milhões na época.

Segundo a Forbes, o objetivo de Zuckerberg era construir um “santuário recluso” para si e sua família na ilha de Kauai. O terreno comprado inclui boa parte do litoral norte da ilha, incluindo a praia de Pila’a. Assim como em sua atual residência em São Francisco, porém, seus vizinhos no Havaí não gostaram muito da ideia.

Especialmente porque, em junho de 2016, o jornal local The Garden Island revelou que Zuckerberg decidiu construir um grande muro para proteger sua recém-adquirida propriedade. De acordo com a publicação, inúmeros vizinhos reclamaram da interferência do bilionário na paisagem natural da ilha.

“O sentimento é muito opressor, ele é imenso”, comentou um dos vizinhos da propriedade a respeito do muro. “É muito triste saber que alguém vem para cá, compra um terreno enorme e a primeira coisa que ele faz é cortar a vista que estava à disposição e era apreciada pela comunidade daqui há anos.”

O projetista do muro chegou a emitir um comunicado oficial ao site Gizmodo explicando que a construção da parede de pedras tinha a intenção de bloquear a poluição sonora dentro da propriedade, e que a obra seguia “todas as regras de regulamentação” do estado do Havaí.

Implicações judiciais

Nesta semana, um novo capítulo na saga de Zuckerberg no arquipélago começou a se desenrolar. O bilionário abriu uma série de processos civis contra centenas de pessoas – algumas das quais já até morreram – que teriam herdado ou possuem alguma ligação com a propriedade adquirida em 2014.

De acordo com o jornal havaiano Honolulu Star-Advertiser, os processos têm como objetivo “forçar essas famílias a vender suas terras num leilão público ao comprador que pagar mais caro”. Trata-se de uma manobra legal para assegurar a Zuckerberg o controle total de todo o terreno comprado em 2014.

Um dos advogados que representam as propriedades do bilionário disse, em nota ao Gizmodo, que esse tipo de ação na Justiça é comum no Havaí, onde muitas pessoas podem “ter pequenas parcelas de terra dentro das fronteiras de um terreno maior”. Em alguns casos, disse o porta-voz, o objetivo dessa série de processos é “assegurar que, se houver coproprietários, cada um receba o valor apropriado por sua parcela”.

Ou seja, é provável que algumas dessas centenas de famílias processadas sejam donas de uma parte ínfima do terreno de quase 3 quilômetros quadrados, mas, segundo a lei do Havaí, mesmo isso seria suficiente para que o herdeiro de um desses pedaços de terra pudesse reivindicar parte da propriedade onde Zuckerberg quer construir seu “santuário”.

Algumas das pessoas processadas, especialmente herdeiros dos donos originais dessas terras, nem sabiam que tinham direito a essa propriedade. Zuckerberg, por sua vez, fez um post em seu perfil no Facebook na última quinta-feira, 20, defendendo-se da acusação de importunar seus vizinhos havaianos.

“Como parte da história do Havaí, na metade dos anos 1800, pequenas parcelas de terra foram garantidas por famílias que, após gerações, hoje podem estar divididas em centenas de descendentes. Nem sempre existem registros claros e, em muitos casos, descentendes que são donos de 1/4% ou 1% de uma propriedade nem sabem que estão ligados a ela”, escreveu o bilionário.

Segundo Zuckerberg, algumas histórias “enganosas” sobre os fatos têm circulado na web, o que motivou sua postagem. O presidente do Facebook afirma que seus planos no Havaí incluem “criar um lar na ilha e ajudar a preservar a vida selvagem e a beleza natural” do local. Além disso, o executivo garante que ele e sua família querem “ser bons membros da comunidade” e “preservar o ambiente”.

Histórico

Não é a primeira vez, porém, que os investimentos de Zuckerberg em imóveis perturbam seus vizinhos. Em janeiro do ano passado, diversos moradores próximos à sua casa em São Francisco apresentaram uma queixa formal à Agência Municipal de Transportes da cidade reclamando do bilionário e das obras em sua mansão.

Uma carta assinada pelos moradores da vizinhança dizia que “todos sabem o quanto é incômodo morar próximo a Zuck”, citando os problemas enfrentados durante a construção de sua casa: barulho, lixo, obstrução de vias e seguranças estacionando em locais irregulares. Houve relatos de que a obra teria até desapropriado a casa de um senhor de 62 anos, deixando-o sem lugar para morar.

Assim como no caso do muro no Havaí, os vizinhos dizem que nunca conseguiram falar diretamente com Zuckerberg sobre o problema. Sua assessoria, porém, garantiu que tudo transcorria “de acordo com as leis locais”. Não se sabe quando a fortaleza do bilionário no arquipélago ficará pronta, o que significa que os problemas com os havaianos podem estar longe de terminar.