GNU/Linux: um fim, um meio, um recomeço

Como a comunidade do Software Livre impacta (e quer impactar mais) na sociedade
Redação22/10/2018 20h59, atualizada em 22/10/2018 21h30

20160908105538

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Assim inauguro a minha primeira coluna no Olhar Digital. Foi com grande alegria que recebi a notícia de que seria um colunista deste espaço e essa felicidade se justifica pelo longo tempo que sou entusiasta e propagador das idéias em torno do Software Livre.

Por isso, a oportunidade de escrever sobre esse assunto, em uma coluna mensal, de um portal tão bacana é, além de uma grande honra, uma tremenda responsabilidade. Será um imenso prazer dividir os meus mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento de Software Livre, na esperança, claro, de atrair pessoas para uma troca produtiva de informações. Afinal, embora meus cabelos brancos, aprender com novas perspectivas sempre foi minha característica.

Como é uma coluna inaugural, antes de entrar de cabeça no assunto, acho justo contar um pouco sobre mim e o meu primeiro contato com o mundo do Software Livre.

O final da década de 80 foi quando tive contato com computadores de fato. Nessa época, o Brasil mantinha uma reserva de mercado e a tecnologia chegava por aqui com, pelo menos, 10 anos de atraso. Para os mais jovens isso deve soar surreal, mas era a realidade da década. Em 1987, os computadores pessoais disponíveis no mercado brasileiro eram equivalentes aos de 1977 nos EUA. O primeiro computador que tive acesso era similar ao Apple 2, fabricado e montado no Brasil por uma empresa chamada CCE.

Em 1990, ingressei em uma escola técnica (ETEP – São José dos Campos), o nome do curso era informática industrial e o conteúdo mesclava eletrônica analógica/digital e programação. Posso dizer que ali foi o início da minha carreira profissional. Em 1991, Linus Torvalds compartilhou o kernel do Linux com a comunidade combinado ao pacote GNU de Richard Stallman, que entre outras coisas, tinha o compilador C. Juntos formaram o “núcleo duro” que, hoje, chamamos de sistema operacional GNU/Linux ou, simplesmente, Linux.

No decorrer dos estudos, curso técnico e faculdade de engenharia, vimos recursos avançados de programação em C e até mesmo linguagem de máquina (Assembly). Em tese, o curso nos fornecia as bases para que pudéssemos desenvolver em qualquer tipo de software. Porém…

Havia uma coisa que me incomodava: um limite implícito, velado, quase um tabu.

Todo software roda a partir de um SO e, em algum nível, passa pelo compilador C. Sobre esses dois softwares, o SO e o compilador, muito pouco era falado ou estudado. Quando algum aluno mais curioso (que era o meu caso) queria se aprofundar nesses temas, era comum ouvir, dos colegas, coisas do tipo: Por que você quer mexer com isso? Vai reinventar a roda? É “padrão de mercado”. Eu me perguntava, será que só eu estou vendo o desfecho disso? Será que ninguém percebe que a pessoa, empresa ou país que controlar o SO vai ditar as regras no mundo do software?

Só fui conhecer o Linux em 1996 (Red Hat), durante o curso de Engenharia de Computação e, posteriormente, outras distribuições (Ubuntu, Debian, Slackware etc). Foi como “sair da caverna de Platão”: não havia licenças, restrições ou encargos, muito menos ‘ameaças’ (que irei tratar em um próximo artigo). Enfim, o que quero dizer é que me senti instigado a seguir para a toca do coelho. Por consequência, o contato com o Linux, o GNU e o conceito de Software Livre foi o momento em que, finalmente, encontrei a minha turma, o meu ambiente, com pessoas que, como eu, não se conformavam em trabalhar dentro daqueles limites.

Esses limites, até hoje, literalmente, compõem-se por meia dúzia de empresas, todas estadunidenses, controlando praticamente todo o mercado de software mundial. Exatamente como o cenário se revelou pra mim na década de 90 e que, em tempo, consegui me desprender e construir algo baseado num propósito de liberdade.

E, por falar em liberdade, a internet, navegadores, criptomoedas, streaming de mídia, torrent e tantas outras oportunidades, simplesmente, não existiriam ou seriam itens de luxo, se não fosse pela filosofia de compartilhar conhecimento, que é o alicerce do Software Livre, onde está erguido o Sistema Operacional GNU/Linux.

Agora que você já me conhece um pouco e sabe da minha relação com Software Livre, deixo o meu convite para que retorne e interaja com todos os temas que estou preparando. Aproveite para propagar o propósito do Software Livre e compartilhe este artigo.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital