Livro escrito por WhatsApp ganha maior prêmio literário da Austrália

Nele, o escritor curdo-iraniano Behrouz Boochani conta sua experiência na prisão da Ilha Manus. O prêmio é destinado a australianos e residentes permanentes, mas seu caso foi considerado especial
Roseli Andrion01/02/2019 17h31, atualizada em 01/02/2019 18h41

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Ao longo de cinco anos, o escritor curdo-iraniano Behrouz Boochani enviou textos em farsi pelo WhatsApp para seu tradutor, Omid Tofighian. Nesse material, ele conta sua experiência na prisão em que se encontra há mais de cinco anos, na Ilha Manus, na Papua Nova Guiné.

Os textos se tornaram um livro — chamado de “No Friend but the Mountains” (“Sem amigos, exceto as montanhas”, em tradução livre). O título, a propósito, vem de um provérbio do seu povo: “Os curdos não têm amigos, exceto nas montanhas”.

Com ele, Boochani venceu o Victorian Prize for Literature, o prêmio literário de maior gratificação da Austrália. Infelizmente, ele não pôde comparecer à solenidade de entrega, ontem à noite, em Melbourne, mas Tofighian foi em seu lugar.

Prêmio é de US$ 90 mil

Por ter sido o vencedor, Boochani recebeu AU$ 125 mil (algo como US$ 90 mil) e agora figura entre os escritores mais notáveis do país. Um belo desfecho para quem fugiu do Irã em 2013, depois de ver vários de seus colegas de trabalho serem presos pela polícia local, e foi capturado pela marinha australiana quando o barco em que estava tentava chegar ao país.

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Embora os celulares ssejam proibidos para presos na ilha, muitos deles têm aparelhos obtidos ilegalmente. Boochani escreveu o livro pelo WhatsApp porque temia que, nas buscas feitas pelos guardas, seu aparelho fosse confiscado e, com ele, seu material fosse perdido.

Em geral, apenas cidadãos australianos ou residentes permanentes podem concorrer ao Victorian Prize for Literature, mas uma exceção foi feita à obra de Boochani porque os juízes a consideraram como uma história australiana.

Ciente de que não poderia participar da recepção de entrega do prêmio, o autor gravou uma mensagem para os presentes. “Acredito que a literatura tem o potencial de mudar e desafiar as estruturas de poder”, disse. “A literatura tem o poder de nos dar liberdade.”

A prisão da Ilha Manus foi fechada pelo governo australiano em 2017 e muitos detidos foram enviados para outras localidades, mas ainda há centenas no limbo — Boochani é um deles.

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital