Liderança feminina nas startups: por que é importante promover?

Atualmente, cerca de 30% dos negócios privados são comandados ou têm uma mulher como idealizadora do projeto
Liliane Nakagawa11/08/2020 16h01

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A igualdade entre os gêneros já está em debate há alguns anos. Porém, nós mulheres sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer para estarmos onde gostaríamos. Os homens ainda dominam com larga distância alguns mercados e setores, que é o caso da liderança das startups. Segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), dentre mais de 12 mil empreendimentos no país, somente 15,7% são liderados por mulheres.

Esta é a realidade de modelo de negócio tão disruptivo e que, teoricamente, deveria ser mais horizontal e dar espaço para qualquer grupo de pessoas com uma ideia de empresa que possa ser escalável, mas que passou a se comportar da mesma forma que as demais organizações tradicionais. O número reflete justamente a dificuldade deste inovador mercado profissional entender a capacidade do sexo feminino no gerenciamento de empresas.

Na maioria das vezes, para galgar seu lugar ao sol, uma mulher precisa vencer os preconceitos de que não tem conhecimento suficiente para tal cargo, os olhares de que deveria estar exercendo outras funções, driblar as ideias antiquadas de que a empresa vai ser prejudicada se ela tiver filhos, entre outras situações. Além disso, é importante destacar que a maioria das startups têm raízes na tecnologia, o que faz com que as mulheres estejam em desvantagens uma vez que representam apenas 18% dos graduados em ciência da computação, conforme dados do programa YouthSpark da Microsoft. Por estas e outras razões, o BrazilLAB, o primeiro hub de inovação sem fins lucrativos que conecta empreendedores ao setor público e conta com uma rede de investidores e parceiros, busca sempre realizar um recorte de gênero ao selecionar as startups para o programa de aceleração.

Lideranças femininas para se inspirar

Essa seleção plural do BrazilLAB alcançou a empreendedora Raquel Cardamone, CEO e Co-fundadora da Bright Cities. A ideia do projeto surgiu em 2018 quando ela ainda era pesquisadora na UNICAMP e se trata de uma ferramenta para diagnóstico de cidades inteligentes que consegue identificar oportunidades de melhorias, levantar tecnologias disponíveis e criar um roteiro de evolução para converter um município de qualquer

tamanho e nacionalidade em uma smart city. Outro exemplo é a Livia Cunha, CEO e fundadora da Cuco Health. A administradora é responsável pela parte estratégica e de negócios da empresa que já recebeu mais de 10

reconhecimentos e prêmios, entre eles uma das dez startups mais atraentes para o mercado sob o ponto de vista de investidores e clientes no movimento 100 Open Startups.

Além disso, ela também é uma das 30 pessoas com menos de 30 anos selecionada pela Forbes que se destacou em seu setor. Sua empresa disponibiliza aos pacientes em tratamentos médicos um aplicativo gratuito, que atua como uma espécie de enfermeira digital, e traz conteúdos para educá-los sobre suas condições crônicas, alertas para medicamentos e medições, entre outras funcionalidades.

No setor financeiro, uma das startups mais conhecidas e bem-sucedidas é o Nubank. O que pouca gente sabe é que ele foi co-fundado por uma mulher, Cristina Junqueira, que hoje atua como vice-presidente. Com MBA em Finanças e Marketing por uma das mais prestigiadas escolas de administração dos Estados Unidos, a Kellong School of Management, ela é a única sócia mulher e brasileira deste unicórnio. A Love Mondays, plataforma de avaliações de salários e ambientes de trabalho eleita como melhor startup da América Latina no Latin America Startup Challenge e na U-Start Conference, também tem uma mulher no comando. Luciana Caletti, empresária com

MBA pela Universidade de Oxford e atual CEO da empresa, ganhou o título de empreendedora do ano no Gala Latam Founders em 2017.

Quando o assunto é comércio eletrônico, Paula Gusmão é referência. Atualmente como CEO da eÓtica, maior e-commerce de óculos do país, ela já trabalhou no mercado financeiro, passou por grandes empresas como Netshoes e Grupo Pão de Açúcar, se tornou Diretora Online na Essilor Latam e não saiu mais de cargos de liderança. Por que é importante promover a liderança feminina? Estes nomes e tantos outros que poderiam ser citados como exemplos só aconteceram porque houve apoio e reconhecimento da capacidade de cada uma delas. No entanto, a falta de incentivo e referência pode minar a confiança de muitas boas profissionais e, assim, desestimulá-las a buscar os cargos que merecem. Há diversas lideranças femininas nas mais diferentes áreas que só precisam da combinação entre referência positiva, incentivos e oportunidades para que possam florescer e prosperar.

Além disso, o relatório Women in Business and Management: The Business Case for Change, divulgado recentemente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão pertencente à ONU, aponta que quanto maior o número de mulheres, sobretudo em cargos de liderança, melhores serão os resultados de uma organização.

Como disse Michelle Obama, “A cada porta que se abriu para mim, procurei abrir a minha para os outros”. Assim acontece comigo! Muitas portas se abriram para mim até chegar aqui e por estar à frente do BrazilLAB, tenho mais razões para acelerar startups com lideranças femininas. Quanto mais mulheres no poder, mais mulheres poderão liderar!

Liliane Nakagawa é editor(a) no Olhar Digital